A responsabilidade da direção do PT e da CUT pela atual situação

Não há nenhuma possibilidade de derrotar a política de austeridade “negociando” esta política. Ela tem que ser enfrentada mobilizando nas ruas, nas fábricas e locais de trabalho. Nada se pode esperar deste governo ou congresso nacional. Após as manifestações, Dilma foi ainda mais à direita, assim como o PT. Só as forças da própria classe trabalhadora podem barrar os ataques.

A comparação é inevitável: em 15 de março, muito mais gente foi pra rua que no dia 13 de março.

Dirigentes sindicais xingam a direita e a “classe média”. Assustam-se, perguntam o que deu errado. Afinal, se muitos respiram aliviados quando veem a Folha de São Paulo publicar os seus números (210 mil nas ruas de SP) que são bem menores que o falado “1 milhão” solto pela PM, a verdade é que este número é cinco vezes maior que o dado pelo mesmo instituto (Datafolha) no dia 13 – 41 mil pessoas.

Se olharmos bem, o que tem de errado é que a direção da CUT e do PT fez o possível para esvaziar os atos do dia 13, dando a eles um caráter puramente governista (“defesa da Petrobras”, no vazio, sem explicar que a principal ameaça à Petrobras, hoje, é o governo Dilma que vende os ativos da empresa para pagar os empréstimos externos; defesa da reforma política que não vai resolver nada na vida do povo; esquecimento da luta contra as MPs 664 e 665 que atacam a previdência social e o seguro desemprego, etc.).

O resultado concreto é que a maioria dos trabalhadores, a maioria da juventude, não aderiu aos atos. A Folha de São Paulo publicou no dia 17/03 uma pesquisa mostrando porque os manifestantes foram ao ato do dia 13 ou ao do dia 15:

Apesar da CUT ter “esquecido” a luta contra as MPs, um quarto do ato do dia 13 foi exatamente lutar contra esta perda. Não por acaso, também um quarto do ato tem uma avaliação “ruim ou péssima” sobre o governo Dilma. Também 22% dos presentes foram para lutar pelo aumento salarial dos professores do estado de SP.

A pesquisa mostra também que a hora e dia escolhidos atrapalhou o ato. A maioria dos presentes era de servidores públicos, que têm mais facilidade de “escapar” do trabalho. E a maioria simpatizava com o PT e voltou em Dilma no segundo turno.

Todo o contrário da manifestação do dia 15, no qual a maioria votou em Aécio e também a pirâmide de renda está invertida nos dois atos.

Nos jornais e na TV, no dia a dia, os trabalhadores e os jovens veem o resultado da política de Dilma que é a aplicação exata do receituário de ajuste fiscal preconizado pelo FMI, que Lula disse que foi embora há muito tempo:

  • Aumento das tarifas públicas para “sustentar” o déficit e os empréstimos das empresas de energia. Neste caso, o aumento chega a 40% e, em alguns casos, a 50%!

  • Cortes nos financiamentos estudantis, que atingem principalmente os mais pobres.

  • Cortes nos orçamentos de universidades e escolas federais, que têm dificuldades para começar a funcionar por falta de serviços de limpeza!

  • Cortes no financiamento das casas populares;

  • Cortes nos programas e direitos sociais – previdência social, seguro desemprego, seguro defeso, salários, contribuição, etc.

O PT se reuniu e sustentou a política de ajuste anunciada pela Presidente. A CUT se reuniu, criticou, criticou, decidiu chamar um ato contra e depois durante a preparação, virou um ato “em defesa da democracia e da Petrobras”. E, embora uma parte da militância tenha ido, faltou a empolgação e principalmente a crítica ao governo que poderia atrair a juventude.

As faixas contra o corte no FIES (Financiamento estudantil) apareceram… nos atos do dia 15, da direita! Realmente! E se PSOL e PSTU pudessem ter contribuído caso tivessem também chamado o dia 13, a verdade é que não teria mudado muito. O caráter do ato não empolgou e não podia empolgar!

Em uma declaração na reunião da Direção Nacional da CUT, a Corrente Sindical da Esquerda Marxista explicava:

(https://www.marxismo.org.br/content/dn-cut-o-caminho-deve-ser-de-independencia-e-luta)

A CUT precisa romper com a política de colaboração de classes, de respeito ao capital, aos capitalistas e suas instituições. A política de maquiar o monstro é tão inútil quanto tentar ensinar um tigre a comer alface. Ela só serve para paralisar e desarmar a classe trabalhadora e sua disposição de luta.

A luz vai aumentar 40%. Gasolina e óleo diesel aumentaram. Governos estaduais deixam professores e outros servidores sem salário. Falta água. O preço da comida aumenta. O emprego cai. O PAC é paralisado. As MPs 664 e 665 atacam direitos dos trabalhadores. Os juros aumentam. Cortes nas bolsas e financiamentos estudantis.

A CUT não pode confundir sua política com a política do governo e não pode defender a política do governo sob pena de também ser destruída, como lamentavelmente o PT está sendo.

A CUT não pode combater de verdade a corrupção na Petrobras e defende-la dos abutres que desejam desmoralizá-la para esquartejar este gigante entregando-a nas mãos sangrentas das multinacionais, defendendo o governo e fazendo coro com a ridícula desculpa de que “a corrupção vem desde o governo FHC”. Isso nada resolve, exceto ampliar o leque dos corruptos.

Só a greve geral de todos os petroleiros, apoiada pela CUT, a ocupação e controle da Petrobras, a abertura de seus livros contábeis, pelos trabalhadores pode resolver a corrupção e punir os envolvidos.

Declarar-se contra as MPs e travar a batalha no tapetão ou “negociá-las” é jogar para a plateia, sabendo que a luta está perdida. Só a verdadeira mobilização pela base, a organização dos trabalhadores, pode romper a defesa inimiga e derrotar estas MPs e toda a política de austeridade.

A crise econômica internacional continua e a única política dos governos para salvar o capitalismo é a política de austeridade. Mas, a resistência das massas é notável e cedo ou tarde ela explode nas ruas.

E quando as direções sindicais e políticas de esquerda se aferram aos governantes e ao capitalismo essa resistência das massas rompe os diques tradicionais e traça um outro curso para o rio impetuoso da luta de classes. Então tudo que estava parado se move e tudo que é sólido se desmancha no ar!

Estamos vendo a magnífica greve dos professores no Paraná. A greve dos professores de SP se preparara. Vimos a maravilhosa greve dos metalúrgicos do ABC, que recusaram os acordos da direção do sindicato com as montadoras, que recusaram continuar sendo tratados como bagaço enquanto a direção do sindicato continua buscando junto com seus patrões o inexistente “interesse comum”.

Nos últimos dois anos temos visto greves como as dos garis do RJ, dos motoristas de SP, dos metroviários de SP e muitas outras, que mostram que há uma disposição de luta junto, com ou sem, e mesmo contra as direções sindicais.

Foi um movimento assim que começou a varrer os pelegos em 1978, 79, 80. Foi ele que fundou a CUT em 1983.

Na situação atual a responsabilidade da direção da CUT, e de todos os sindicatos, é total. Não há outra saída, para ser fiel a classe trabalhadora, que retomar o programa fundamental que deu nascimento e sentido à CUT: A luta pela unidade dos trabalhadores no combate pelas reivindicações e pelo socialismo. (Esquerda Marxista, 03/03/2015)

Mas a CUT não seguiu este caminho e o PT continua se aferrando à sua política de defesa do capitalismo. Deu no que deu.

O governo Dilma já fracassou antes de começar. Por outro lado, o jornal O Globo, que segue atacando o PT e tentando criminalizá-lo de todas as formas, passa a fazer um apoio “crítico” a Dilma (O Globo, 17.03.15, pag. 3):

O PT segue acelerado no rumo do PASOK, o partido socialista grego varrido do governo pelas massas, e a esta altura vai encontrar poucos defensores entre a classe que pretendia representar. Já a CUT pode continuar a ser uma Central Sindical que represente os trabalhadores. Mas, isto não é automático e o combate nas greves que seguem, o combate para o próximo congresso da CUT é que vai mostrar o que vai se passar com a atual direção da CUT. Uma saída positiva passa pela derrota da política de colaboração de classes, de tripartismo e governismo da direção da CUT.

Na eleição de delegados ao Congresso da CUT, a pressão das bases pode e deve se expressar elegendo delegações contra a política de adaptação da direção Cutista que só pode provocar derrotas.

Não há nenhuma possibilidade de derrotar a política de austeridade “negociando” esta política. Ela tem que ser enfrentada mobilizando nas ruas, nas fábricas e locais de trabalho. Nada se pode esperar deste governo ou Congresso Nacional. Após as manifestações, Dilma foi ainda mais à direita, assim como o PT. Só as forças da própria classe trabalhadora podem barrar os ataques.

Se a direção da CUT continua com sua atual política, ela também será confrontada e derrotada no próximo período. O fracasso do PT e seu abandono pela classe trabalhadora mais consciente é muito evidente. Essa é a batalha aberta na luta de classes.