Aonde vai o Brasil

A situação atual no Brasil está marcada pelo agravamento da crise econômica e por um clima de polarização entre as classes. Isto provoca uma constante modificação da situação política com viradas bruscas que se podem classificar como choques entre revolução e contrarrevolução.

1.      A situação atual no Brasil está marcada pelo agravamento da crise econômica e por um clima de polarização entre as classes. Isto provoca uma constante modificação da situação política com viradas bruscas que se podem classificar como choques entre revolução e contrarrevolução.

2.      As ondas da crise econômica mundial do capitalismo vieram avançando lentamente desde 2008 e agora atingem em cheio o Brasil. A política econômica desenvolvida na última década pelo governo do PT em colaboração de classes com a burguesia consistiu em desenvolver ao máximo a política do “mercado” e de “quanto mais capitalismo melhor”, através da inflação de crédito e endividamento. Junto com isso aprofundou a economia exportadora de produtos agrominerais, cuja alma é o PAC e a tomada do campo brasileiro pelo capital internacional, o agronegócio.

3.      Após uma eleição difícil o governo Dilma comete “estelionato eleitoral” ao nomear um ministério comprometido com os planos de seu adversário derrotado e composto por dirigentes dos bancos, agronegócios e industriais, e adotar todas as medidas que acusava o adversário de adotar caso vencesse, etc. O ministro da Fazenda, diretor do Bradesco (banco privado) foi um dos que escreveu o programa econômico de Aécio, candidato do PSDB, derrotado.

4.      Sua política é de austeridade aumentando os juros, pagando a Dívida Interna e Externa, cortando verbas para a saúde, educação, programas sociais e atacando as conquistas sociais e trabalhistas.

5.      O projeto de lei 4330 (que transforma a atual relação de emprego entre trabalhadores e patrões em uma relação individual entre empresas jurídicas), aprovada pelo Congresso Nacional, desmonta as leis trabalhistas, amplia as terceirizações, representa o mais duro ataque contra a classe trabalhadora em muitos anos e foi acordado com o governo.

Uma guerra contra o proletariado

6.      A polarização surgida durante o período eleitoral de 2014 evidenciou o profundo antagonismo entre a burguesia e proletariado, que vem determinando a guerra que os capitalistas movem para deter a luta da classe trabalhadora. Entretanto, entre “os de cima” não há consenso do que fazer para levar adiante essa guerra contra o proletariado.

7.      A oposição de direita oficial, PSDB, DEM, etc., já constatou que o PT não serve mais aos interesses do capital porque já não controla as massas como antes (após 2013 isso ficou claro) e estão decididos a retomar eles próprios o controle do aparato de Estado.

8.      Estas seitas de direita, o PSDB, DEM e outros, aliados à grande mídia, as organizações Globo, revista Veja e outras, os jornais Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, buscam cada vez mais acuar o governo e o PT, desmoralizá-los e derrota-los nas próximas eleições. Mas de forma alguma, derrubá-lo agora.

9.      Os setores dominantes da direita percebem que poderiam desencadear algo que não poderão controlar. As ameaças de magnicídio, feitas pelo deputado Bolsonaro prometendo fuzilar Dilma, bonecos de Lula e Dilma sendo enforcados em público, os ataques às sedes do PT com bombas, etc., não representam o pensamento da grande burguesia e do imperialismo, que temem soltar monstros que poderiam devorá-la.

10.  A burguesia mais lúcida sabe que na atual relação de forças esse tipo de aventura poderia conduzir à uma resistência enorme do proletariado e à guerra civil. Historicamente a burguesia só escolhe este caminho se ela não tem mais nenhum outro para avançar. Então, ela se mostra com tudo o que ela é, uma máquina de massacre, sangue e morte, disposta a tudo para manter seus privilégios de classe.

11.  E a situação ficou ainda mais complexa para a burguesia opositora quando explodiram as denúncias de corrupção também na direção dos dirigentes do PSDB (Furnas, Metro, HSBC, Petrobras, etc.).

12.  A linha política atual dos setores dominantes da burguesia opositora é sangrar o governo Dilma e o PT, obriga-los a aplicar toda a linha da austeridade, o que terminará por desmoralizar completamente o governo e o partido, preparando com isso a vitória da oposição de direita nas eleições de 2018.

A crescente criminalização e a capitulação do PT

13.  Um elemento importante desta linha política da oposição de direita é a agitação crescente da “luta contra a corrupção” do governo e do PT, que tem o objetivo não só de desmoralizar eleitoralmente o PT, mas de criminaliza-lo e destruí-lo como partido. E assim poder atingir todo o movimento operário e suas organizações.

14.  As denúncias de corrupção na Petrobras atingem todos os partidos burgueses, o PT e o PCdoB. Entretanto, apenas o tesoureiro do PT é preso “preventivamente”. O objetivo é atacar o PT para atacar todas as organizações da classe trabalhadora. É uma guerra de classes.

15.  Aécio Neves, do PSDB, apresentou Projeto de lei no Senado em que partidos cujos dirigentes tenham sido condenados por corrupção terão seus direitos cassados e será proscrito. É obviamente a preparação de uma espada para cortar a cabeça do PT.

16.  De nosso ponto de vista os métodos e a política utilizados pelos dirigentes do PT sempre foram e são condenáveis desde um ponto de vista proletário e socialista. A Esquerda Marxista condena não só os métodos de financiamento eleitoral que estes dirigentes tomaram emprestados dos partidos burgueses.

17.  Condenamos veementemente o enriquecimento pessoal destes dirigentes que se utilizam do prestígio e influência que conquistaram como dirigentes do partido e de sindicatos, portando das lutas coletivas, do esforço de milhares de militantes, de conquistas da classe trabalhadora, para vender e traficar influência com a fachada legal de “Assessorias” e “Consultorias” milionárias para empresas capitalistas.

18.  Entretanto, a condenação mais veemente que fazemos de seus métodos não nos deixa cegos para o significado dos ataques de criminalização destes dirigentes pelo aparelho judiciário burguês no Brasil.

19.  Por isso, a Esquerda Marxista, não cai na arapuca da “legalidade” e da “justiça” burguesa e afasta a poeira dos olhos dos trabalhadores e da juventude explicando que estes processos e denúncias de corrupção contra o PT tem o objetivo de criminalizar todo o movimento operário. A justiça burguesa não é um instrumento neutro, mas um instrumento da classe burguesa para manter subjugada a classe trabalhadora.

20.  Os dirigentes do PT já mostraram que são incapazes de defender seu próprio governo, seu próprio partido e seus próprios dirigentes. Sua política, sua crença no capitalismo e nas instituições burguesas bastardas existentes, sua descrença na capacidade de luta da classe trabalhadora e no socialismo, os condena a desmoralização, a mais condenações judiciais e ao desaparecimento político do próprio PT num futuro próximo.

Fascistas e base social

21.  A maior parte da burguesia já se sabe como está atuando e que objetivos têm. Mas, como fruto da decomposição deste sistema social historicamente condenado, como fruto das divisões entre a classe dominante e como fruto da desmoralização dos dirigentes históricos da classe trabalhadora, diferentes setores decompostos surgem e se manifestam como pústulas que surgem em um corpo muito enfermo ou moribundo. Estes setores, de fato, fazem muito mais barulho, alavancados pela mídia burguesa mais reacionária, do que expressa sua força real entre a população, que é muito pouca.

22.  As manifestações dos grupos de extrema-direita fascistas apareceram nas jornadas de junho de 2013 tentando explorar as desilusões da juventude com os partidos. Eles buscavam desencadear um ódio contra os trabalhadores e as suas organizações, mesmo as mais moderadas, atacando a esquerda, o socialismo, o comunismo, com uma raiva não vista há tempos nas ruas.

23.  Mas, apesar do apoio da mídia que naquele momento tentava manipular as manifestações, estes só grupos só tiveram algum sucesso quando fortemente apoiados pelo esquema militar das PMs e seus infiltrados, os P2. Estes grupelhos atraíam pequenos setores ensandecidos da pequena burguesia e de forma alguma atraíram massas pequeno-burguesas para seus objetivos de guerra civil. Eles não têm base social nem militantes suficientes e nem treinamento militante para se lançar a combates abertos contra as organizações dos trabalhadores. O que podem fazer é, apoiados no clima de insatisfação geral contra o governo e o sistema, fazer agitações descabidas e barulhentas apenas quando amplificados pela imprensa burguesa.

24.  Sua inconsistência e divisão apareceu em 2015 muito rapidamente logo após as manifestações de março. São incapazes de uma real oposição e não contam com instrumentos políticos para isso, como partidos fascistas ou fascistizantes. Os partidos burgueses atuais não servem para este tipo de política que inclui mobilização e combates onde, ao final, todos jogam o pescoço. 

25.  Depois da derrota eleitoral de Aécio Neves com uma apertada e polarizada disputa presidencial, começaram a surgir “grupos” de extrema direita financiados por empresários, inclusive alguns com conexões internacionais. Sob a máscara de serem movimentos “sem partido”, tentam agitar o impeachment de Dilma ou a volta da ditadura militar. Com a cumplicidade da grande mídia, em especial da Rede Globo e com o apoio discreto dos partidos da direita, que pretendiam usá-los como espantalho e ameaça para empurrar Dilma mais à direita e sangrar o PT e o governo, esses grupos “apartidários” realizaram a manifestação de 15 de março.

26.  Ali o tom amplamente repercutido foi o de um brutal ataque contra as liberdades democráticas, fazendo subir à superfície todo o esgoto resultante da escória de um pequeno setor de pequeno-burgueses enfurecidos.

27.  Mas, este é um movimento limitado no tempo e no espaço. Não existe um partido fascista de massas no Brasil como havia na Alemanha e Itália, nos anos 20-30 do século passado, e que no contexto de crise do capitalismo agruparam o lumpemproletariado e os pequeno-burgueses enfurecidos com o “caos” social, o desemprego e a falta de perspectivas.

28.  Estes partidos utilizavam como tropa de choque o “lumpemproletariado” para atacar fisicamente as organizações proletárias. Esses partidos fascistas tomaram de assalto o poder após combates e, portanto, treinamento que duraram anos. E tinham uma base social que lhes permitiu, em aliança com o capital financeiro, esmagar as organizações operárias e tomar o poder.

29.  Sua base social na pequena-burguesia daqueles anos eram os professores, funcionários públicos, bancários, camponeses arruinados, etc. Esta base social para o fascismo evaporou com o desenvolvimento do imperialismo e a proletarização de todos estes setores sociais. Hoje, em todo o mundo estes setores sociais fazem parte dos batalhões de combate da classe trabalhadora, como vemos hoje no Brasil com as greves de professores, as grandes greves organizadas dos bancários, com o MST e sua base social, os servidores públicos estão nas frentes de combate contra a reação em todos os lugares através de seus sindicatos, e assim por diante.

30.  O que vemos agora no Brasil é exatamente o oposto dos anos 20 e 30 do século 20 em relação às possibilidades do fascismo. Foi por isso que o imperialismo usou os exércitos e Guardas Nacionais para os golpes militares dos anos 50, 60 e 70 nas Américas. Não tinham outro instrumento. E as comadres católicas que marcharam por “Deus, Família e Propriedade” nas ruas de SP, em 1964, só o fizeram, prudentemente, depois que os tanques dominavam a situação.

31.  Embora tentem “copiar” o velho fascismo do passado estes grupelhos de hoje carecem de uma base social real, de liderança consistente, de estrutura política firme, e estão em intensa disputa e rivalidade entre si. Movimentos articulados nas redes sociais jamais substituirão a construção de organizações políticas reais. Elas podem no máximo ajudar nisso.

32.  Estes movimentos de extrema-direita são atomizados e órfãos dos principais partidos da burguesia, que embora tenham usado momentaneamente  essa extrema-direita para seus objetivos de empurrar o governo ainda mais à direita, prontamente se diferenciaram deles quando a situação ameaçava chegar à uma polarização de classes nas ruas entre esta escória e as grandes organizações dos trabalhadores, como a CUT, o MST, MTST e os partidos de esquerda, PT, PCdoB, PSOL, PSTu, PCB, etc., situação que sairia totalmente do controle e arriscava a guerra civil.

Pretende ou é capaz a burguesia de dar um golpe hoje?

33.  Os reformistas e os centristas de todo tipo falam em “onda conservadora” acusando as massas de estarem indo para a direita. Põe a culpa nas massas do fracasso de sua própria política. O avanço dos reacionários no Congresso é resultado direto desta política de colaboração de classes e defesa do capitalismo, de traição das esperanças das massas, praticada pelo PT e PCdoB e seus governos com a burguesia. Inventam o fantasma de um golpe e culpam as massas pela situação quando sua capitulação diante da burguesia é que preparou esta situação.

34.  O que estamos assistindo, hoje, é exatamente o contrário: uma formidável capacidade de resistência e mobilização dos trabalhadores que só não vão mais longe por culpa das direções reformistas, o PT, o PC do B, a Articulação Sindical (grupo de Lula) que controla a direção da CUT (com a cobertura dos centristas AE (cisão do grupo de Lula com orientação pró-china), DS (ex-mandelistas), OT (Lambertistas) e dos esquerdistas que praticam o esporte de cindir o movimento sindical), que fazem de tudo para bloquear o movimento espontâneo dos trabalhadores. Está aí o nó górdio que trava o avanço da mobilização da classe trabalhadora e não um pretenso “ascenso” da direita ou do fascismo.

35.  Não se trata de ignorar a extrema direita ou os grupos fascistas, mas de lhes dar o peso exato e insignificante que tem hoje. De medi-los corretamente e estar prontos para defender o movimento operário. De ter uma política correta de autodefesa das organizações de juventude e operárias. Mas, de forma alguma, seria criminoso, conceder-lhe a importância e o peso que ele não tem e dificilmente pode conquistar hoje em dia. O espantalho de um suposto “golpe” em andamento ou sendo tramado “pela direita” não é mais que isso, um espantalho para lançar uma cortina de fumaça sobre a política reacionária levada a cabo pelo governo e apoiada pelo PT, assim como tentar proteger-se de uma fragmentação e abandono por suas bases sociais históricas.

36.  Hoje, as principais ameaças ao movimento operário vêm diretamente do aparato de Estado, Judiciário, Executivo e Congresso, que cada vez mais, frente ao aprofundamento desta extraordinária crise do capital, caminham em direção ao totalitarismo. A criminalização do movimento operário e suas organizações pelos instrumentos de Estado da burguesia é um perigo mil vezes maior e relevante que qualquer ameaça destes grupelhos fascistas ou que clamam por golpes militares.

37.  E este avanço totalitário que não pode se permitir nenhuma democracia real, exceto sua forma farsesca de realização de eleições fraudadas de tempos em tempos e funcionamento caricatural das instituições ditas democráticas, este avanço é permitido e azeitado pela política de colaboração de classe das direções majoritárias que controlam as organizações de massa da classe. Pelo freio que elas representam e pela manipulação que tentam permanentemente fazer com as aspirações e necessidades da classe.

Frente Única e Frente de Esquerda

38.  A questão central da atual situação é a luta pela Frente Única dos trabalhadores e suas organizações contra a política de austeridade, a repressão e a criminalização do movimento dos trabalhadores e da juventude.

39.  Uma das mais altas expressões políticas da luta dos marxistas pela Frente Única é neste momento seu combate pela Frente da Esquerda Unida, que coloca a questão da unidade no terreno programático indo muito além das reivindicações e da defesa de conquistas e direitos, e que de forma alguma é uma reunião de aparatos, grandes ou pequenos.

40.  É neste terreno que se surgirão novas direções para o movimento operário e se desenvolverão os combates pela retomada, ou construção de novas organizações.

41.  É só neste terreno que é possível construir a organização marxista revolucionária de que tem necessidade o proletariado para derrotar definitivamente a classe social parasitária que esmaga a humanidade e impede todo verdadeiro progresso social. Este é o terreno de construção da Esquerda Marxista.

O movimento operário e as greves de massas

42.  Desde a virada da situação política ocorrida com as jornadas de junho de 2013 a classe trabalhadora, espontaneamente, vem recorrendo às greves de massas, utilizando seus próprios métodos de luta de classe, atropelando pelegos, transbordando os limites sindicais e pondo em movimento amplos setores das categorias antes apáticos ou apoiadores silenciosos das ações sindicais.

43.  Alguns exemplos mostram a força deste movimento. No Paraná, uma greve de massas de professores é deflagrada no início de fevereiro e contagia outras categorias do funcionalismo público estadual. Em 10 de fevereiro eles ocupam a Assembleia Legislativa do Paraná. A Polícia Militar não foi capaz de repelir o movimento e o governo de Beto Richa, do PSDB, é obrigado a retirar o projeto da votação.

44.  Em janeiro, em São Bernardo do Campo, São Paulo, a Volkswagen rompeu os acordos com o sindicato e anunciou a demissão de 800 funcionários. No dia 14 estourou a greve atingindo os três turnos da empresa, com a paralisação de toda a produção envolvendo os 13 mil funcionários. Só funcionou precariamente o setor administrativo. Os operários da Volks enfrentaram a patronal durante 11 dias e não arredaram o pé. Não só fizeram greve como foram para a rua se manifestar fechando a via Anchieta. A Volks foi obrigada a recuar e cancelou as 800 demissões.

45.  A estes movimentos se soma a greve dos professores do Estado de São Paulo, realizando mobilizações da categoria como não se via há muito tempo. Estas greves de professores hoje se estendem por 14 estados.

46.  Todos esses movimentos dão sequência às expressivas greves ocorridas no primeiro semestre de 2014, como a dos garis do Rio de Janeiro, de rodoviários, metroviários de SP, bancários, funcionários públicos, etc., com muitas delas passando por cima das direções sindicais e ganhando um caráter de massas.

47.  Estas greves expressam no terreno sindical a polarização e a luta entre as classes na situação atual. Estas greves de massas, assim diversas e numerosas, transbordando as direções sindicais, são muito semelhantes ao movimento que se desenvolveu no final dos anos 70 e início dos 80, dando surgimento ao PT e à CUT, enterrando a ditadura militar.

48.  O que está em jogo é um crescente antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Entre as massas cresce um descrédito enorme e mesmo um ódio contra “tudo o que está aí”, ou seja, as instituições do capital, seus partidos e aqueles que os servem. O Brasil caminha, a passos largos, para uma situação onde o grito de “Que se vaiam todos” (Fora com todos) vai chegar massivamente às ruas e daí não vai sair enquanto não fizer saltar tudo, instituições e seus partidos e defensores. Será uma questão de sobrevivência social, política e cultural para as massas. 

Os comandos de greve, os sindicatos e os marxistas

49.  Na época de decadência do capitalismo os sindicatos estão confrontados a um dilema: ou se integram na ordem capitalista ou se querem sobreviver necessitam de uma direção revolucionária. Não é possível existir “sindicatos neutros”. O conservadorismo dos dirigentes sindicais tira sua força e sua base social da “integração” dos sindicatos dentro do capitalismo. Essa é a essência da política de colaboração de classes praticada pelos dirigentes sindicais para impedir que a luta dos trabalhadores ultrapasse os limites da ordem capitalista.

50.  A democracia e a independência dos sindicatos só são possíveis mediante a luta por uma direção revolucionária capaz de garantir essa “frente única elementar” da classe trabalhadora para lutar por suas reivindicações. Esse é a tarefa dos marxistas nos sindicatos onde ao mesmo tempo que lutam pela unidade do movimento sindical – combatendo a divisão do movimento sindical preconizada pelos esquerdistas e sectários – lutam intransigentemente por construir uma direção revolucionária combatendo a política de colaboração de classes e defendendo as reivindicações, apontando a saída política, a luta contra o capital e pelo socialismo.

O esgotamento do reformismo e da colaboração de classe

51.  O PT nasceu como partido operário independente tendo como base na independência de classe e com um programa socialista inacabado, e mesmo que confuso, que se declarava instrumento de luta pela emancipação da classe trabalhadora. Em 1985, o PT adota o “programa democrático-popular”, de etapa capitalista democrática, por pressão da ala reformista que tomou o partido, e aí começa a degeneração do partido. E que, em 1991, vai apoiar a guerra contra a Iugoslávia “desde que aprovada pela ONU” e depois, em 1992, após tentar impedir o surgimento do movimento Fora Collor, vai dar posse a Itamar, quando todas as condições estavam dadas, com as massas nas ruas e a burguesia e a cúpula militar em pânico, para Lula ser em 30 dias presidente do Brasil.

52.  Ao chegar ao governo federal com a eleição de Lula o PT dá mais um salto na sua degeneração. Antes da posse Lula vai aos EUA reunir-se com Bush e em seguida nomeia Meireles, o presidente do Bank of Boston como presidente do Banco Central do Brasil.

53.  A política econômica exportadora e as “bolhas de crédito” criaram uma falsa expansão econômica que sustentou o pacto de colaboração de classes do governo do PT. Mas, a crise econômica acabou com isso.

54.  Nas eleições de 2014 a classe trabalhadora deu uma última advertência ao PT. Com a perda de controle das massas pelo PT as alianças com os partidos da burguesia estão desabando. E quem abandona o barco é a própria burguesia. Aplicando uma política de austeridade o governo e o PT serão liquidados.  

A perspectiva de “abolição da ordem existente”

55.  A lei do desenvolvimento desigual e combinado implica que, em países com desenvolvimento retardatário, a luta pelo poder exige um programa que combina a luta anticapitalista e anti-imperialista. A situação de dominação imperialista do país e a incapacidade da burguesia nativa em edificar verdadeiras instituições da democracia burguesa, mas apenas suas cópias bastardas, as questões da democracia precisam sempre ser levadas até o fim, pelo proletariado, até o seu esgotamento, até não restar mais uma gota de ilusão das massas na democracia burguesa. É a luta de massas que cria essas condições.

56.  Hoje, não há como deixar de ver que o apodrecimento social do capitalismo no Brasil levou à uma situação em que as massas, ao mesmo tempo em que não vêm outra saída, outras instituições para substituir as velhas, cada dia acreditam menos “em tudo que aí está”. Assim, se combina uma situação em que a luta pelas liberdades democráticas se combina cada vez mais com a luta e defesa das reivindicações, mas que em qualquer caso são tarefas que em última instância só podem ser resolvidas pela tomada do poder pelo proletariado e a construção de novas instituições realmente populares e democráticas e que em sua forma mais elevada só pode tomar a forma da Comuna de Paris, da República dos Conselhos de 1917.

57.  A luta pela democracia só tem sentido se significa avançar na luta pela revolução social.

58.  É neste processo que as massas vão apreendendo que só elas podem resolver seus próprios problemas, que suas organizações têm que ser inteiramente independentes da burguesia, e que elas precisam elas mesmas controlar as suas organizações, elas mesmas tomarem as decisões que dizem respeito de seu próprio futuro. Este é o sentido da política e de Frente única e sua mais alta expressão, os Sovietes, os Conselhos, as Assembleias Populares, qualquer que seja o nome que tenham.

59.  Hoje, mais do que nunca grande parte do esforço dos marxistas deve ser explicar isso aos trabalhadores e à juventude, ajudar as massas a se colocar em movimento, a infundir confiança e firmeza neste movimento, convencer as massas de que só elas tomando as rédeas de sua vida e de seus movimentos poderão resolver tudo que as angustiam.

60.  E isso exige unidade e democracia no movimento, exige formas de luta que permitam realizar esta unidade, combater a fragmentação das organizações, e onde através da livre e respeitosa, democrática discussão, as decisões de luta possam ser adotadas. Isso, mais ainda é necessário para varrer as atuais instituições podres (“Que se vaiam todos”) e erguer verdadeiras representações das massas em luta contra o capital e seu Comitê Central de negócios, o Estado burguês.

61.  Nesta perspectiva a luta por um governo dos trabalhadores, um governo operário e camponês, como descrito por Lenin, é uma alavanca de transição para a ruptura com o capitalismo e com o imperialismo, uma perspectiva que se apoiando nas mobilizações das massas impulsiona o movimento a frente. Mas, a fórmula de um governo revolucionário de transição deve ser completada por palavras de ordem que as massas possam assimilar e que apontem na direção da abolição da ordem existente e da constituição de suas próprias instituições.

62.  Essa palavra de ordem transitória deve abrir a perspectiva de impugnar as instituições do Estado capitalista: o Congresso Nacional, o Senado, o Judiciário, o Executivo, todos os poderes da burguesia. O movimento pelas reivindicações e as reivindicações em movimento devem desembocar na luta pela “abolição da ordem existente”, conforme Marx e Engels afirmaram tão claramente no Manifesto Comunista.

63.  A perspectiva deve apontar para a impugnação da ordem existente opondo à atual desmoralizada “Nova República” uma nova “República de plebeus”, uma República dos Trabalhadores apoiada nas amplas massas oprimidas e exploradas. Um República onde segundo as palavras de Lênin, uma cozinheira pode cuidar dos assuntos do Estado.

64.  Cabe aos marxistas revolucionário preparar as condições políticas subjetivas para que a luta pelo poder, a partir da própria experiência das massas e utilizando os métodos próprios de luta do proletariado, consiga impor seu próprio poder contra o capital e suas instituições e partidos. Não há como prever que forma tomarão estas organizações ou instituições verdadeiramente populares.

65.  O movimento operário pode mesmo saltar etapas e por si só, espontaneamente, encontrar formas originais de poder e de representação popular deixando no lixo da história as atuais formas da democracia burguesa. Tudo vai depender da experiência das massas e do desenvolvimento concreto da luta de classes. Em 1917, Lenin, em determinado momento pensou que o poder podia ser tomado pelo congresso das Comissões de Fábrica.

66.  Em qualquer situação, a orientação marxista em perspectiva sempre é a luta pela derrocada do Estado burguês e a constituição de organizações do tipo da República dos Conselhos. Em determinado momento da luta será preciso dar uma expressão concreta à forma destas organizações, ajudando as massas a erigi-las, mas isto surgirá das necessidades reais do movimento e das possibilidades de avançarmos fórmulas concretas de realização superior da Frente Única das massas capazes de serem compreendidas e agarradas pela juventude e pelos trabalhadores.

67.  Essa é a grande experiência da história do movimento operário internacional. Os Conselhos (sovietes) criados na Comuna de Paris de 1871, nas Revoluções russa de 1905 e 1917, na Revolução Alemã de 1918-19 e em quase todos grandes acontecimentos da luta de classes no século XX, mostraram a tendência histórica do movimento operário a se organizar em Assembleias, Comitês, Conselhos com corpos de delegados eleitos e revogáveis.

68.  Essa também é a experiência da classe trabalhadora latino-americana como mostraram as Assembleias Populares na Bolívia, as Assembleias Populares e especialmente os “Cordões industriais” no Chile, Assembleias Populares no Peru, em Oaxaca no México, etc.

69.  É com esta orientação que os marxistas enfrentam a situação atual, defendendo cada palmo conquistado e preparando a revolução socialista através da construção da organização revolucionária marxista internacional, a Esquerda Marxista e a CMI.

70.  É com esta perspectiva que a Esquerda Marxista reafirma:

a)      A continuidade da campanha “Público e Gratuito para Todos”

b)      A organização do 2º Acampamento Revolucionário da juventude, em janeiro de 2015, na Flaskô, em SP.

c)      O combate pela Frente Única em todos os terrenos contra as políticas de austeridade, em defesa das conquistas e reivindicações da classe trabalhadora e da juventude.

d)      Reafirma o objetivo de conquistar 2 mil assinaturas de militantes e quadros no Manifesto por uma Frente da Esquerda Unida.

e)      Decide propor a realização de um Encontro Nacional de aderentes ao Manifesto em abril de 2016 com pelo menos 25% dos aderentes ao Manifesto.

Junte-se a nós!

 

 

São Paulo, 30/05/2015

CC da Esquerda Marxista