Imagem: Gage Skidmore

Biden e a crise do Império

Editorial da 15ª Edição do jornal Tempo de RevoluçãoFaça sua assinatura e receba no seu e-mail!

Em meio a mais uma crise internacional, inflação, problemas internos e queda de popularidade, o governo do democrata Joe Biden completou um ano nos Estados Unidos. Quando eleito, Biden disse que iria “escrever uma história de esperança, e não medo. De união, e não divisão”, mas como marcou um artigo do Jornal O Globo, “os meses seguintes mostrariam que escrever esta nova história tem sido tarefa complicada.

A reprovação ao governo Biden subiu de 34,7% em janeiro do ano passado para 52,3% em 2022, ao mesmo tempo em que a aprovação caiu de 53,9 para 42%. Essa aprovação em queda livre é preocupante para o democrata diante da aproximação das eleições legislativas de novembro, que renovarão toda a Câmara e um terço do Senado.

A revista britânica The Economist, em artigo de 15 de janeiro, levantou uma série de “justificativas” para o fato do presidente norte-americano estar “fadado ao fracasso” e concluiu afirmando que “muitos eleitores, especialmente de esquerda, passaram a imaginar que o presidente possui ‘poderes de Super-Homem’”. Mas a questão é maior que um mero problema de expectativa.

Com a chegada na Ômicron, a pandemia parece longe do fim, a vacinação segue a passos lentos — o país está há meses estagnado nos 62,5% de vacinados —, não pela falta de vacinas, mas pela desconfiança popular nas instituições burguesas e por conta do negacionismo antivacina patrocinado pela direita.

No dia 25 de janeiro o mundo registrou a maior média móvel de mortes por Covid-19 dos últimos quatro meses, o total de 8.209 óbitos. Só nos Estados Unidos, a média atual de mortes diárias é de 2.181. Durante o debate eleitoral com Donald Trump, Biden afirmou que “qualquer responsável por tantas mortes [na época eram 220 mil as vítimas da Covid-19] não deve continuar como presidente dos Estados Unidos”. Em um ano de governo, quase o triplo de americanos morreu.

A Covid-19, junto com a crise econômica, tem agravado outro problema: o desemprego. Há 3,6 milhões de postos de trabalhos a menos do que havia no período pré-pandemia. Quase 40% da população economicamente ativa está fora do mercado de trabalho e entre as mulheres, que acumulam o fardo da dupla jornada casa e trabalho, essa taxa é ainda maior.

A inflação subiu 7% em 2021 — maior aumento anual desde 1982 — corroendo o poder de compras, trazendo consigo o aumento das taxas de juros e o medo da estagflação.

Crise na Ucrânia

Na arena internacional, após a vergonhosa retirada das tropas do Afeganistão e do fiasco da COP 26, o governo Biden enfrenta as ameaças da Rússia que movimenta tropas na fronteira do país com a Ucrânia. Apesar do discurso propagado pelos próprios EUA — e fabricado pela CIA para moldar a opinião pública — de que Putin pretende invadir a Ucrânia a qualquer momento, há uma evidente movimentação que objetiva fragilizar o imperialismo norte-americano na região e até o presente momento Putin está vencendo.

Porém, não é o poderio econômico e militar que impede os EUA de tomar uma medida mais enérgica contra a Rússia, trata-se de uma questão política: a forte oposição interna à guerra. A classe trabalhadora norte-americana não está disposta a aceitar mais um conflito em que milhares dos seus filhos são sacrificados em nome do lucro. Por outro lado, dificilmente a Rússia invadirá a Ucrânia apesar de todos os alardes. O que Putin busca é recuperar a sua também abalada popularidade — a Rússia também tem lidado de forma desastrosa em relação à pandemia, por exemplo — inflando um discurso nacionalista. Mas Putin tem suas debilidades, entre elas a oposição ucraniana à anexação russa (o que poderia culminar em uma guerra civil).

A crise que atinge os Estados Unidos, o país imperialista mais poderoso do planeta, faz parte da crise do sistema capitalista. Em períodos de crescimento é possível vender a ideia de que há uma relativa estabilidade, mas agora a situação é completamente diferente. Nem Biden nem a burguesia norte-americana podem mais ditar as regras das relações mundiais como costumavam e, assim, estabilizar a situação. Pelo contrário, está se tornando uma força desestabilizadora. Essa instabilidade crescente é a marca do período em que vivemos. É o reflexo de um sistema decadente.

Luta de Classes

Ao mesmo tempo em que crise do capital arrasta milhares para a miséria e para o sofrimento, as possibilidades de combate ao regime também se abrem. O movimento Black Lives Matter, em 2020, as mobilizações operárias de 2021, as greves de outubro (chamadas “Striketober”) e as mobilizações de estudantes e dos professores de Chicago no início deste ano são exemplos de que para os trabalhadores, para os revolucionários, há perspectiva. Não se trata de um falso otimismo vendido pela classe dominante de que tudo irá melhorar dentro dos marcos do capitalismo, mas sim das possibilidades de derrubar esse sistema e lutar por um sistema genuinamente humano e justo: o socialismo mundial. Essa tarefa pertence aos trabalhadores e à juventude.