Briga entre os de cima e a instabilidade desde baixo

Editorial do jornal Foice&Martelo 100 ressalta o que os marxistas frisam desde o começo do ano, que a maior certeza deste momento é que não há nada certo.

Foto: Deserção de policial do Choque no Rio de Janeiro. Confrontos entre servidores do Estado do Rio e forças de repressão por causa da votação do pacote de maldades “anticrise” do governador antecipam o que está por vir em nível nacional. Crédito: Julio Trindade

No dia 29 de novembro, milhares em Brasília protestaram contra a PEC 55. No dia 4 de dezembro, o MBL convocou manifestações contra a corrupção, a favor da PEC 55 e sem atacar Temer. Reuniram 4 mil no Rio e 15 mil em São Paulo, números pequenos comparados às grandes manifestações da direita do começo do ano.

Cansaço? Talvez a melhor resposta venha de um dos “pensadores” do governo, o presidente do IBGE Paulo Rabello de Castro que relata as dificuldades do pais (Folha de São Paulo, 5/12):

Essa recessão é um ‘bicho’ diferente, que deveria suscitar um debate especial. Porque algo de muito ruim pode estar acontecendo na configuração das forças produtivas, uma disfuncionalidade entre os fatores de produção… outro grupo de teorizadores diz que, para que o mundo não caia sobre nossas cabeças, temos que praticar a taxa de juros mais elevada do mundo, pois esse é o remédio universal. Para mim, isso e tratamento numa clínica vodu são o mesmo.

A burguesia sabe da gravidade da situação, mas não tem outra saída, além das “clínicas vodu” e do ataque aos direitos dos trabalhadores. A produtividade do trabalho continua baixa, seja porque não temos os salários miseráveis da China ou as condições tecnológicas dos EUA ou Alemanha. O resultado: para competir no mercado mundial, mais arrocho!

Os bancos privados demitiram 10 mil pessoas, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal pretendem demitir 10 mil cada um! O BB pretende fechar quase 500 agências! O desemprego aumenta e os bancos começam a ficar preocupados porque as empresas, além dos trabalhadores, começam a não pagar suas dívidas. A resposta de Temer e Meirelles: mais arrocho, mais recessão, mais ataques aos trabalhadores.

A reforma da Previdência é um ataque brutal. Aposentadoria só depois dos 65 anos e com um valor de 70% do salário médio dos últimos 10 anos! Isso num país onde 44% dos trabalhadores entra no mercado antes dos 14 anos, onde a maioria que não se aposenta ou continua a trabalhar após a aposentadoria são justamente os trabalhadores braçais e com baixa escolaridade. E são os primeiros a serem demitidos em recessões, como acontece agora!

Só que a burguesia, ao fazer o seu ataque no meio da confusão generalizada da tentativa de “renovação” dos seus “políticos”, principalmente através da operação Lava Jato, joga parte do seu aparelho de Estado contra a outra parte. Assim, abre caminho para a mobilização da classe trabalhadora e da juventude. As greves e ocupações diminuíram, mas aumentaram nas universidades. Funcionários e professores de várias instituições entraram em greve e as ocupações de estudantes se tornam atividades massivas, com assembleias lotadas. Os dirigentes operários apressam-se a fechar acordos coletivos rebaixados enquanto as assembleias enchem como há muito tempo não se via.

Repetimos desde o começo do ano que a maior certeza deste momento é que não há nada certo. O curto episódio da tentativa do ministro do STF, Marco Aurélio, de remover Renan da Presidência do Senado, foi mais uma demonstração das divisões entre a burguesia. Se de um lado foi uma clara interferência de um ministro isolado em outro poder, a confusão gerada mostrou, além da podridão das instituições, o papel do PT. O Senador Jorge Viana (PT), vice-presidente do Senado, atuou como “bombeiro” para conter a crise e foi peça fundamental para manter o Senado funcionando, para que a liminar fosse derrubada pelo pleno do STF e para garantir a votação da PEC 55.

Mas os trabalhadores sabem que a briga “lá em cima” não ajuda os “daqui de baixo”. Somente a luta independente dos trabalhadores pode apresentar uma saída para a situação que desbanque todos estes senhores. A Esquerda Marxista apresenta uma proposta para discussão: é necessária a unidade de todos os trabalhadores, de todos os sindicatos, para derrubar integralmente esta reforma da previdência de Temer, a PEC 55 e barrar a MP 746. Nesse movimento, propomos uma saída política para discussão com todos os trabalhadores e jovens.

Fora Temer e o Congresso Nacional!

Por uma Assembleia Popular Nacional Constituinte!

Por um Governo dos Trabalhadores!


Artigo publicado no jornal Foice&Martelo 100, de 8 de dezembro de 2016. Adquira com um militante da Esquerda Marxista, ou assine: http://migre.me/vzFCw