A crise internacional do capitalismo aprofundada e acelerada pelo surgimento da pandemia do coronavírus deve ser enfrentada internacionalmente pela classe trabalhadora. Os governantes de cada país e a burguesia internacional buscam dividir em linhas nacionais os trabalhadores, lançando-os uns contra os outros.
A crise econômica que se anunciou em 2008 e que vem gestando uma crise ainda maior desde então, contando para isso com todas as medidas políticas e econômicas de todos os governos do mundo, se acelerou desde o início de 2019, e com a chegada do coronavírus, ela encontrou um detonador que abriu um abismo cujo fim não é previsto.
Essa crise econômica internacional brutal, acompanhada de uma trágica crise social global, é o resultado direto da continuidade e da sobrevivência deste sistema baseado na busca do lucro para uma minoria de privilegiados às custas da exploração da maioria dos trabalhadores.
É um sistema que tende cada vez mais a aumentar a exploração, a opressão, a destruição do meio ambiente e, consequentemente, o desequilíbrio de todas as relações entre as espécies, do desequilíbrio das forças da natureza. É ele, também, quem está empurrando a humanidade, cada vez mais, para o obscurantismo e para a ignorância, buscando destruir toda cultura e a arte que os seres humanos foram capazes de produzir em sua dura luta pela sobrevivência e desenvolvimento. Um sistema social que lança a humanidade inteira em direção à barbárie.
Socialismo ou barbárie não é mais uma frase apenas, mas a situação concreta de hoje em todo o planeta. Essa afirmação de Engels e Marx, popularizada por Rosa Luxemburgo, está sendo vivenciada por bilhões de seres humanos. Os burgueses e os reformistas pequeno burgueses, todos crentes de que um dia se poderia estar no paraíso capitalista, os mesmos que acusam os marxistas de catastrofismo e de utópicos, não têm agora o que dizer e não sabem como sair dessa situação inédita. Este sistema social, o capitalismo, não tem mais o direito de continuar existindo.
Ele só sobrevive porque conta com traidores serviçais dedicados no interior da classe trabalhadora e que, na base da corrupção, da repressão contra seus próprios companheiros e uma enorme dedicação aos seus próprios interesses de gatos gordos aboletados nos sindicatos, centrais sindicais e partidos ditos de esquerda. Todos, com raras exceções, apoiaram e apoiam a política criminosa que nos conduziu a situação de hoje.
O Juramento dos Hipócritas
Em 2009, na crise do H1N1, o SUS contava com 48 mil leitos de UTI. Aquela crise deveria ter significado que era preciso ampliar muito o sistema de saúde. Mas agora, em 2020, o SUS tem apenas 16 mil leitos de UTI. A população cresceu e os governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro continuaram os cortes e as privatizações na Saúde, como havia iniciado FHC. Cortes, cortes e mais cortes em todas as áreas sociais foram as palavras de ordem destes criminosos políticos.
Hamid Halizadeh, um camarada iraniano da CMI escreveu que:
“Na Itália, 46.500 empregos na área da saúde foram cortados entre 2009 e 2017, e 70 mil leitos hospitalares foram perdidos. A Itália tinha 10,6 leitos hospitalares por mil habitantes em 1975 – agora é 2,6! A Grã-Bretanha passou de 10,7 leitos por mil habitantes em 1960 para 2,8 em 2013. Entre 2000 e 2017, o número de leitos hospitalares disponíveis foi reduzido em 30% na Grã-Bretanha!”
Na França, todos os governos de direita e de esquerda conduziram uma política para destruir um dos sistemas de saúde mais completos e significativos do mundo. Desde os anos 90 todos os governos, de direita e de esquerda, conduziram uma política de fechamento massivo de leitos, uma política de transformar cada 10 hospitais em 2, demitindo servidores e “barateando o sistema”.
Agora, em todo o mundo, e também aqui, a solução de pânico que eles adotam é tentar impedir que os doentes procurem os hospitais e postos de saúde, porque segundo eles, o “sistema vai colapsar”!
“Lave as mãos e cuide-se em casa” dizem os “preocupados” e bondosos médicos e autoridades de saúde. Os mesmos médicos famosos e dirigentes das organizações de saúde que fizeram campanha para expulsar os médicos cubanos do Brasil, agora não se cansam de explicar como todos devem se afastar do sistema de saúde que “vai colapsar”. Mas, jamais levantam as vozes para denunciar os cortes e exigir uma reestruturação geral do SUS para que ele seja efetivamente universal e eficaz, nem para exigir recursos financeiros e medidas reais de emergência a altura da catástrofe que se desenvolve.
Já os mais cínicos propõem que todos se infectem, são eles que fazem carreatas com os vidros fechados, e que sobrevivam os mais fortes! Darwinismo social é o que propõe como solução para “salvar a economia e os empregos”, leia-se, manter os lucros dos empresários e ainda se livrar de uma parcela enorme da população que “custa muito caro”.
Todos eles, os “bondosos” e os cínicos, são hipócritas e inimigos do povo. Ambos apoiaram com entusiasmo todas as Reformas da Previdência e toda privatização na saúde.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, hoje reverenciado pela mídia e pela “oposição”, fez e faz parte da gangue que assaltou o Planalto sobre a base de uma fraude política e judicial. Ele próprio tem uma história reacionária, como quase todo bom político burguês. É um rico membro de família de políticos tradicionais, é membro do DEM, o partido da ditadura militar, combateu ferozmente o programa “Mais Médicos”, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, foi favorável à PEC de Teto dos Gastos Públicos (EC 95) e, finalmente, votou a favor da Reforma Trabalhista. Como ministro da Saúde de Bolsonaro, durante todo o ano de 2019 aceitou e promoveu cortes no orçamento da Saúde.
Não! Não mintam que o sistema está para entrar em colapso. O sistema de saúde já está sendo colapsado em todo o mundo há décadas. E, eles, o fazem, conscientemente, para se apropriar de partes cada vez maior da Mais-Valia extraída do trabalho de nossa classe.
Bolsonaro, Paulo Guedes, Maia e todos os políticos burgueses estão em coro para “salvar a economia” e todas suas medidas são para entregar centenas de bilhões de reais para os empresários, e atirar, relutantemente, algumas migalhas (R$600,00/mês) para a classe trabalhadora.
As federações empresariais e os capitalistas e seus lacaios da imprensa estão cantando a mesma ópera:
“Precisamos meter em nossos bolsos novos bilhões para “salvar a economia”, e assim financiamos com dinheiro público o custo das demissões e ganhamos mais juros com a especulação com o dinheiro público!”
Eles não vão manter os empregos. Como Lenin explicou em “Imperialismo: estágio supremo do capitalismo”, no capitalismo cada crise só serve para concentrar ainda mais o capital. E isto significa desemprego, todos sabem. E os grandes banqueiros e capitalistas tem consciência de que não devem investir na produção porque, simplesmente, não haverá gente para comprar. É por isso que Alphabet, a empresa-mãe do Google guarda U$117 bilhões em caixa, a Apple guarda U$102 bilhões. Aqui no Brasil o Magazine Luiza guarda R$4,75 bilhões em caixa, entre outras. Todas as grandes empresas do mundo, e também as grandes do Brasil, estão sentadas, há anos, em bilhões de dólares que não pretendem investir em produção.
Em 2008, pela mão de Lula, o dinheiro público foi generosamente distribuído para os capitalistas e algumas migalhas para os trabalhadores, ao mesmo tempo que cortava direitos, privatizava serviços públicos, entre eles a saúde. E o que fizeram os capitalistas com a generosidade de seu metalúrgico convertido em quinta roda do carro dos patrões? Tomaram o dinheiro e não ampliaram a produção, especularam e engordaram. E quando decidiram que não precisavam mais de seu querido metalúrgico o meteram na cadeia.
Eles continuam organizados contra a classe trabalhadora em escala nacional e mundial. Para lutar contra eles a tarefa dos trabalhadores é se livrar dos velhos dirigentes vendidos e disfarçados de sensatos, e construir novas direções fiéis a sua própria classe, à classe trabalhadora. Isto significa organizar-se, educar-se politicamente e agir conscientemente na luta de classes contra nossos inimigos históricos.
O caminho que Lula e seus aliados tentam preparar neste momento é o caminho de um governo de “Unidade Nacional”, ou seja, outra vez a política da aliança e pacto social com a burguesia, em nome da “salvação da democracia, da economia e da vida”, é claro!
O único caminho realista para a classe trabalhadora é o contrário disso. É outro. É separar-se cada vez mais da burguesia e de seus serviçais e seus partidos políticos. É combater pela independência de classe e pelo programa revolucionário para varrer o regime da propriedade privada dos meios de produção e abrir caminho para o socialismo, com uma economia democrática e coletivamente controlada em harmonia com a natureza e todo o universo. Só uma economia controlada democrática e coletivamente, colocando todos seus instrumentos a serviço do bem estar e desenvolvimento de todos pode atuar com as forças da natureza para o desenvolvimento harmonioso da humanidade. E, para isso, nós temos um material muito poderoso, a classe trabalhadora com suas seções nacionais. E é este material que necessitamos para forjar nossa organização nacional e internacional sobre a base do programa do marxismo revolucionário e construir um novo mundo.
Neste momento, aqui, a tarefa dos revolucionários é intensificar as iniciativas e discussões sobre como organizar grupos, comitês, etc., para ampliar a campanha “Fora Bolsonaro, por um Governo dos Trabalhadores, sem patrões nem generais”, preparando todas as forças para uma irrupção revolucionária nas ruas assim que a situação permitir. O que prepararmos hoje frutificará amanhã com força.
E é por tudo isso que é preciso apoiar com todas as forças o apelo internacional que fazem os trabalhadores italianos que publicamos aqui. E fazer nosso este apelo e a política que ele apresenta.
“Trabalhadores de todo mundo, uni-vos”