Em greve, franceses protestaram nesta terça-feira contra os planos do governo de reforma na aposentadoria e de corte de vagas de trabalho no setor público
A maior central sindical francesa, a CGT, estima que 800 mil pessoas participaram de cerca de 180 manifestações em todo o país, enquanto a polícia calcula este número em 380 mil, entre professores – os mais afetados pelos cortes propostos pelo governo -, condutores de trens e outros funcionários.
Muitos sindicatos se opõem aos planos do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de aumentar a data de aposentadoria de 60 para 62 anos de idade. O governo argumenta que esta é a única forma de financiar o sistema de benefícios sociais.
Segundo o ministério da Educação, cerca de 30% das professoras do ensino primário não compareceram às aulas em todo o país.
Apesar dos protestos, o recém-indicado ministro do Trabalho, Eric Woerth, afirmou que o governo levará a reforma do “extremamente frágil” sistema de aposentadoria do país.
“Nós precisamos mantero o objetivo que é a reforma. A nação precisa ser competitiva, para criar os empregos de amanhã“, disse ele ao Parlamento.
Sarkozy foi eleito em 2007 prometendo estimular a economia francesa e aumentar a oferta de empregos, mas a recessão do ano passado aumentou o desemprego ao nível mais alto em uma década.
Derrota
As manifestações contra o governo acontecem dois dias após a derrota do partido governista nas eleições regionais. A oposição de esquerda derrotou o bloco do governo por 54% a 36% e o resultado foi considerado um veredicto da atuação do presidente Sarkozy
O partido do governo não conseguiu vencer nem mesmo no “quartel-general” do presidente, o departamento de Hauts-de-Seine, subúrbio elegante de Paris onde ele iniciou e desenvolveu sua carreira política e que havia votado maciçamente em Sarkozy nas eleições presidenciais de 2007.
Das 26 regiões francesas, o UMP conseguiu manter apenas a Alsácia e conquistou os departamentos ultramarinos da Guiana e da Reunião. A esquerda francesa obteve nessa votação seu melhor resultado em quase 30 anos.
Em razão da forte derrota eleitoral, a margem de manobra de Sarkozy para realizar as reformas consideradas polêmicas, como a da aposentadoria, ficou reduzida, segundo especialistas.
Sarkozy, em queda livre nas últimas pesquisas de opinião, passou a ser criticado entre seu eleitorado tradicional da direita e membros de seu próprio partido.
Promessas de campanha não cumpridas, como o aumento do poder aquisitivo da população, além de ações políticas, como a entrada em seu governo de personalidades da esquerda, contribuíram para o descontentamento dos eleitores, agravado pelo aumento do desemprego.
Reformas e medidas polêmicas, como o “imposto sobre emissões de dióxido de carbono”, que deveria ser cobrado das residências e das empresas, foram mal vistas em um contexto de crise econômica.
O resultado das urnas parece estar sendo levado em conta na linha de ação do governo. Nesta terça-feira, o governo teria abandonado a ideia de criar esse polêmico imposto, segundo o site do jornal Le Monde.
Estilo pessoal
Outro fator de peso que explica a decepção do eleitorado do UMP é o próprio estilo pessoal de Sarkozy, que não corresponderia ao rigor exigido pela função presidencial.
Segundo uma pesquisa do Instituto CSA para o jornal Le Parisien, divulgada na segunda-feira, 54% dos franceses afirmam que Sarkozy deve “adotar um estilo mais presidencial”.
Episódios como a nomeação de seu filho, de 23 anos, para comandar um importante órgão, que acabou sendo derrubada diante das críticas, também criaram dúvidas sobre a maneira como Sarkozy exerce a função presidencial.
Diante do descontentamento de políticos de seu partido, que o criticaram fortemente na última semana, Sarkozy realizou na segunda-feira uma minirreforma do gabinete, com a saída de dois ministros, entre eles o do Trabalho, substituído pelo ministro do Orçamento.
Entraram para o governo aliados dos centristas, do ex-presidente Jacques Chirac e também do ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin, concorrente potencial para representar o UMP nas eleições presidenciais de 2012.
Segundo analistas, essa iniciativa de Sarkozy visa reunir as diferentes correntes da maioria presidencial para evitar adversários em seu próprio campo à aprovação das reformas.
fonte: BBC Brasil