Como agem os patrões durante a crise

E como usam o governo que os trabalhadores elegeram como “seu governo”.

Todo mundo sabe que em períodos de crise os patrões se aproveitam do medo geral das conseqüências para passar o facão fundo e arrochar muito mais do que já fazem normalmente. Eles gritam sobre a crise e ultrapassam mesmo os limites dados pela diminuição de mercado.

Um trabalhador metalúrgico explicou durante o II Encontro Latino-Americano de Fábricas Recuperadas por Trabalhadores, como em sua empresa o patrão apavorado com a queda nas vendas começou a demitir. E chegou a tal situação que o gerente de produção reclamou que “a fábrica estava sendo desmontada pelas demissões” e que assim não teria mais como entregar os poucos pedidos feitos. Questionado sobre qual seria a solução, o pragmático gerente sugeriu que reduzissem os Pró-Labores dos quatro diretores, que consumiam 65% do total da folha salarial. É óbvio que não fez muito sucesso.

Mas esta situação é ilustrativa. Se uma parte dos patrões se atrapalha por pânico, outra parte, a maioria, usa a crise como mecanismo de “reduzir o custo do trabalho” recontratando a mão de obra faltante com salários menores.

Nos períodos de crescimento econômico as empresas disputam mão de obra, permitindo uma elevação dos salários. Agora, em plena crise, as empresas contratam trabalhadores mais qualificados por salários menores. E é exatamente o que está acontecendo no Brasil.

Nos primeiros quatro meses do ano, foram abertas 48,4 mil vagas no mercado de trabalho, segundo dados líquidos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O quadrimestre terminou com 332,4 mil novas vagas com remuneração de até 1,5 salário mínimo, ao mesmo tempo em que foram fechados 283,1 mil postos formais com remuneração superior a esse valor.

Nos quatro primeiros meses de 2008, quando o mercado de trabalho encontrava-se aquecido, foram criadas 848,9 mil vagas nas duas faixas: 671,4 mil até 1,5 salário e 177,5 mil acima dessa remuneração.

Além da redução dos salários embutida nas novas contratações, as empresas estão trocando antigos funcionários por trabalhadores com maior escolaridade. Ou seja, eles demitem os trabalhadores mais caros com menos formação e contratam novos trabalhadores com maior formação por menos salário.

O saldo de 48,4 mil vagas no primeiro quadrimestre também reflete a diferença entre a demissão de 16,7 mil analfabetos e 74,9 mil trabalhadores com ensino fundamental completo ou incompleto e a contratação líquida de 37,1 mil profissionais com ensino médio e 102,5 mil com ensino superior, em ambos os casos completo ou incompleto. Mesmo entre trabalhadores com a mesma experiência profissional, foram contratados os que tinham maior escolaridade.

De janeiro a abril, 89,2% dos profissionais com ensino superior conseguiram se reempregar, contra 70% dos desempregados com ensino médio. Essa é a lógica da alta rotatividade “provocada” pela crise que segundo Lula e os gênios do governo, não passava de uma marolinha ou nem mesmo viria ao Brasil.

E um dado importante é que a recontratação de pessoal é mais intensa nos setores de serviços e no comércio, sobretudo nas pequenas empresas, que pagam salários mais baixos.

Na indústria, que é o fundamental para se medir a situação econômica do país, o ritmo de retomada das contratações está, segundo os analistas, mais relacionado à dependência das exportações. Óbvio. Já explicamos centenas de vezes que a economia dependente e subordinada do Brasil estava sendo ainda mais dobrada e controlada como resultado das políticas dos governos burgueses das últimas décadas. E enormemente aprofundada esta submissão com a política desenvolvida por Lula através do PAC.

Este Plano, chamado de Aceleração do Crescimento, pretendia dar outra “pele econômica” ao Brasil, transformando-o em, nada mais nada menos, do que em uma enorme e mera plataforma de exportação agro-mineral. Como já explicamos, qualquer espirro lá fora seria sentido como uma pneumonia aqui dentro. É para tentar minimizar a crise para os ricos que Lula acaba de decidir que Dividendos e Lucros das empresas não podem ser penhorados para pagar dívidas do INSS e demitiu a Secretária da Receita Federal que não entendeu que não é para cobrar os impostos dos bancos e multinacionais.

É nesta situação que a CUT – e em especial o CONCUT – tem que reagir e levantar a classe trabalhadora contra as demissões, contra o fechamento de empresas, contra as vergonhosas reduções de salário com redução de jornada que muitos sindicatos (da própria CUT) estão, não só praticando, como oferecendo para os patrões.

– Nenhuma demissão, estabilidade no emprego!
– Fábrica quebrada é fábrica ocupada! Fábrica ocupada deve ser estatizada!
– Nenhum dinheiro público para empresas privadas!
– Abertura da contabilidade das empresas!
– Redução de Jornada sem redução de salário!
– Reforma Agrária ampla geral e irrestrita!

Estas são as bandeiras que o CONCUT tem que discutir e implementar. Esta é a responsabilidade dos dirigentes sindicais num momento tão grave e tão cheio de possibilidades como o que estamos vivendo.

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