De baixo de muita confusão e empurra-empurra, 2º Congresso do PSOL combina sectarismo com oportunismo, passando longe dos interesses da classe trabalhadora.
Recentemente li as resoluções do Congresso do PSOL, um balanço de Roberto Robaima e algumas notícias na imprensa oficial da burguesia. Achei melhor fazer esse esforço e não me contentei, fui ler também as Teses apresentadas, tudo para escrever um artigo e não incorrer em erros e visões precipitadas ou equivocadas sobre o que ocorreu naquele Congresso, em respeito aos seus militantes.
Infelizmente tenho a declarar que o Congresso do PSOL foi um jantar de pratos insípidos regados com condimentos sectários esquerdistas com forte aroma oportunista.
Do conjunto das Teses, creio que 9, acabaram restando 3. O embate se deu entre o MES/MTL x APS/Enlace. O centro das divergências? Linha política, concepções de partido, programa de lutas? Nada disso.
Robaima, um dos dirigentes do MES, em seu informe, reproduzido e assinado por Luciana Genro, diz:
“O balanço positivo da nossa intervenção no II Congresso do PSOL se materializa na enorme vitória que obtivemos: Heloísa Helena foi reconduzida à presidência do partido, graças à batalha política que travamos em unidade com o MTL, unidade esta que se consolidou na chapa apresentada para direção do partido, encabeçada por Heloísa Helena”.
O que quer dizer isso? HH presidente do PSOL é uma vitória do MES e do MTL, contra a APS e Enlace que queriam HH como candidata à presidência da República, mas não como Presidente do PSOL. Isso pode ser uma vitória na guerra de grupos contra grupos, mas na realidade expressa que tanto MES e MTL, bem como a APS e Enlace estão se enrolando nas teias de aranhas que eles mesmos criaram.
A APS queria HH como candidata para presidente da República, mas não a queriam candidata a presidente do partido? O que há por detrás desse imbróglio?
Simples, vejam as declarações de HH sobre a Marina e entenderão melhor a coisa. Diz Heloisa Helena:
“Eu não aceito ser obrigada a não respeitar Marina Silva nas minhas declarações públicas. Isso gera um dissenso partidário. O partido deve construir o seu programa, apresentar as alternativas concretas para o Brasil e só então discutir qual o melhor quadro partidário para representar esse projeto”, disse Heloísa à saída do congresso.
“Eu tenho a dizer que Marina Silva é uma das mais valorosas militantes que a esquerda já produziu. E eu não vou aceitar que queiram me proibir de dar essas declarações públicas.”
Então ao fim e ao cabo todos engoliram HH e o Congresso sequer definiu posicionamento sobre as eleições, deixando tudo para uma Conferência no ano que vem! Ou seja, até lá, se a candidatura da Marina pegar e HH embarcar na canoa dela o PSOL terá, além do sol, uma sombra verdinha pró-burguesa para se refrescar, e terá então uma presidente que é contra a legalização do aborto e que centra seu discurso no combate à corrupção sem atacar o capital. E terão ainda como candidata a presidente da República a verde Marina que como ministra do Meio Ambiente fragmentou o IBAMA em dois órgãos e fez aprovar a Lei do Serviço Florestal Brasileiro, que privatizou as florestas nacionais.
Um belo par de vasos na linha da conciliação com os partidos burgueses.
O Congresso do PSOL, com toda sua fleuma radical, aprovou ainda algumas jóias raras:
“Considerando que a corrupção instalada em nosso país é parte intrínseca do regime e que merece respostas de nosso partido não só no campo institucional como também no campo da luta de massas, o 2º Congresso do PSOL resolve: Mobilizar unitariamente pelo “Fora Sarney”, … e abrir o debate sobre o fim do Senado e a instituição de uma câmara única e proporcional…”
Ou seja, propõem um novo Parlamento burguês que por ser único e proporcional estaria imune à corrupção. Os esquerdistas não conseguem romper os fios que os prendem às instituições burguesas e nem com suas ilusões em um mágico parlamento com câmara única onde certamente Sarney estaria de volta junto com mais 500 picaretas.
E para coquetear com os verdes aprovaram:
“Resgatar parte da dívida ecológica criando um Fundo Internacional para a Preservação da Amazônia, sob controle social que garanta a soberania nacional sobre a região.”
O imperialismo propõe a Internacionalização da Amazônia. O tratado de Quioto estabelece o direito a poluir e outorga aos capitalistas o direito de comprarem cotas para isso. Um Fundo Internacional seria o que senão aplicar essas cotas para a ordem econômica mundial imperialista dominar e controlar toda a Floresta e continuar comprando cotas de poluição?
Colocar esse Fundo sob controle social que garanta a soberania nacional? Como? Junto com o capital, com as empresas multinacionais, com as instituições internacionais imperialistas? Todos sabemos que o único organismo social possível que pode garantir a soberania são os trabalhadores e o povo organizados na luta para por abaixo a grande propriedade privada dos meios de produção capitalista. Sobre isso os psolistas preferem o silêncio.
E para arrematar defendem as chamadas políticas afirmativas do governo Lula, defendem as cotas e o Estatuto Racial que levam a uma verdadeira “balcanização” dos trabalhadores ameaçando de instalar no país um verdadeiro apartheid, fazendo uma crítica pela direita ao governo. Diz o texto aprovado no Congresso do PSOL:
“O governo Lula só criou a Secretaria Especial de Políticas e promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) dois meses e meio após sua posse, em conseqüência de forte pressão de setores do Movimento Negro, mas os encheu de esperanças na expectativa de que muitas das ações afirmativas seriam finalmente implantadas. Logo as expectativas foram frustradas. As cotas de negros nas universidades públicas foram apresentadas e retiradas várias vezes. O Estatuto da Igualdade Racial, hoje no Senado (já aprovado na primeira comissão), não foi defendido de forma mais concreta pelo governo”.
Ou seja, o governo deveria ir mais fundo em seu projeto reacionário (ver artigo sobre o Estatuto Racial aqui).