Depois das rodadas do G20 no Brasil e nos EUA, se aprofundam os ataques contra a classe trabalhadora no Brasil. Para o povo nunca tem dinheiro. Já para os ricos…
O Senado Federal encontra-se perto de votar um projeto que garante aos aposentados terem reajuste em seus proventos em índice igual ao do salário mínimo. Os ministros de Lula saem a campo para explicar que o governo deve vetar tal projeto, se aprovado, pois “não existe dinheiro para isso”. Segundo estes Ministros, o custo anual de tal projeto seria por volta de 70 bilhões de reais e não tem de onde tirar este dinheiro.
A oposição no Congresso Nacional faz um barulho imenso com uma proposta de Lula de contratar mais professores e funcionários para universidades e escolas técnicas. Entendamos: o governo Lula fez um projeto (Reuni) no qual as universidades federais se comprometiam a aumentar os alunos em 50% e, em troca, o governo aumentaria as verbas em 10% e contrataria 10% a mais de professores. Uma bela troca, na qual a qualidade de ensino cai. Agora, na hora do governo honrar sua parte (que é mínima), a “oposição” (DEM e PSDB) diz que vai ser gasto demais com as universidades, que elas são anti-econômicas, que em tempo de crise não se tem dinheiro para isso. Ou seja, joga mais duro que o governo e quer que haja aumento dos alunos com o mesmo número de professores. O argumento: falta dinheiro.
Depois de muito tempo e muita luta, o governo federal fez aprovar no congresso o Piso Nacional do Magistério. Agora, os professores têm que entrar em greve em diversos estados para exigir que seja cumprida a lei que foi aprovada (e deveria ser aplicada – em termos jurídicos, aplica-se e tenta-se mudar, é o que dizem todos os burgueses para os trabalhadores quando estes contestam qualquer norma que não lhes é benéfica). Vários estados, inclusive um governado pelo PT (Bahia), estudam entrar com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal para não cumprir a lei. O que mais eles contestam é a parte que garante como hora-aula o período que o professor gastaria para corrigir provas e para preparar aulas, ou seja, eles querem que o professor trabalhe as 40 horas de praxe e mais as horas da noite e do final de semana corrigindo provas e preparando aulas. Ou seja, contestam justamente a medida que vai melhorar a qualidade do ensino e, portanto, vai exigir a contratação de mais professores (e dar mais emprego). Qual o argumento contra? Não tem dinheiro.
Todos os “aumentos” concedidos pelo governo Lula aos servidores públicos federais foram feitos em 3 ou 4 parcelas anuais, com a primeira no ano de 2008 e, dependendo da categoria funcional, as restantes em 2009, 2010 e algumas até 2011. Ao contrário do que apregoam os grandes jornais, isso não foi uma benesse de Lula aos servidores, mas resultado de muitas greves, de muita luta. O governo chegou a mandar uma proposta ao congresso (que se encontra parada, esperando o melhor momento de ser retomada) de congelamento dos salários dos servidores, que só poderiam aumentar 1% além do aumento do PIB anual (ou seja, a inflação pode ser de 10%, mas o aumento nada teria a ver com isso, seria muito mais baixo, algo em torno de 6% se fosse mantido o ritmo de crescimento atual. Se houvesse uma recessão, não haveria aumento, apesar da inflação). Entretanto, as greves e manifestações forçaram o governo a repor parcialmente as perdas salariais sofridas durante os anos de governo FHC e durante o próprio governo Lula. Estas medidas não vieram via um reajuste geral, mas via “planos de carreira” para impedir uma maior unidade dos servidores. E todas estas medidas têm uma cláusula que permite ao governo não pagar as parcelas de 2009, 2010 e 2011 caso o desempenho econômico seja insatisfatório. Por que? Porque pode não ter dinheiro.
No campo, mais de um milhão de pessoas continuam acampadas e a promessa de Lula feita durante o seu primeiro mandato “no mínimo a reforma agrária eu vou fazer” continua na lista das promessas, de real muito pouco diferente do que fez FHC. Motivo? Um doce para quem adivinhar – falta dinheiro.
A saúde e a educação continuam com problemas que se alastram país afora e as medidas de bolsas em universidades particulares, as cotas para negros, tudo isso tem como motivo o fato do governo argumentar que não pode dar um ensino universal para todos, por faltar dinheiro. Os hospitais públicos estão uma calamidade e já se prevê nova epidemia de dengue no próximo verão. O motivo – sem doce desta vez: falta dinheiro.
Afinal, por que falta dinheiro? Durante anos nós explicamos que faltava dinheiro porque o governo pagava a dívida interna e externa, uma quantia fabulosa de 150, 160 bilhões de reais por ano. Que esta quantia permitiria resolver muitos desses problemas. Que a falta maior era de vontade política, que o dinheiro existia, mas o problema era se ia para os banqueiros e “investidores” ou se ia para o povo.
E agora chega a crise. Os banqueiros, os investidores, os capitalistas, todos os que durante estes anos todos, de governo após governo, tiveram lucros sobre lucros, a tal ponto de Lula, na campanha presidencial passada, reclamar de não saber porquê os banqueiros todos não o apoiavam, já que nunca tinham tido tantos lucros, todos esses começaram a se assustar.
O que parecia uma crise dos “países ricos”, quando Lula mandava Bush fazer o seu dever de casa que “o nosso já tinha sido feito”, mostrou-se que também existia no Brasil. Sim, não tem o tal do subprime, mas aqui qualquer um que queria conseguia comprar um carro novo ou usado, em 48, 60 ou até 72 prestações sem comprovar renda. Não havia todos os “derivativos” que fizeram a festa mundial e levam ao choro atual, mas havia os “derivativos cambiais” uma aposta que o valor do real iria subir em relação ao dólar. E aí tudo isso começa a desabar.
E, surpresa das surpresas, o governo que não tem dinheiro para os aposentados, para os servidores públicos, para contratar mais professores, para melhorar a educação e a saúde, para fazer a reforma agrária, agora tem dinheiro para socorrer banqueiros, industriais e latifundiários. As montadoras de automóveis que nos EUA estão quase falindo, aqui recebem um crédito extra de 4 bilhões do Banco do Brasil e mais 4 bilhões do governo de SP que não tem dinheiro para pagar o piso nacional dos professores. Pros professores, nada! Pros donos da Ford, Wolks e General Motors, tudo!
Os jornais fizeram as contas e está comprovado nos depoimentos no congresso para as MPs de “enfrentamento da crise”, as famosas que permitem estatizar os micos financeiros, que permitem ao Banco do Brasil salvar o Banco Votorantim, as MPs que permitem que o governo “sustente” o valor do real, entregando dólares ao “mercado” (quer dizer, aos especuladores e multinacionais que precisam remeter lucros ao exterior) e constataram:
”O governo gastou 150 bilhões de dólares em um mês e meio.”
Sim, falta dinheiro para todos, em um ano não temos 70 bilhões para melhorar a vida dos velhinhos aposentados, mas temos 150 bilhões para os especuladores. E gastamos tudo isso em um mês e meio, enquanto que o gasto dos velhinhos é no ano todo. Salve então os gordos banqueiros porque mais gordos eles devem ficar e morram os velhinhos porque ser aposentado é sina, não é respeito por uma vida de trabalho. Salve os banqueiros e deixe morrer no dia a dia da miséria assistida os que recebem os 70 reais mensais de Bolsa família. Salve os gordos banqueiros e congele os salários de servidores e professores, que estes foram feitos para sofrer. Salve os banqueiros porque estes merecem ser felizes.
A esquerda Marxista sabe que as coisas são difíceis. A economia é uma ciência complexa. Mas, às vezes, tudo se resume nisso – quem vai ganhar e quem vai perder. É possível resolver a crise do ponto de vista dos trabalhadores? É possível um plano alternativo? É possível financiar os que merecem ser financiados e deixar falir os que merecem falir? E os trabalhadores dos bancos e empresas que faliram e vão falir?
A nossa resposta é simples e é difícil de ser alcançada, exige muito trabalho e muita luta, mas isso é tudo que a classe operária, os trabalhadores, os sem-terra fazem no dia a dia: Luta de classes. É necessário estatizar todas as empresas que estão recebendo ajuda do estado, sob controle operário. É necessário estatizar toda empresa que esteja falindo, sob controle operário. É necessário dar a terra a quem nela vive e trabalha, expropriando os latifundiários.
Estão certos os trabalhadores da Flaskô, quando dizem: “a CUT, os sindicatos, as organizações dos trabalhadores devem iniciar já a discussão sobre uma campanha imediata por: Nenhuma demissão! Desemprego zero! Abaixo os segredos industriais! Pela abertura dos livros-caixa das empresas! Deixem que os trabalhadores tenham acesso às informações sobre todas as fraudes, especulação e os lucros trilionários dos últimos anos! Não ao fechamento de fábricas! Fábrica fechada é fábrica ocupada! Estatização sob controle dos trabalhadores das fábricas que ameaçam fechar! Pela imediata redução da jornada de trabalho sem redução de salários! Trabalho para todos! Pela planificação da economia sob controle democrático dos trabalhadores!”.
“Mas isso é comunismo e isso não deu certo”, bradam os capitalistas. E o capitalismo deu certo? É certo esta violência sem fim que atinge as grandes cidades? É certo o desemprego que se anuncia? É certo este mundo de miséria e caos que a crise prenuncia? A Esquerda Marxista dirige-se aos trabalhadores: vamos nos unir e lutar, junte-se à Esquerda Marxista para ajudar a lutar por um mundo melhor, onde os aposentados e professores possam ter proventos dignos, onde todos tenham direito ao trabalho e a produção deste trabalho sirva às necessidades de todos. Onde os recursos sejam destinados para saúde, educação, moradia, cultura, esporte! Um mundo socialista!