Ecologia e produção de energia

Ecologia e sustentabilidade são palavras da moda. Mas, o que tem por tras delas?

Ecologia, Energia e reatores nucleares

A segunda lei da Termodinâmica e o mito da Energia “renovável”

É surpreendente o que uma palavra pode fazer. “renovável”, “sustentável” se tornaram palavras da moda para explicar toda uma ideologia que defende o atraso econômico como a única saída para a humanidade. Para entender isso, vejamos como se distribui a produção mundial e brasileira de energia :

Tabela 1. Composição da matriz de energia.*

Fonte: (Impactos ecológicos).

Para melhor visualização, em gráfico:

O conceito de energia “renovável” ou “sustentável” é o composto pela soma dos itens biomassa tradicional e moderna, energia hidroelétrica e outras energias renováveis, dando um total de 14% da energia mundial e 46% no Brasil.

Mas, se olharmos com cuidado, estes dados incluem desde os fogões de lenha ou o carvão vegetal no Brasil (“biomassa tradicional”), as usinas hidroelétricas e também toda a energia vinda do álcool (etano ou outras denominações), seja este produzido da cana de açúcar ou do milho.
O conceito de “renovável” é altamente questionável, quando tratamos da queima de madeira (biomassa tradicional) e, de outra forma, do álcool. Para entendermos isso em termos da discussão “ecológica” de hoje, é preciso lembrar-se do conceito de “aquecimento global” e também que, até hoje, as leis da física continuam valendo.

Porque o mundo “esquenta”? Em termos simplificado, a Terra recebe continuamente energia solar. Esta energia é concentrada em forma de vegetais (através da fotossíntese) ou se mostra em forma de energia hidroelétrica (rios, através do ciclo de evaporação, chuva ou neve, rios),
ventos e ondas. Esta energia chega em forma luminosa (luz), que é uma radiação eletromagnética.

A segunda lei da termodinâmica explica que em toda transformação energética há uma perda em forma de calor. Ou seja, a fotossíntese, que é um processo altamente eficiente, converte 95% da luz que banha a folha ou a alga receptora em energia química e perde 5% em forma de calor.

Outras formas de conversão são bem mais ineficientes, sendo que motores a gasolina chegam de 25% a 40% de eficiência, perdendo o restante da conversão da energia química em motora (movimento) em calor.

Ora, se isto acontece, se o sol banha a Terra continuamente com luz, se qualquer transformação de energia produz calor, porque a Terra (ou qualquer planeta) não esquenta mais? Porque o calor é continuamente irradiado para o espaço, perdendo-se. Então, toda a questão do “aquecimento global” reduz-se a uma delicada equação no qual a produção de determinados resíduos industriais (gás carbônico é o principal, mas temos outros) poderá levar a diminuição da quantidade de energia irradiada e, portanto a Terra esquentará.

Então, a energia renovável seria aquela que é constantemente reposta (florestas, plantações de milho e cana de açúcar, rios, ventos, ondas, etc.); o restante é energia fóssil (petróleo e gás natural pela decomposição das plantas e outros organismos mortos há milhares de anos) ou físsil (energia atômica, de elementos produzidos há muito tempo no universo) e que não serão produzidas novamente em curto espaço de tempo. O problema é que a produção da dita energia “renovável” nunca é neutra e, além disso, queima de lenha e álcool também produz muitos resíduos.

Para ser franco, esta discussão é um pouco estúpida. Como qualquer discussão feita no capitalismo, ela deixa de lado uma questão essencial que são as necessidades humanas, inclusive de sua própria sobrevivência e concentram-se em questões que são importantes, mas que não são suficientemente estudadas. Pois, afinal, o que significa o termo “preservação do meio ambiente”?

Evolução e Conservação.

Conservar o meio ambiente é algo que nunca ocorreu na história do planeta Terra. A teoria da evolução mostra que a Terra está constantemente mudando e que grandes transformações da fauna e flora ocorreram e ocorrem. Todo mundo lembra-se de que a Terra já foi dominada pelos grandes dinossauros, que eles hoje estão extintos e que os mamíferos são a forma de vida dominante (aparentemente, pois existem mais espécies de besouros no mundo que espécies de mamíferos, apenas estes são maiores e aparecem mais).

Então, querer “conservar”, impedir que desapareçam espécies e que nasçam outras é querer parar todo o desenvolvimento natural. Claro que isto pode ser feito, mas demandariam esforços e recursos muito além de nossa capacidade atual. O que estes senhores (os “preservacionistas”) querem dizer é que a atividade humana, o desenvolvimento econômico e industrial humano, está modificando o meio ambiente de forma “antinatural” e o que precisamos é controlar este desenvolvimento para impedir que ele modifique a evolução natural.

Qual o problema levantado por eles? Que o desenvolvimento industrial pode levar a um novo ambiente no qual a espécie humana, assim como ocorreu com os dinossauros, seja levada a extinção. E, neste aspecto, eles têm razão. Afinal, se acontecer uma serie de desastres nucleares ou uma guerra atômica de proporções mundiais é muito provável que o meio ambiente resultante disto seja mais favorável às baratas que aos seres humanos. Além disso, o aumento de CO2 (gás carbônico) se é favorável a um grande número de plantas, não parece ser favorável ao homem ou a outros grandes mamíferos. Se os polos e geleiras derretem, teremos um novo meio-ambiente que pode favorecer um novo conjunto de espécies e da qual a nossa não é das mais favorecidas.

O que eles estão errados é acharem que ações individuais (use bicicleta ao invés de carro, economize agua) vão modificar tal situação. Também estão errados ao quererem “preservar” ao invés de “dirigir” a modificação. A realidade é que as necessidades humanas obrigam as modificações, a economia hoje é dirigida pela busca do lucro e estas toscas tentativas transformam-se em forma de novos consumos e produção de mercadorias (sejam bicicletas ou propaganda anti-modificação do meio ambiente) ao invés de resultados efetivos.

Além disso, a “ciência” e sua divulgação são manipuladas pela burguesia e o resultado são conceitos questionáveis como o de energia renovável. Para entender isso, vamos começar a analisar as diferentes formas de produção de energia “renovável”.

Biomassa “tradicional”

No mundo, 9,5% da produção de energia. No Brasil, 8,5%. Afinal, o que é a biomassa “tradicional”? Trata-se simplesmente da queima de madeira ou outros resíduos vegetais, seja em fogão a lenha, fogareiros, churrascos, produção de carvão vegetal, etc. Em outras palavras, destrói-se a cobertura vegetal para a produção de energia.

Sim, cabe perfeitamente no conceito de “renovável”, mas dizer que isto é qualquer forma de energia “limpa” é totalmente absurdo. Afinal de contas, o que temos é a produção de gás carbônico, de cinzas, de óxido de carbono (CO), um gás altamente tóxico e outros resíduos. A queima do carvão vegetal, aliás, produz tanto resíduo quanto a queima do carvão mineral.
Agora, o maior problema do renovável é histórico: as florestas derrubadas não serão repostas. Historicamente, a queima de florestas para a produção de energia não levou a sua renovação, mas a sua substituição por plantações, criação de gado ou desertos. E as florestas replantadas são inteiramente diferentes das originais. Assim, o mito do “renovável” cai por terra não pela impossibilidade teórica, mas pela prática econômica atual.

Os maiores produtores de energia a partir da biomassa “tradicional” são os países e locais atrasados, como a África e Ásia. Para o uso industrial, entretanto, o Brasil ocupa um dos lugares centrais – através da madeira gaseificada ou do carvão vegetal. A manutenção deste item em percentual significativo da produção energética não é sinônimo de ecologia, mas de atraso econômico e, quando produzido em grandes quantidades, de mais e mais poluição.

Biomassa “moderna”

No Brasil o programa do carro a álcool foi um sucesso. Os EUA tornaram-se o maior produtor mundial de álcool, a partir de incentivos econômicos. Mas, o álcool (etanol) é viável, é um combustível renovável que não polui?

Na realidade, a produção do álcool (ou do açúcar) a partir da cana já gera uma série de subprodutos altamente poluentes e que degradam o meio ambiente de forma absurda. A queima da palha da cana, nas quantidades hoje geradas leva a índices de poluição semelhantes ao da produção do carvão vegetal. Por outro lado um resíduo que é produzido é a vinhaça, um subproduto liquido que é descartado ou usado para a fertilização do solo.

Sendo liquido, ele é descartado em rios ou lagos ou, quando usado no solo, desce para o lençol freático. O resultado: a esterilização da agua e a sua poluição. (veja Impactos ecológicos).

Mais grave ainda, é o fato que queima do álcool gera mais aldeído que a queima da gasolina (muito mais!). E o aldeído é uma substancia altamente cancerígena, sendo que não existem maiores estudos sobre a disseminação deste produto e do aumento (ou não) do câncer em função do seu uso. Afinal, é possível uma experiência prática, comparando-se as taxas de incidência de câncer no Brasil, na região dos EUA onde se usa o álcool e em outros países.

Além disso, o crescimento do mercado do álcool tem levado a destruição de matas e florestas para a plantação da cana. Não vamos repetir aqui os problemas ecológicos decorrentes da monocultura, tais como soja, algodão e cana de açúcar. Apenas lembramos que ao contrário da lenda, a produção e o consumo do álcool não tem um “custo zero”. Também não discutimos aqui o controverso programa dos EUA de produção de álcool do milho, aonde para gerar 6 litros de combustíveis são gastos 5 litros! Ou seja, a produção (que é a maior produção mundial) só se sustenta com um massivo incentivo governamental!

Hidroelétrica

É uma forma relativamente “limpa” de produção de energia. E, no Brasil, ocupa um lugar importante. Tem problemas em duas coisas na produção – a destruição do meio ambiente, de cidades e locais de moradia (vilas e fazendas) e também o alto custo humano (acidentes e mortes) no próprio processo de construção, que é muito maior do que qualquer outro tipo de fonte de energia.

Por outro lado, como o custo de construção é muito alto, a maioria dos proprietários de usinas evita fazer algo que poderia resolver muitos problemas e aumentar a produção de energia: modernizar máquinas e equipamentos, substituir turbinas e outros equipamentos.

Em outras palavras, o custo da substituição de equipamentos não “compensa” os ganhos energéticos. É mais barato construir usinas térmicas, nucleares ou até uma nova usina (que tem subsídios governamentais).

Energia Eólica

É o must do momento. Não causa poluição ambiental. Não modifica o meio ambiente. É grátis. Verdade? A verdade é que não existe nenhuma conta sem gastos. E existem problemas que precisam ser examinados:

  • Não existe nenhum estudo sobre a influência da poluição sonora causada pelas turbinas.
  • Não existe estudo sobre a morte de pássaros e outros animais voadores (morcegos, insetos, abelhas) como resultado das turbinas funcionando.
  • As turbinas funcionando qual a sua influencia no meio ambiente, de vento e chuva? Afinal, se a força do vento move um parque inteiro de moinhos de vento, o vento tem que necessariamente diminuir. Isso é bom ou ruim?
  • A manutenção – como as pessoas que fazem a manutenção sofrem os efeitos da poluição sonora.

Claro está que está sendo feito um rápido desenvolvimento desta tecnologia, com mudança de reatores inclusive para prevenir o problema de choques de pássaros, mas não evita a questão dos insetos e da poluição sonora.

Energia geotérmica.

Um dos maiores experimentos para este uso deu errado. Ao se furar vários buracos para esquentar a agua no subsolo e subir produzindo vapor e energia, mudou-se o equilíbrio e tiveram vários tremores. Ou seja, é algo que precisaria de muito maior estudo para uso.

Energia solar

Em principio, parece com a energia eólica: grátis e sem afetar o meio ambiente. Mas, a verdade é um pouco diferente e qualquer um pode ver isto: o uso em qualquer lugar que não seja já área construída significa deixar uma porção do solo imensa (por exemplo, em um deserto) sem a ação do sol. E isto tem um custo imenso em fotossíntese, na fauna e na flora. Além disso, temos o problema da produção dos painéis solares, que exigem uma quantidade imensa de terras raras, que exige um alto processo de mineração. Voltando: não existe conta com custo zero.

Energia Nuclear

Os defensores da energia nuclear argumentam que ela é uma com menor índice de mortes e acidentes. E tem razão. Mas os acidentes foram espetaculares e podem conduzir a problemas imensos (ver biodieselbr). Então, depois disso tudo, o que poderemos ter que resolveria os problemas de produção de energia?

Capitalismo, consumo e desenvolvimento.

Voltemos ao início: O que necessitamos, para as nossas necessidades da vida moderna, são métodos de produção de energia que evitem modificar o meio ambiente de forma nociva ao ser humano. E quase todas as formas descritas aqui poderiam cumprir este papel (excetuando-se provavelmente a biomassa tradicional e a biomassa moderna). Mas, na situação econômica atual, todas elas produzem o contrário. Uma nova forma de produção de gás de petróleo, obtido do xisto betuminoso, através da injeção direta de reagentes nas minas no subsolo mostrou-se até quatro vezes mais barata que a produção de gás nos poços de petróleo! Ótimo. Grande. Os EUA comemoram o que pode vir inclusive a ser a sua independência energética! Um pequeno porém: os lençóis freáticos, a agua subterrânea é toda poluída!

A questão, em ultima análise, é sempre a mesma: o capitalismo funciona para produzir lucros e, se no meio do caminho, encontra-se inclusive a possibilidade de destruição do ser humano ou da vida na Terra, ele segue em frente movido pelo lucro e não pelas necessidades humanas.

Todos sabemos que muitas poderiam ser as medidas a serem tomadas que resolveriam grande parte dos problemas aqui levantados e que os tornariam absolutamente irrelevantes. Substituir turbinas e formas de passagem da água nas usinas construídas há muito tempo permitiria gerar muito mais energia. Substituir linhas antigas de transmissão diminuiria a perda energética que acontece pelo caminho. Substituir linhas de distribuição de energia nas cidades economizaria muito energia. Substituir toda a iluminação pública por lâmpadas mais modernas com maior ganho energético economizaria energia. Resultado: sobraria energia e não precisaríamos de tantas usinas novas, de tantos reatores novos, de tanta produção de gás natural.

Outras medidas diminuiriam ainda mais o gasto energético: construção de moradias e prédios de trabalho com maior eficiência frente ao clima. Ou seja, em locais tropicais, residências e prédios que tivessem refrigeração mais natural, sem precisar de ar condicionado (prédios com janelas que refletissem o sol, prédios com painéis solares que absorvessem a luz para produção de energia elétrica, prédios com sistemas de ventilação que utilizassem o próprio sol para mover o ar ou evaporar agua com efeitos refrigerantes, prédios com áreas verdes, plantadas, etc.). Em locais frios, já existem protótipos de casas aonde o próprio calor humano conserva a temperatura, evitando a necessidade de aquecedores a óleo ou gás.

Mais ainda, um gasto imenso de energia é concentrado em transporte (várias pesquisas dizem que o transporte consome 60% da energia produzida, mas não consegui nenhuma estatística confiável sobre o assunto). Hora, a adoção de métodos de transporte coletivos, como trens, metros e outros, além da adoção de trens rápidos ao invés de aviões, permitiria um novo tipo de funcionamento com muito mais segurança. Alias, se construíssemos trens rápidos ligando continentes pelo fundo do mar (como foram construídos cabos submarinos, quando diziam que isto era impossível, como foi construído o túnel sobre o canal da mancha) teríamos uma revolução imensa no transporte.

Mas, e o lucro? Hoje uma boa parte da indústria mundial gira em torno da produção de automóveis e de suas peças e combustíveis. Todas as soluções vindas a público começam por automóveis melhores, com menor gasto de combustível. Mas, e o custo humano? Quanto custa substituir todos os que morrem todos os dias de acidentes de carros, motos e ônibus? Quanto custa substituir os que morrem em acidentes de avião? O trem é um transporte mais seguro e poderia se fossem concentrados esforços nisso, tornar-se-ia mais seguro ainda!

Mas não! É necessário ter lucro! E a vida humana é barata e os trens são caros! Custa muito perder um parente ou um amigo num acidente estúpido, mas em termos de capitalismo, a morte é barata e o ser humano apenas um bem a ser substituído.

Poderíamos construir usinas hidroelétricas quase sem acidentes e sem todo o cortejo de miséria e degradação que acompanham todas as obras, mas isto é muito caro e não dá lucro! É mais fácil favorecer a prostituição inclusive de menores nas grandes obras do que pagar o suficiente para mudarem os operários e suas famílias, para treinar a população a serem os operários. É mais fácil ter “acidentes” nas obras que matam milhares do que ter equipamentos, treinamento e cuidado para evitar acidentes. Na verdade, é mais barato manter tudo como está!

As usinas nucleares foram projetadas para durarem 25 anos. E quando termina o prazo de validade, é mais fácil (e mais barato) pagar para que um funcionário ateste que ela pode continuar funcionando do que desativar e construir outra. É mais barato construir usinas de quebra de urânio, usinas físseis, do que pesquisar com afinco a fusão nuclear. Sim, o mundo funciona na base do lucro e enquanto assim funcionar, a produção e consumo de energia, como tudo no mundo, é apenas mais um caminho que leva da civilização moderna para a catástrofe, seja isso a barbárie de uma guerra ou a um novo ambiente em que mil baratas floresçam.

* É muito difícil se obter estatísticas confiáveis sobre o assunto. A maioria das fontes concorda com os valores apresentados neste gráfico. Porem, quando procuramos uma tabela de consumo foi difícil achar uma e ela apresenta um valor de produção diferente destes, embora concorde com a posição relativa de produção – petróleo, gas, carvão.

Deixe um comentário