Foto: Corrente Marxista Internacional (CMI)

Escola Mundial da CMI analisa situação política internacional

Começou no dia 25 de julho, na Itália, a Escola Mundial da Corrente Marxista Internacional. Mais de 300 participantes vindos de 25 países, com forte presença da juventude. O evento tem como tema o centenário da Revolução Russa, com várias sessões dedicadas a debater períodos e aspectos desse que foi o evento mais importante da história da humanidade.

O primeiro dia foi dedicado à discussão sobre a situação política internacional, com informe do camarada Alan Woods. Em sua introdução, Alan salientou anos marcantes do século XX: 1914, início da 1ª Guerra Mundial; certamente 1917, ano da Revolução Russa; 1929, início da Grande Depressão; 1933, a chegada de Hitler e do nazismo ao poder na Alemanha; o começo da 2ª Guerra Mundial em 1939; o fim da União Soviética em 1991. Ele acrescentou a estes grandes acontecimentos do século passado o ano de 2008, como mais um ponto de inflexão que destruiu o equilíbrio do sistema capitalista com o estouro da crise econômica internacional.

Alan apontou que essa crise continua, sem uma recuperação real da economia mundial. E todos esses anos de ações dos governos para buscar restabelecer o equilíbrio econômico provocaram o desequilíbrio político. Os governos de diferentes países injetaram dinheiro na economia, o que fez crescer absurdamente a dívida pública nas principais economias. O Japão tem uma dívida equivalente a 248% de seu PIB, a Itália 133%, a Grécia 178%, e mesmo os EUA, a maior potência imperialista, uma dívida pública de 106% do seu PIB. Ao mesmo tempo, há a austeridade, com recortes em direitos e conquistas da classe trabalhadora.

Sobre os EUA, Alan destacou o fim do “sonho americano” e sua transformação em um “pesadelo americano”. Donald Trump não era o candidato preferido da burguesia estadunidense, agora ele está em conflito com a CIA, o FBI e, inclusive, com setores do Partido Republicano. Sua vitória eleitoral foi a expressão de uma maneira distorcida e reacionária da raiva da população contra o sistema. É o que significou também, pela esquerda, o massivo apoio à campanha de Bernie Sanders nas prévias do Partido Democrata. Ilusões de setores da população em Trump estão sendo desfeitas rapidamente, diante da inviabilidade de cumprir suas promessas de retomada do crescimento econômico. As grandes manifestações após sua posse foram só o começo de novas explosões no coração do sistema capitalista.

No velho continente, a instabilidade é crescente. Na Grã-Bretanha, após o Brexit, as eleições legislativas foram um novo terremoto político com a ascensão do Partido Trabalhista baseado em uma plataforma de esquerda e a queda do Partido Conservador. Na França, a massiva campanha de Mélenchon pela frente França Insubmissa. Mesmo a vitória de Macron, adulado pela burguesia internacional, se deu na verdade com altas taxas de abstenção, o que revela sua fragilidade.

Em uma pesquisa em países europeus, dirigida à juventude, foi colocada a questão se o entrevistado estaria disposto a participar de um levantamento contra o governo. Na Grécia, 67% responderam positivamente, na Itália 65%, na Espanha 63%, na França 61%, e mesmo em países aparentemente estáveis, como Suíça e Áustria, 44% e 39%, respectivamente, deram a mesma resposta.

A situação no Oriente Médio Alan classificou como a expressão dos sinais de barbárie provocados pelo capitalismo, sintomas de um sistema em decadência. Na retomada de Mossul, no Iraque, então dominado pelo Estado Islâmico, o exército iraquiano, sob as ordens do imperialismo norte-americano, colocou a cidade em ruínas e milhares de civis foram mortos. Além de todo horror que segue nos conflitos na Síria e o drama dos refugiados.

Por fim, Alan tratou dos graves acontecimentos na Venezuela e das ameaças de avanço da contrarrevolução. Essa situação dramática é consequência de uma revolução incompleta, em que a burguesia não foi expropriada e o poder concentra-se em uma burocracia corrupta no aparelho de Estado. Grupos armados têm realizado atentados e assassinado revolucionários. Sem apoiar Maduro, que vai cada vez mais à direita e busca a conciliação com a burguesia, a orientação deve ser armar a população, criar comitês de autodefesa e impedir um golpe e suas trágicas consequências.

Em seguida, camaradas da Inglaterra, EUA, Venezuela, Áustria, Paquistão, México, França, Egito, Indonésia, Marrocos, Brasil, Alemanha e Itália interviram e aprofundaram a análise da situação política em cada país.

As intervenções dos camaradas enfatizaram a correção da análise geral. Nos EUA, por exemplo, o camarada Antonio explicou a facilidade com a qual o socialismo tem sido aceito, refletindo-se em um aumento das vendas de nosso jornal. Mesmo em países aparentemente estáveis, pequenas fagulhas podem desencadear explosões. Um exemplo foi relatado pelo camarada do Marrocos, onde um jovem que vendia peixes na rua foi morto acidentalmente por um caminhão de lixo e isso desencadeou manifestações massivas na região de Rif, no norte do país, contra a monarquia que segue governando.

O camarada Serge Goulart explicou os convulsivos desenvolvimentos políticos no Brasil, iniciando por junho de 2013, passando pelas greves de massa, a desmoralização do PT e seu governo pelos anos de política de conciliação de classes, que culminaram no estelionato eleitoral após a eleição de 2014. Analisou também o impeachment de Dilma, o governo Temer e suas contrarreformas, dando destaque para as grandes mobilizações do primeiro semestre deste ano que demonstram a disposição de luta das massas, apesar do bloqueio das direções conciliadoras.

Alan encerrou o debate pontuando incialmente as grandes mudanças políticas em diferentes países, o que inclui a polarização social, que nada tem a ver com ida à direita das massas ou ascensão do fascismo, mas o destaque maior para os extremos, tanto à esquerda, quanto à direita. Constatou a instabilidade para os diferentes governos e que todos os caminhos escolhidos pelos capitalistas não podem resolver a crise, fruto das próprias contradições do sistema. Alan colocou a necessidade da nossa confiança na classe trabalhadora, nas ideias do marxismo, na construção da CMI e sua disposição para ajudar as massas a encontrar o caminho para pôr fim a este regime e construir o socialismo.

A Escola Mundial da CMI seguirá até o dia 30 de julho. Na pauta estão diferentes debates sobre a Revolução Russa. Além das sessões sobre períodos da revolução (Revolução de Fevereiro de 1917, Julho e a tentativa de golpe contrarrevolucionário de Kornilov, a tomada do poder em outubro, o primeiro ano da Revolução Russa, a Guerra Civil), ocorrerão debates também sobre a história do Partido Bolchevique, o Estado e a Revolução, socialismo e a guerra, os bolcheviques e a questão nacional, revolução e emancipação da mulher, as mentiras sobre a revolução bolchevique, e a construção da Internacional Comunista.

Esta escola sobre o mais importante evento da história da humanidade traz muitas lições para os revolucionários da atualidade. Certamente ajudará a elevar o nível político e teórico dos participantes, proporcionando um importante passo para continuarmos na construção da CMI, no combate pela reconstrução da Internacional Revolucionária.