Trabalhadora que vende força de trabalho na Folha de S. Paulo, a jornalista Mariana Sallowicz teve publicado, domingo, 14 de agosto, texto intitulado “Brasileiro não sabe a qual classe social pertence; diz estudo”. Até aí, para quem é marxista como este escrevinhador, nada de mais. É assim mesmo e não apenas no Brasil, mas, no mundo inteiro. Ou seja, devido ao desenvolvimento das sociedades divididas em classes sociais, as camadas de trabalhadores melhores remuneradas são erroneamente denominadas como ‘classe’ média. Para isso, instituições (burguesas) como as universidades, via-de-regra, formam ‘elites’ chamadas de especialistas dentre os quais se destacam dois, economistas e sociólogos.
Assim, o texto da jornalista logo de cara é objetivo: “A maior parte dos brasileiros no topo da pirâmide acredita que faz parte da ‘classe’ média e mais de um terço se considera baixa renda. Já aqueles que integram a classe C também se enxergam em um patamar inferior ao real”. A jornalista afirma que isso é o que mostra pesquisa do instituto do Grupo Folha para tal finalidade (Data Popular) feita no segundo trimestre deste ano com 3.000 entrevistados em 251 cidades de 26 estados brasileiros. Então, a jornalista recorre, dando ênfase ao que disse o sócio-diretor do instituto Renato Meirelles “A percepção da população em relação ao seu padrão de vida, em grande parte, não reflete a realidade”.
A jornalista dá a entender que concorda com a estratificação não-marxista de considerar como pertencentes as ‘classes’ A e B quem tenha renda média familiar de R$-8.393,00 uma vez que no caso de tais integrantes 55,2% se consideram da ‘classe’ média, cuja renda média domiciliar (não-marxista) é de R$-2.295,00. Haja vista, ainda segundo o texto da jornalista, nas ‘classes’ A e B somente 9,6% de seus integrantes se classificaram corretamente. Nessa estratificação não-marxista das ‘classes’ A e B, categorias como metalúrgicos, petroleiros e professores universitários, por exemplo, seriam ‘burguesia’, ‘elites’ ou ‘ricos’. O que parodiando um saudoso humorista televisivo, eu digo “Fala sério”.
Ainda segundo o texto da jornalista, o estudo do instituto Data Popular mostrou que, dentre os integrantes das ‘classes’ A e B, ou seja, com renda média domiciliar de R$-8.393,00 35,2% avaliaram pertencerem à baixa renda, isto é, ter renda média domiciliar de R$-867,00. Mas, o texto da jornalista esclarece que ao responderem às questões, os integrantes de tais ‘classes’ não foram informados sobre os critérios de renda da classificação. Já na ‘classe’ C, que, pelo critério não-marxista corresponderia à apelidada ‘classe’ média 32,5% se posicionou corretamente, porém, 65,7% disseram fazer parte da baixa renda. A seguir as explicações do sócio-diretor do instituto Data Popular, Renato Meirelles, sobre patamar.
Para ele “Grande parte dos integrantes da ‘classe’ média brasileira está nesse estrato há pouco tempo. Eles vieram da baixa renda e ainda se enxergam nela. Sabem que o padrão de vida está melhorando, mas não consideram a mudança de patamar”. Para a jornalista, por outro lado, no estudo há ainda 16,9% de cidadãos de baixa renda que pensam que são da ‘classe’ média. “São os emergentes que se consideram da ‘classe’ média baixa (sic), mas, que ainda não são. Como eles têm perspectiva de crescimento na renda, avaliam erroneamente”; salientou Meirelles. A seguir, o que ele e o economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Marcelo Neri disseram sobre influência dos EUA.
Para Neri, essa visão distorcida da população é conseqüência da forte influência estadunidense no Brasil. “Pelo padrão dos Estados Unidos, quem é da ‘classe’ média tem dois carros na garagem, o que não é necessariamente verdade aqui. A renda per capita estadunidense é bem superior à brasileira”; afirmou o economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV. “Para o brasileiro, (burgueses, elites) ricos são o Eike Batista e outros milionários do patamar dele”; disse o sócio diretor do instituto Data Popular, Renato Meirelles. Magnata dos projetos privados da infra-estrutura brasileira, Eike Batista foi considerado o oitavo mais rico do mundo em ranking da revista “Forbes”; finalizou a jornalista Mariana Sallowicz.
Para não me alongar, os ensinamentos do filósofo Karl Marx (1818-1883) permanecem atualíssimos. Consequentemente nós marxistas, por estarmos convencidos de estarmos de acordo com a maioria dos trabalhadores, afirmamos que o “sociologuês” e ou o “economês” de dividir a sociedade em ‘classes’ A, B, C, D ou E é “caô”. A divisão fundamental da sociedade é entre burguesia, elite, ricos ou classe dominante versus proletariado, classe trabalhadora, povo trabalhador ou os pobres. Os salários destes podem ser diferenciados, porém, todos sofrem a exploração da burguesia, que, aliás, cria o citado “caô” na busca de impedir que os pobres, o povo trabalhador, a classe trabalhadora ou o proletariado se una contra a burguesia.
*jornalista – militante da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista do PT- diretório municipal de Macaé (RJ).