Dia nacional de luta contra os cortes na Educação em SP, 18/10

Informe ao Comitê Central da Esquerda Marxista sobre a situação antes do 2º Turno das eleições de 2022

Informe oral apresentado por Serge Goulart, secretário geral da Esquerda Marxista, ao Comitê Central da organização reunido em 15 de outubro de 2022.

Boa tarde, camaradas!

Eu creio que foi uma boa decisão da comissão executiva de fazer essa reunião do Comitê Central aberta aos militantes que pudessem participar. É uma pena que a decisão foi tomada durante essa semana, então muitos camaradas não estavam preparados para esta atividade, têm outras responsabilidades, outras atividades, mas nós temos uma parcela importante da organização participando. E o objetivo dessa discussão e desse convite é que nós vivemos uma situação particular neste segundo turno das eleições. Nós vamos chegar a isso.

Eu queria iniciar situando que o que nós estamos vivendo no Brasil faz parte de uma situação internacional que nós devemos ter presente. Não há uma particularidade brasileira, uma linha fora da curva, a situação faz parte da situação política internacional que, como nós sabemos, é fruto da existência das classes sociais e do mercado capitalista internacional, da luta de classes, portanto.

Nas últimas três semanas, os gritos de “mulher, vida, liberdade” e “morte ao ditador” foram ouvidos em dezenas de cidades em todo o Irã – Maysam Bizaer, Twitter

E como nós sabemos que não há nem socialismo, nem capitalismo em um só país, o Brasil não poderia estar fora do quadro internacional. Nós temos uma crise econômica internacional que se desenvolve desde 2008, pelo menos, plenamente, e que tomou um impulso com a pandemia, mas que não foi causada pela pandemia, ao contrário do que dizem muitos analistas, muitos burgueses, muitos comentaristas burgueses. Na verdade, a pandemia impulsionou, numa situação de impasse da sociedade capitalista, essa crise. E o impasse é dado por uma situação bastante simples de ver hoje. Qual foi a ação dos governos, dos diversos bancos centrais, portanto dos governos, da burguesia, do capital financeiro internacional para enfrentar a crise?

Foi um ataque generalizado aos direitos e às conquistas dos trabalhadores, e o repasse de quantidades gigantescas de dinheiro para resgatar bancos e multinacionais, grandes empresas resgatadas com dinheiro público de forma absolutamente inescrupulosa e sem controle. Com alguns afirmando a ideia de que tal empresa, tal banco é grande demais pra quebrar. No capitalismo, teoricamente isso não existiria. Porque se o capitalismo é o terreno da livre concorrência, significa que quebram e ascendem na luta pelo mercado. 

Na verdade, a ideia da livre concorrência no capitalismo já acabou no final do século 19, começo do século 20, quando se estabeleceu a época do imperialismo, a época dos monopólios, que o Lenin classificou corretamente como a época de guerras e revoluções. A época da reação em toda linha, da burguesia sendo a reação em toda linha. 

Essa situação de resgate de grandes bancos, de grandes multinacionais, ela obviamente levou à situação de hoje, onde uma inflação não vista por décadas e décadas nos países centrais, nos países mais avançados, nos países imperialistas, como na Europa, nos Estados Unidos, uma inflação que era desconhecida de gerações já. Inflação que atingiu o Brasil também, no mesmo nível que está atingindo Grã-Bretanha, França, Itália, Estados Unidos. E onde a medida histórica da burguesia, dos capitalistas, para brecar a inflação é elevar a taxa de juros do mercado financeiro, para atrair o capital para o mercado financeiro e não para a produção. 

Acontece que a situação de hoje não é que há uma superprodução de bens, ou que há uma super demanda por bens e como há poucos bens para serem comprados, então sobe o preço. Não, a inflação não é como dizem os economistas, a maioria desses idiotas, de que é uma inflação de demanda. Na verdade, é uma inflação causada por rodar a maquininha de dinheiro, ou emitindo sem nenhum lastro (porque, vocês sabem que, em teoria, o dinheiro deveria significar algum lastro de ouro, ou de dólar). Ou simplesmente emitindo títulos a juros cada vez mais altos, para atrair compradores e poder transferir esse dinheiro para os grandes capitalistas. Essa é a situação. É por isso que a taxa de juros nos Estados Unidos sobe, porque mesmo que a taxa de juros que já foi negativa durante anos, na Europa também negativa durante anos, ela começa a modificar para poder atrair capital para sustentar o déficit desses países. 

Vocês estão vendo hoje na televisão a crise econômica e política que vive o Reino Unido, que é um dos países hoje onde há o maior número de greves no mundo. E era um país que por décadas, quando tinha uma greve era uma novidade e hoje é o país que tem mais greves no mundo, junto com os EUA. São os dois países que têm mais greves no mundo, numa situação convulsiva. E a crise econômica e política do gabinete da Truss na Grã-Bretanha é fruto disso. Ela não tem como sair da situação do déficit que a Grã-Bretanha constrói e continua construindo. E cuja base é a salvação das grandes empresas, dos grandes bancos.

Por exemplo, para se ter uma ideia, na França, os camaradas devem saber, o governo Macron mandou, no início da pandemia, para o parlamento e o parlamento aprovou por unanimidade, teve um ou outro voto contrário. O Partido Comunista votou a favor, o Partido Socialista votou a favor, o França Insubmissa do Mélenchon votou a favor. E eles simplesmente doaram 630 bilhões de euros para as empresas capitalistas não quebrarem. Tratava-se, obviamente, de salvar o emprego. Como assim? O que nós vimos é que os capitalistas com esse dinheiro demitiram em massa. E o desemprego se ampliou. Então é o Estado financiando a demissão e causando desemprego com o dinheiro público. 

A situação no Brasil não é muito diferente

Durante anos nós vimos o resgate de grandes empresas, os financiamentos a taxa zero praticamente para as multinacionais, para bancos, socorro aos bancos no início da pandemia, cerca de 4, 5 bilhões de reais em uma das tacadas. E o resultado é que, ano após ano, o Brasil vem desindustrializando. 

E uma enorme quantidade de multinacionais, que nós listamos em vários artigos que publicamos, usaram o dinheiro público para financiar as demissões, pagar a indenização, pagar a demissão. E, inclusive, uma boa parte deles – uma parte reduziu o plantel, o número de trabalhadores – e uma boa parte deles simplesmente fechou a fábrica e foi embora, como nós vimos o que a Ford fez, a Mitsubishi, bom, tem uma série, a Sony. Tem uma lista infindável de fábricas que simplesmente fecharam e foram embora. Outras que mantiveram apenas como rede de distribuição. 

O fechamento de fábricas como a Ford evidencia que os patrões sugam a riqueza produzida pelos trabalhadores e depois os descartam quando não são mais úteis a seus interesses

Então, nós temos uma situação de impasse no capitalismo internacional, onde quanto mais a burguesia corre pra frente, pior ela deixa a crise. Ela amplifica, coloca num outro patamar. O fato da crise econômica e política na Grã-Bretanha hoje é resultado direto de que os grandes investidores, os grandes capitalistas, o mercado financeiro estão com os pelos arrepiados achando que a Grã-Bretanha não vai conseguir pagar a dívida que tem, não vai conseguir honrar os títulos que vendeu. Então, é uma situação que atinge o planeta.

Tem inflação na China. A China se segura porque é uma situação de capitalismo de Estado, onde o Estado intervém para controlar setores econômicos e impedi-los de quebrar, mas está chegando a uma situação tal onde isso não vai ser mais possível fazer. A China tem cidades projetadas para milhões de pessoas e tem 20 pessoas morando para cuidar da limpeza da cidade. As grandes empresas de construção civil que eram bancadas e financiadas como uma pirâmide, um jogo de pirâmide, estão quebrando e estão tendo que se recompor ou ser salvas pelo Estado. 

Quem lembra, quem tem um pouco mais de idade vai lembrar, o que foi a maior empresa de construção civil de apartamentos desse país, chamava-se Encol. Como é que a Encol vivia? De lançamentos. Então, ela lançava um prédio, botava à venda, começava a construir, e com o dinheiro da venda desse prédio, sem ter construído ainda, lançava outro. Como tinha dois anos, três anos para entregar o outro prédio, ela lançava um atrás do outro e os compradores, pagando as suas parcelas, financiavam o apartamento lá de trás, o prédio lá de trás. Só que chegou uma hora que o mercado parou de comprar e a Encol não tinha mais de onde tirar dinheiro para sustentar os anteriores. Então começou a quebrar em cascata. Porque, na verdade, era um sistema de pirâmide. E esse é o sistema da construção civil na China e em muitos outros lugares, além da especulação imobiliária.

Então, nós temos uma situação de inflação mundial que está causando revolta nos trabalhadores em todos os lugares. Vocês estão vendo a greve dos petroleiros na França e a ameaça do governo de intervir. Vocês sabem que uma intervenção do governo numa greve de petroleiros na França é capaz de dar uma rebordosa, de levantar uma greve geral na França. É capaz de generalizar greves, inclusive de solidariedade. Mas a reivindicação dos petroleiros é a de todos os trabalhadores. 

Um operário qualificado da Europa, ele não está acostumado a perder 10% do salário por ano. E é isso que a inflação faz. A inflação come o poder real de compra do salário. Significa uma redução salarial. Num país dominado e atrasado como o Brasil, a questão da inflação, ela está mais no cotidiano das pessoas. Mas nos EUA e na Europa não. Quando tinha 1,5%, 2% de inflação, os acordos coletivos queriam 1,5%, 2% de salário. E, se não, era greve, manifestação etc.

A verdade sobre a inflação no Brasil

Bom, a inflação no Brasil, alguém pode objetar, “ah, mas a inflação no Brasil está caindo”. A inflação no Brasil não está caindo. Os dados oficiais de inflação no Brasil estão caindo porque há uma manobra artificial do governo, completamente artificial, por causa das eleições. A retirada dos impostos dos combustíveis, que atinge o conjunto da economia, é uma retirada brutal de impostos. Portanto, de capacidade de orçamento do governo.

Jorge Araujo, Fotos Públicas

Por isso que voltou a história de furar o teto de gastos etc. Agora, ao retirar dos combustíveis, impostos de forma brutal, você faz a média geral da inflação cair. Esperem pra ver o que vai acontecer, dia 2 de novembro. Ou dia 3. Porque, de fato, os acionistas da Petrobrás, os capitalistas, eles já estão reclamando que o preço do combustível está mais de 10% defasado. E eles se baseiam no preço internacional do combustível. Isso de ter um preço nacional de combustível isso é uma bobajada. A não ser que você tome o poder, exproprie o capital, estatize a economia, imponha o monopólio do comércio exterior, a inconvertibilidade da moeda brasileira e você decida os preços. Isso vai ter um custo, vai ter uma batalha, mas você pode fazer isso. Foi o que a União Soviética fez.

Agora, no mercado capitalista, é a média geral. O preço, ele começa em um lugar e ele se estende pelo planeta. Quando a gente fala de taxa geral de lucro, nós estamos falando da média mundial. Nunca é de um país ou de outro, porque as condições variam. É o Marx explicando em O Capital que todos os cálculos deles são sobre a taxa média de lucro do capital, e não sobre um setor ou outro, porque pode ter o vendeiro ali da esquina que tenha um lucro de 100%. Mas a taxa geral, a taxa média de lucro do capitalismo não é 100%. Os bancos brasileiros são ultra exploradores e têm uma taxa média de 10%. Então, essa é a situação da inflação no Brasil. 

Convulsão e polarização mundial

Como eu disse, essa situação internacional é que cria a convulsão política e a polarização mundial que se expressa nessas eleições de Bolsonaro x Lula, ou Lula x Bolsonaro. Mas, ela se expressa também nas greves dos EUA, como eu disse, se expressa na crise do governo Biden que, provavelmente, nas eleições de meio de mandato agora, em novembro, deve perder o controle da câmara de deputados pros Republicanos do Trump e, talvez, tenha a chance de manter um controle tênue de um voto no senado. E o Trump tem a possibilidade, nas próximas eleições, de ganhar as eleições.

Essa é a situação de que nenhum governante é capaz de fugir. É isso que devemos entender para entender a situação aqui no Brasil, onde nós temos que agir na luta de classes. Na Itália, a falência de todos os partidos burgueses e, atenção, o fracasso da Lega, que era a Lega Nord e agora é só “Lega” porque o Salvini decidiu expandir para toda Itália e transformou o partido, que era o principal partido de direita, xenófobo, antiimigrante etc., em 8%. E surge, como novidade, a “neofascista” que faz 26%. Mesmo esse governo, que se constitui, ele está dilacerado. Eu não tenho tempo aqui para explicar a situação italiana, mas ele nasce dilacerado. E depois, ninguém se impressione que o fascismo está implantado na Itália. Eu vou falar depois sobre o Brasil e é relativamente parecido.

De fato, nós tivemos nos últimos anos, nós tivemos um auge do Partido Democrata, que é o ex-Partido Comunista transformado em Partido Democrata, à imagem dos EUA, pelo menos é o que se pretendia. Governou durante vários anos, depois perdeu pra quem? Para um partido fundado por um comediante, um palhaço, o 5 Stelle (Cinco Estrelas). O partido do palhaço que era populismo e antiimigrante, não sei o quê, ganhou as eleições, duas vezes. Teve o primeiro-ministro, o ministro da economia, fez alianças com esse e com aquele e acabou de se varrido, foi varrido. Aí vem uma coalizão de vários partidos para conseguir montar o governo. Essa coalizão é varrida agora com uma abstenção brutal na Itália e surge uma novidade que não está ligada aos velhos governos. 

Giorgia Meloni, do partido Irmãos da Itália, venceu as eleições em 25/09

E essa neofascista que ganhou as eleições, ela foi o único partido que recusou entrar no governo de união nacional de todos os partidos para “salvar a Itália”. Ela recusou entrar. Então agora ela ganhou as eleições como sendo a novidade que não se misturou com o velho. Isso tem algum tipo de lição aqui para a campanha do Lula também, que tá se especializando em se enturmar e aparecer no palanque com tudo que para a população é o velho. 

Uma vez mais Lula abraça o velho e sobre o que é Bolsonaro

Desde o Alckmin ao Pérsio Arida, Armínio Fraga, ou seja, burgueses ultrarreacionários, porque eles acham que a soma com esses burgueses leva a um eleitorado que lhe daria a vitória. E nós sabemos que nem sempre é verdade e, na maior parte das vezes, não é verdade. Porque a soma do que é velho para uma população que quer o novo, que quer outra vida, outra coisa, não o passado e não a velharia que levou o país a essa crise, pode levar essa população a escolher qualquer outro aventureiro que pareça não ser parte daquela podridão. Aliás, não preciso repetir, foi isso que levou o Bolsonaro à presidência em 2018.

O episódio da facada e a exposição que teve na mídia, maior que a de outros candidatos, além de que o Lula estava preso, na mídia e nas redes sociais por causa da facada, permitiu ele aparecer como o antissistema, o cara que estava contra tudo e contra todos, que ia derrotar, trazer o novo para política. Bom, nós sabíamos que não era isso e constatamos durante o período exatamente qual é o programa.

 Lula e Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo – Ricardo Stuckert, Fotos Públicas

A Esquerda Marxista, ao discutir a eleição do Bolsonaro, caracterizou como uma tentativa de estabelecer um governo bonapartista, rechaçamos a história do fascismo, porque o fascismo é outra coisa. E o Bolsonaro, mesmo como presidente da república, tentou e não conseguiu legalizar e organizar um partido bolsonarista. Isso não é pequena coisa. Significa que há uma diversidade tal no apoio a ele que não está disposto a ser reunido em um partido. Porque se ele teve tantos votos, não bastaria ele chamar a construção do partido que teria lá um milhão de assinantes? É que são tão díspares os apoiadores do Bolsonaro que ele não conseguiu. Eles tentaram. Não passaram de 100 mil filiados. Desistiram e ele foi pro PL.

Democracia, bonapartismo e fascismo

Então essa situação no Brasil é exatamente uma expressão da situação internacional. Sem falar aqui, não tenho tempo, sem falar da situação no Irã. A garra das mulheres no Irã, as manifestações e o fato de que os petroleiros entraram no Irã em greve, em apoio ao movimento de mulheres e contra o regime, e já tem centenas de mortes, milhares de presos e o movimento continua, mostra que há uma raiva latente tão forte da população contra o regime, e não só por causa do véu, o véu é a expressão do distúrbio, da escória humana que são esses aiatolás. Se todo mundo estivesse comendo, com emprego bom, confortável, tudo certo, com saúde e educação, não tinha o problema do véu acontecendo. A rebelião, a revolta, a semi-insurreição no Irã é causada pela situação de crise econômica mundial e nacional no Irã.

E, assim nós chegamos ao Brasil: fascismo ou bonapartismo? Eu queria lembrar que o bonapartismo é um regime autoritário, ele não é uma novidade no Brasil porque… Eu escrevi um texto uma vez explicando que o primeiro governo Lula era uma espécie de bonapartismo senil. Ele buscava governar se apoiando em todas as classes sociais, ou na burguesia e no proletariado, e ao mesmo tempo mantinha os traços autoritários que é o executivo, é a presidência no Brasil e em qualquer lugar no mundo. A democracia na sua essência, a democracia da Revolução Francesa, ou a democracia britânica, ela não é um regime presidencial, ela é um regime parlamentar que designa, entre os representantes do povo, um ministério que constitui um governo e esse ministério cai, esse governo cai, quando a maioria do parlamento que o elegeu não o apoia mais.

A instituição da presidência já é um traço da época do imperialismo, do bonapartismo, onde o presidente, em geral, tem mais poder que o parlamento junto, para governar no dia a dia. E, no caso do Brasil, isso é levado às últimas consequências, porque o parlamento no Brasil é uma piada de mau gosto da história. É um antro de ladrões, é um antro de degenerados, é um antro de pequeno burgueses e burgueses completamente apodrecidos e que só estão interessados em roubar e cuidar do seu quinhão. É por isso, que se o Lula ganhar a eleição, não desesperem, que ele pode comprar metade do parlamento com o dinheiro do orçamento do executivo. Foi assim no primeiro governo dele e no segundo, ou não?

Bom, é nessa situação que isso é um tipo de bonapartismo que o Bolsonaro tentou estabelecer, mas é um bonapartismo numa situação de ruína das instituições. E ruína das instituições tem um traço: é recusa do povo de se submeter a essas instituições. No caso do Brasil o voto é obrigatório. E mesmo assim, 32 milhões de pessoas inventaram qualquer coisa para não ir votar. Mais uma parte foi lá e votou branco e nulo. Então por isso que se você falar quantos votos o Lula teve e quantos o Bolsonaro teve, ninguém tem a maioria do Brasil. Pode ter dos votos válidos, mas isso não significa a maioria dos eleitores, nem a maioria da população. E isso é o elemento de crise absoluta que empurra para a continuidade da crise.

O que que é o fascismo? O fascismo vulgarmente é confundido com autoritarismo, berros, insultos, impropérios, coisas odiosas. O Bolsonaro fala sai aquela escatologia da boca dele, “Ah, fascista, fascista!” Fascismo não é isso. O cavalo deve ser chamado de cavalo e não de boi. E o boi deve ser chamado honrosamente de boi e não de cavalo. O fascismo, ele tem como base o combate aberto para destruir e liquidar todas as organizações operárias. 

O Trotsky explicou isso, cansou de explicar, no livro Revolução e Contrarrevolução na Alemanha. Tem um artigo do Ercoli que era o dirigente do Partido Comunista italiano em 1922, quando a Terceira Internacional ainda era revolucionária, onde ele explica o fascismo italiano. E ele explica que o fascismo é a tentativa de destruir, liquidar, as organizações operárias. Bom, me digam, durante os quatro anos de governo Bolsonaro, autoritário, reacionário, de direita, podre, escória humana, quantos sindicatos ele fechou? Quantos partidos de esquerda ele fechou? Quantas organizações de esquerda ele fechou e prendeu? Quantos jornais operários ele impediu de circular?

Nós estamos falando abertamente de revolução na internet, no jornal. Porque não basta querer. Que ele seja um fascista é uma coisa. Que ele tenha um regime fascista, que ele tenha um governo fascista, um partido e um movimento fascista é outra coisa completamente diferente. Nós não estaríamos aqui agora. Estaríamos fazendo uma reunião clandestina. E não é essa a situação. “Ah, mas tem muita gente, a extrema direita cresceu, olha o resultado das eleições, ele faz 44% dos votos”. 

Camaradas, não basta crescer a extrema direita. Precisa ter organização para liquidar o proletariado como classe em si. Se não, não é fascismo! Enquanto o proletariado tiver suas organizações, mesmo com direções reformistas, não é esse. É o sentido de ter organizações que, em determinado momento, num empuxe de combate, o proletariado pode utilizar, como agora está tentando utilizar o Lula e o PT para derrotar Bolsonaro. Eu já vou chegar nessa questão.

A traição dos dirigente e a paralisia do proletariado

Então, a classe trabalhadora brasileira, ela está impotente porque os seus dirigentes tiraram o time de campo. Os dirigentes sindicais, os dirigentes das centrais sindicais, particularmente a CUT, que é a que importa, o resto é migalha caída, ou então não existe, como a Força Sindical que nunca mobilizou ninguém mesmo. A política dos dirigentes sindicais, quando viram que a população estava disposta a ir pro Fora Bolsonaro, agarrou a nossa palavra de ordem de Fora Bolsonaro, no início já do governo Bolsonaro, e buscou se mobilizar, os dirigentes sindicais da CUT, dos grandes sindicatos, entraram em combate para desmobilizar. E eles são hábeis para fazer isso. Eles marcam a manifestação e depois não divulgam, eles marcam manifestação e no dia postergam. No dia eles dizem que é para todo mundo ficar em casa, para se manifestar em casa. E eles vão levando a uma situação que o proletariado diz “Ah, isso aí não funciona, isso não resolve”. E, portanto, entra numa situação de impotência.

Olhem a traição que os dirigentes nacionais dos bancários acabaram de realizar. Eles assinaram um acordo coletivo de trabalho abaixo da inflação, abaixo da inflação, abrindo mão de conquistas sociais e válido por dois anos. Portanto, eles estão comprometidos, em dois anos, não fazer marola nos bancos. E os bancários têm força capaz de se levantar em greve nacional e paralisar o sistema financeiro todo e arrancar a inflação e muito mais. E onde estava a CUT?\

Campanha salarial dos Correios, campanha salarial dos metalúrgicos, todo mundo desaparecido, fazendo acordos abaixo da inflação para não ter marola, porque eles têm medo do proletariado se botar em ação e fazer explodir a situação. Portanto, o proletariado está imobilizado pelos delicados dirigentes burocratas sindicais, mas não está derrotado no sentido de ter uma derrota histórica que o priva das organizações, que foi o que aconteceu na Alemanha, na Itália, na Espanha, onde, ao final do combate, não havia mais organizações proletárias independentes. Nós estamos muito longe disso.

Nós estamos em uma situação mais próxima do Chile de 2019, ou do Equador há pouco tempo, onde uma fagulha pode botar tudo a explodir. E não pensem que no Chile e no Equador não tinha burocratas, iguaizinhos aos burocratas sindicais brasileiros.

E o segundo elemento é a campanha “Feliz 2022 com Lula”. Jogar todas as esperanças não no combate da classe, na organização e mobilização, mas na eleição. E o Lula e o PT são responsáveis inclusive pelo crescimento da votação do Bolsonaro, que ameaça. Ah, como são responsáveis? Uma campanha feita pela internet, buscando impedir a realização de grandes comícios, grandes mobilizações. Fizeram uma ou outra, mas para inglês ver. Isso permite ao Bolsonaro, por exemplo, essa semana, em Pelotas, com um ginásio lotado até a boca de bolsonaristas, dar um verdadeiro tapa na cara do Lula e do PT. Falou “Vejam o que está aqui na minha frente! Isso é povo. O outro lado não consegue reunir ninguém. Como é que eles vão ganhar? Nós é que reunimos gente, nós botamos o povo na rua”. 

Isso é o tapa na cara daquele que é o maior partido da história do Brasil. Até hoje é o maior partido, do ponto de vista geral, não só por número de deputados. E do partido que botou milhões e milhões, dezenas de milhões na rua. E ganhou o governo para um operário, para um partido dos trabalhadores. E desse governo, e das prefeituras, e dos governos estaduais levaram uma desilusão tão grande da população que atirou uma parte dessa população nos braços da reação.

A pequena burguesia nunca é independente, ou segue o proletariado ou a burguesia

E aqui, camaradas, a pequena burguesia, que é a base do bolsonarismo, vocês sabem disso. A pequena burguesia, o Marx já mostrou, o Trotsky mostrou, o Lenin mostrou e eu não tenho tempo só pra fazer a leitura das citações que eu separei, mas eles explicam fundamentalmente: existe na sociedade capitalista duas classes fundamentais – a burguesia e o proletariado; entre elas, há uma imensa quantidade de classes sociais. 

O que se chama classe média, é a pequena burguesia, tem mesmo entre ela gradações. Tem a pequena burguesia pequena, tem a alta pequena burguesia. Por exemplo, um médico que ganha 80, 100 mil reais por mês, ele é da alta pequena burguesia. E essa pequena burguesia, ela permanentemente, em condições normais do capitalismo, ela inveja e quer ser como a burguesia. A possibilidade de ser um empreendedor, de fazer um negócio, de ganhar dinheiro e passar para uma classe que é a classe que dirige a sociedade. 

Agora, o imperialismo só propicia pauperização da pequena burguesia. Então essa pequena burguesia se divide. Uma parte adere diretamente à burguesia em qualquer condição e outra parte pode aderir ao proletariado, se o proletariado estiver em movimento, apontando uma saída. E não me digam que não foi o que aconteceu no Brasil nas últimas décadas. Ou por que vocês acham que o Bolsonaro faz 70% a 30% em Santa Catarina hoje, sendo que no passado o Lula ganhava as eleições em Santa Catarina?

No Rio Grande do Sul, o bolsonarismo tem mais votos do que o PT, aliado com o PSOL, mas quantos governos do estado teve do PT no Rio Grande do Sul? E prefeituras? Não me venham chamar o povo gaúcho, catarinense, paulista, carioca, de qualquer lugar do Brasil de “o povo é reacionário”. Quer dizer, quando essa pequena burguesia seguiu o proletariado, porque o proletariado estava em combate, parecia na ofensiva, abrindo uma saída, aí era legal a pequena burguesia. 

Quando ela se desespera, porque os dirigentes petistas traíram suas causas, seus sonhos e levaram à situação de um impasse, sem saída, agora eles são reacionários porque buscam colocar as esperanças no salvador da pátria que é essa escória Bolsonaro e bolsonarista. Esse é o lugar da pequena burguesia na história. Uma hora para direita, uma hora para esquerda. E sem ação do proletariado, da luta de classes, abrindo uma saída política, esse é o caminho da reação.

Agora, não é porque os dirigentes dos partidos de esquerda, ou os dirigentes dos sindicatos não querem abrir uma saída, que o proletariado não abra a saída. Ou vocês acham que os dirigentes sindicais que estão, nesse momento, dirigindo as greves poderosas na Inglaterra, vocês acham que eles estão à esquerda da direção da CUT? Não, camaradas, eles estão muito à direita. Vários deles, por exemplo, o ex-presidente do sindicato nacional de metalúrgicos britânico era Sir, Sir! Era lorde. Agraciado pela rainha.

No congresso nacional do Labour Party, duas semanas atrás, o Starmer, o secretário geral, fez o congresso fazer um minuto de silêncio pela morte da rainha e depois cantar God Save The King (Deus salve o rei) para o Charles. O congresso do partido trabalhista, laborista, Labour Party! No entanto, as greves pululam.

E vocês acham que os dirigentes sindicais do Irã são melhores do que os daqui? A classe vive da luta de classes. O mundo é luta de classes. E luta de classes significa que há certos limites que não podem ser ultrapassados sem combate. É muito mais fácil defender conquistas do que convencer a maioria do proletariado a ir buscar novas conquistas. E, em geral, na linha de defesa de conquistas é que o proletariado toma forças, se fixa e toma o empuxe para arrancar novas conquistas. Sempre foi assim. Essa é a história da classe e da luta de classe. 

Bolsonaro, o Congresso e a situação da classe trabalhadora

Portanto, o Bolsonaro tem maioria no Congresso novo agora. Ah, mas ele já tinha agora. E por que ele não fez as maldades que ele quer fazer no próximo governo e não fez agora? Ele tinha a maioria, tranquilo para fazer. Inclusive antes das eleições até o presidente do senado estava com ele, tudo certinho. Por que não fez? Porque a realidade é que não é o congresso que decide, não é a presidência que decide. Como não é o Putin que decide na Rússia. É a luta de classes. 

O Bolsonaro não aplicou todo o programa do capital financeiro do Paulo Guedes, que era retirar todas as conquistas, acabar com férias, ele não retirou porque ele não conseguiria fazer isso. E mesmo o congresso não ia votar isso. Porque esses políticos são cada um por si e deus por todos. Eles não aprovaram o piso nacional dos enfermeiros? Ah, era demagogia? Bom, pode ser demagogia, mas agora tem um problema que tem que resolver. Ou vocês acham que os enfermeiros vão aceitar que “Ah, então tá, não tem dinheiro então a gente não vai ganhar”. Esse troço não acabou, esse combate não acabou.

Alan Santos/PR

Então, nós estamos numa situação onde o Brasil está sendo desindustrializado, existe um desemprego monstruoso do tamanho da população de Portugal, no Brasil, desemprego oficial e mais 15, 16 milhões de subemprego, trabalho precário, bico. Portanto nós temos 25 milhões de desempregados, na verdade, nesse país. E isso é um peso forte na cabeça dos proletários que estão trabalhando. E cujos dirigentes sindicais recusam abrir o combate, reunir com os desempregados, trabalhadores desempregados e obrigar a patronal a ceder e o governo a recuar.

Então, desamparados pelos seus dirigentes, traídos pelos seus dirigentes, o proletariado ainda está ameaçado por um desemprego brutal que está na sua porta. Abriu a boca dentro da fábrica? Fora que tem dez para entrar no teu lugar. Vocês sabem disso. Por isso, durante a pandemia, um monte de categoria de trabalhador levantou a mão na assembleia, junto com o dirigente sindical que queria aquilo, votando por redução salarial. Em nome de “oh, vamos salvar o emprego, mesmo que não dê para manter o salário”.

Então isso causa uma impotência. O que não quer dizer que no próximo período não podemos ter uma explosão revolucionária nesse país. E o peso do proletariado no Brasil é muito diferente do Chile, do Equador, do Peru, mesmo da Argentina. Então, a perspectiva é que a luta de classes resolva isso.

A política de Lula pode levar à derrota

Então alguém me pergunta: nós estamos numa situação onde está garantido que o Lula vai ganhar as eleições agora dia 30? Eu queria dizer que não está nada garantido. O mais provável é que ganhe? 

É, é provável que ganhe. Tem a grande probabilidade de ganhar. Mas você não pode garantir isso. Vocês viram a surpresa que foi para todo mundo o crescimento do Bolsonaro de 30 e poucos para 44% no primeiro turno. E lembrem: os eleitores da Simone Tebet e do Ciro se dividiram quase ao meio, metade indo pro Lula, metade para o Bolsonaro. Mesmo que fosse um pouco mais para o Lula. Mas lembrem que tem 32 milhões que não foram votar. Se uma parte desses 32 milhões resolver votar, a eleição pode mudar completamente. Se houver uma abstenção maior no Nordeste, o Lula pode perder a eleição. Se houver um comparecimento maior no Sudeste, no Sul, o Lula pode perder a eleição. Então não existe nada ganho aqui.

Lula recebe apoio de Eduardo Paes e de políticos do PSD – Ricardo Stuckert, Fotos Públicas

Na situação atual, inclusive a pesquisa que saiu ontem, diz que o Lula continua na frente. Agora, ele continuar na frente a 15 dias da eleição não significa que ele vai ganhar as eleições. O Lula está fazendo tudo para perder as eleições. E a responsabilidade é diretamente dele. Quando você olha o palanque onde está Alckmin, Tebet, Carlos Lupi do PDT, PSB, está a caterva toda que foi o Fernando Henrique Cardoso, toda a velharia, o Sarney, o Calheiros, aqueles que o povo identifica como a coisa velha, foram os governantes. Porque o povo não identifica exatamente “ah que, ah, tá com os deputados lá que eram antigos”. Esses caras não aparecem muito como os governantes. Os governantes, em geral, são aqueles que são executivos, ou protagonizam o congresso, o parlamento, o senado etc.

E o Lula está fazendo tudo isso. Obviamente que ele não precisava do apoio da Simone Tebet, nem do Carlos Lupi para que os eleitores da Simone Tebet e do Ciro se dividissem em Bolsonaro e Lula. Esses eleitores iam escolher. E também não iriam para casa como o Ciro ir para Paris no segundo turno da outra eleição.

Então, o que nós temos nessa situação atual é uma responsabilidade muito grande da direção do PT e do Lula. E não é só do Lula, é da direção do PT, porque o PT é um partido. E uma coisa que vocês devem ter ouvido falar nos últimos tempos é que, durante o primeiro turno, tinha estados aonde não chegou material do Lula para ser distribuído. Vocês acreditam em um negócio desse? 

Tem que ter uma confusão política estabelecida no comando, onde são verdadeiras frações, falanges e quadrilhas se matando pelo seu candidato proporcional, ou o seu candidato a governador e tal e botando no lixo a campanha nacional. O PT recebeu 126 milhões do fundo eleitoral. E não tinha material em Minas Gerais? Não tinha material em Santa Catarina? Como é que pode um negócio desse? Significa que tem uma guerra de frações lá dentro, onde está cada um tentando salvar a sua burocracia, a sua fatia de parlamentares, governadores, senadores etc. Na verdade, esses caras estão muito longe de ter o interesse geral no povo. 

O esquerdismo e oportunismo das seitas autoproclamadas

E aí entra, só para fazer uma citação, o lugar do esquerdismo. O PSTU, a UP, o PCB tem o direito de lançar candidato no primeiro turno? Tem todo o direito. Tem todo o direito. E tem todo o direito também de ser criticado quando o que eles fazem é uma linha auxiliar da direita. Porque, por exemplo, vamos pegar o Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul tinha uma frente PT-PSOL. E vocês sabem por quantos votos o candidato do PT não foi para o segundo turno contra o Onyx Lorenzoni? 2450 votos. Vocês sabem quantos votos tiveram UP, PCB e PSTU? 10 mil. 

As seitas têm o aspecto de pensar pequeno, medíocre, no seu próprio aparelhinho. E todos eles estavam preocupados em fazer o máximo de votos para deputado, em particular, por isso o PSTU abriu o partido, para o tal polo alternativo revolucionário, para deputados, para fazer votos que vão se transformar em reais no fundo eleitoral da próxima eleição. 

Porque era evidente, se você está com 0,03 na campanha e o candidato do PT e do PSOL, coligados, era uma frente de esquerda, em tese, está a 0,01 de passar pro segundo turno, a única posição responsável de um partido que se reivindica dos trabalhadores, do socialismo, é chamar todos os seus eleitores a botar o voto e levar o Edegar Pretto do PT e do PSOL para o segundo turno. E polarizar o Rio Grande do Sul entre a candidatura Lula e Bolsonaro.

Na atual situação, nossa posição não tem que ser não vá votar, vote nulo. Vote em Lula contra Bolsonaro, porque votando Lula, elegendo Lula, nós estamos enfrentando o Onyx e o Leite que são dois bolsonaristas. Bom, eu não quero perder tempo mais com o esquerdismo, porque não tem muito significado.

Independência de classe, lutar para varrer Bolsonaro e pelo socialismo  

Nós não podemos, no Rio Grande do Sul e em nenhum outro lugar, um marxista bolchevique, um trotskysta, votar em um candidato burguês porque é menos pior do que o outro. Aliás, isso seria uma profunda ilusão de que o candidato burguês Onyx tem um programa diferente e pior do que o programa do Leite. Há diferenças e diferenças entre um bolsonarista e um psdbista. No entanto, camaradas, o programa fundamental deles é um só, na burguesia do mundo inteiro. É atacar a classe trabalhadora. 

“Ah, mas um ataca mais violento.” É? Quem atacou mais violento do que o Lula e a Dilma? Quem atacou? Botando inclusive uma fragata de guerra apontando o canhão para os petroleiros que se manifestavam contra o leilão do pré-sal. 

Buscar uma diferença e dizer que, “Ah, não, vou votar no burguês menos pior”, é o abandono completo do marxismo, da independência de classe, do trotskysmo. E é acreditar que são os executivos e os parlamentos que decidem a vida do povo. Não, o parlamento e o executivo são uma expressão formada no combate da luta de classes. E a nossa posição tem que ser de ajudar a reconstruir a consciência de classe no Brasil que o Lula se empenhou em destruir, dos anos 80 até agora.

O surgimento do PT e da CUT transformaram o proletariado brasileiro de classe em si em classe para si, que tinha um combate objetivo, imediato e histórico a desenvolver. O Lula está transformando, trabalhando para liquidar essa consciência de classe dizendo que são os democratas contra os fascistas. E aí os democratas podem ser o Alckmin da Opus Dei, pode ser qualquer um, os caras do capital financeiro, como o Pérsio Arida, Armínio Fraga, toda essa canalha. Então, votar no burguês menos pior é um abandono de base do marxismo… E, portanto, a nossa linha é: vote em Lula no segundo turno para derrotar os bolsonaristas e os seus consortes.

Alguém poderia dizer “Bom, mas se o Bolsonaro ganha no segundo turno, aí então…” A imprensa já começou a dizer isso. Se isso acontecer, que na minha opinião não é o mais provável, mas pode acontecer, pode acontecer, o Lula é capaz de conseguir fazer isso, a situação seria desesperada porque o Bolsonaro tem maioria no congresso, aí ele vai botar para dezenove membros no STF e aí, então, ele vai ter o controle de tudo.

STF, tentativa bonapartista de salvar as instituições em ruínas atacando a classe trabalhadora

O STF está sendo apresentado, inclusive por gente de esquerda, como o núcleo fundamental de oposição ao governo Bolsonaro. Me desculpem, isso é rir da cara do proletariado brasileiro. O STF não tem parado de retirar direitos em nenhuma possibilidade. Cada vez que ele pode ele tira um direito. Ele cancela o piso nacional dos enfermeiros dizendo “ah, cadê o dinheiro?”. O dinheiro está no pagamento da dívida, seus palhaços. O dinheiro está lá e se não tiver dinheiro paga os caras e deixa de pagar a dívida.

Não, o STF é apresentado como oposição, única oposição real, anteparo ao governo Bolsonaro. E daí ele faria maioria, aí então ele transforma todas as leis e ele faria, digamos assim, a linha do que o Orbán fez na Hungria e que, eles dizem que, o Chávez fez na Venezuela.

Camaradas, ele pode ter maioria. Se ele não quiser mais nove caras no STF, ele tem maioria no congresso para destituir todos os membros do STF e que é o Senado que exclui por maioria simples, e põe outros. E vocês acham que isso vai mudar fundamentalmente a luta de classes aqui no Brasil? Não, a luta de classes está nas fábricas, nas ruas e nas escolas. Na juventude, por suas reivindicações, por um futuro.

O corte da educação, suspenderam a aplicação? Mais ou menos. Em vários lugares já estava tudo parado. A ameaça, a assembleia massiva na UFBA, no Rio de Janeiro, chamados a mobilizações da Andes, da UNE etc., fizeram os caras levantar a mão antes do segundo turno. Mas, vocês acham que eles não vão aplicar isso em novembro? É a luta de classes que define tudo. Inclusive o que faz ou não um parlamento.

Se você somar o número de parlamentares de esquerda na constituinte de 88, que foi onde o proletariado mais empurrou conquistas, o número da esquerda era irrisório, camaradas. Só que aquele tropa avançada tinha milhões e dezenas de milhões na rua apoiando. E, aí aquela maioria reacionária do congresso falou “realmente, isso aqui tá certo, voto a favor, olhem eu tô votando a favor”. É a luta de classes que define se eles tiram direitos conquistados, ou não.

O Lula e a direção do PT trabalham para destruir a consciência de classe, cujo corolário seria um governo capaz de destruir as organizações operárias, fechar sindicatos ou intervir em todos eles, fechar os partidos de esquerda e os jornais de esquerda, neutralizar de tal maneira a classe que ela levasse décadas para se recompor. Em determinado momento ia se recompor, porque o mundo não pode viver sem o proletariado e o proletariado tem que lutar pela sua sobrevivência e pela sua prole, pelos seus filhos, seus descendentes, que vão ser novos proletários. É a luta de classes, é Marx.

Me digam, que país, mesmo os que passaram pelo fascismo, qual a situação dos operários na Itália hoje, na Alemanha hoje? Eles recompuseram e reconquistaram mais do que tinham antes. A luta de classes é inextinguível. Nesse sentido, camaradas, é que eu queria dizer que só desanimados, covardes, os que querem fugir ao primeiro brado de um bolsonarista, esses não vão ter lugar na luta de classes, esses não vão ter lugar no partido da revolução para dirigir uma revolução.

Defender a consciência de classe, organizar, mobilizar e construir, nossas tarefas urgentes

Nós temos que enfrentar toda a situação política com uma perspectiva da história e não da semana que vem. Nós podemos sofrer muitas derrotas, no sentido de perder a greve, perder conquistas, mas se nós mantemos as organizações e o proletariado continua agrupado, ele vai se recompor, vai expulsar os dirigentes burocratas, vai reconstruir uma nova vanguarda. Como vocês acham que nós fizemos em 80, 79, 78, 80, quando nós tivemos que expulsar dos sindicatos, por eleição ou na porrada, burocratas do PTB e os traidores do PC e do PCdoB? E do MR8. 

E construiu-se uma nova vanguarda nesse combate, que construiu um partido que era um partido operário independente. A primeira tarefa desse partido foi construir uma central sindical, ilegal. Ilegal. E se construiu a maior central sindical desse país. Aliás, a única grande central sindical. A segunda maior das Américas. Então, é a luta de classes que define tudo. Por isso ânimo, ânimo, ânimo é a nossa palavra de ordem.

Eu quero ir em direção à conclusão dizendo o seguinte: toda rotina tem que ser rompida. Um esforço enorme de participar das atividades presenciais. Manifestações, assembleias, onde tiver. E com orgulho nosso jornal, nossa camiseta. Enfrentando as adversidades que vão se transformar em alegria e felicidade na construção da organização, nos próximos passos do proletariado e da juventude. Nenhuma rotina. 

A nossa juventude, a juventude Liberdade e Luta, ela tem que ser uma juventude que faça música revolucionária, que organize um festival de música revolucionária contra o Bolsonaro, que vá festivamente participando, mas politicamente, politizadamente e radicalizadamente participar das manifestações, como essa palavra de ordem que os camaradas de Joinville definiram essa semana. 

Os nossos companheiros, os nossos camaradas de Movimento Mulheres pelo Socialismo, Movimento Negro Socialista, movimento sindical tem que voltar os seus olhos diretamente para a juventude. Diretamente para a juventude. E ir com ânimo falar de socialismo e revolução. De que precisa varrer Bolsonaro, não compactuamos com o reformismo, com as alianças com a burguesia. O futuro dessa juventude só pode ser estabelecido no combate revolucionário contra o sistema. Contra todo o capitalismo, por um novo tipo de sociedade, o socialismo internacional. O socialismo aqui no Brasil e em todo mundo. Olhem como lutam as iranianas! Assim que nós temos que lutar.

Vocês lembram que durante a primavera árabe, em greves nos EUA apareciam cartazes “Lute como um egípcio”, porque eles estavam fazendo uma insurreição e derrubando um governo atrás do outro. Esse é o combate! 

Esse é o combate. Portanto daqui, até o dia 30, e depois, nós temos dois combates a fazer: 1- todo voto no 13, no Lula e no PT, no candidato do PT, derrotar Bolsonaro e varrer essa escória; 2- agitar essa explicação, de que a situação, em qualquer circunstância, é a luta de classes, a luta pelo socialismo, a luta contra a reação que vai resolver, que vai definir o futuro. No dia 1º de novembro, o bolsonarismo não vai ter desaparecido. Ele vai estar mais enfraquecido se perdeu a eleição. Vai se dispersar uma parte, mas uma parte vai se reagrupar, com o Bolsonaro. A parte mais dura, mais violenta.

Lugar à juventude!

E nós temos que nos dirigir ao proletariado e à juventude, dizendo que nos próximos tempos, nós vamos ter que estar muito organizado e mobilizado para se houver qualquer manifestação bolsonarista contra os sindicatos, contra os instrumentos, contra os trabalhadores, nós vamos pro pau. Nós não caímos no canto pacifista da defesa da democracia do Lula e dos seus, da sua entourage. Nós sabemos que a luta de classes, em última instância, entre a reação e a revolução, se resolverá pela guerra civil. E não há outra maneira, senão explicar isso para a juventude e para os trabalhadores. 

Então cada um que está participando dessa discussão agora tem obrigação de entrar nas redes sociais e escrever sobre isso. E divulgar para todo lado. Agora nós não estamos com um candidato em cada lugar. Nós estamos fazendo um combate amplo, que é fruto do combate que nós fizemos no primeiro turno, onde reunimos centenas de contatos e agora, junto com os contatos da Universidade Marxista Internacional, que eram 263, mais os que nós reunimos agora na campanha eleitoral do primeiro turno, com os nossos candidatos e nos CRs (Comitês Regionais), transformar todos esses contatos em divulgadores do combate que tem que ser feito. 

E a nossa plataforma sempre deve estar indicada: “aqui veja a nossa plataforma integral. Vamos ao combate!”

E transformar esses contatos, esses simpatizantes em militantes revolucionários organizados, porque militante comunista que não está organizado não é comunista. É um simpatizante do comunismo. O comunista é aquele que está organizado. Que está organizado não só numa organização nacional, mas numa seção nacional de uma verdadeira Internacional. Capaz de ajustar sua tática à realidade e não agir como uma pequena seita ou um aparato reformista. E essa é a realidade que nós enfrentamos hoje.

Então em todos os lugares, nas redes sociais, nas assembleias que tiver, nos atos que acontecer, nas panfletagens que forem organizadas por qualquer um que esteja defendendo o voto para derrotar o Bolsonaro, o voto no 13, nós devemos estar lá, nós devemos estar lá, vamos ser os mais intransigentes, e que não poupa críticas, porque o nosso apoio incondicional ao voto no Lula inclui que nós temos o direito e o dever, a obrigação de fazer todas as críticas, porque sem a crítica marxista, sem a crítica bolchevique, não há saída. E a saída é a luta pela revolução socialista, pelo socialismo e pela Internacional. 

Nós vamos vencer, camaradas. Nós vamos construir a organização e nós vamos vencer! A revolução socialista virá. O combate é nosso. A tarefa é construir a organização e combater pela revolução socialista no Brasil e em nível internacional. 

E nós vamos vencer, nós somos capazes! Há muitos problemas, mas nós estamos aqui. Nós somos os bolcheviques. Aqueles que, frente aos problemas, buscam resolvê-los. E não se paralisar ou se abater. Nós somos os irredutíveis combatentes pela revolução socialista internacional. E é esse o ânimo que nós temos que passar para todos os nossos contatos, para todos os nossos conhecidos, para ajudar no empuxe, na derrota do Bolsonaro e na construção da nossa organização. Porque uma coisa sem outra, não serve.

Informe aprovado por unanimidade pelo Comitê Central da Esquerda Marxista em 15/10/2022.