Nos momentos de acirramento de crise econômica, as mulheres são uma das primeiras a sentirem o chicote contrarrevolucionário. Estão mais expostas às demissões ou mesmo são preteridas na contratação por conta dos direitos ligados ao sexo. O caso se agrava ainda mais no caso da mulher negra, como demonstramos em nossa “Plataforma Política de luta Pela Emancipação da mulher trabalhadora – Parte 1”: “A mulher negra no Brasil tem sua trajetória social marcada pela escravidão. Além dos trabalhos forçados, dos castigos, dos abusos sexuais por parte dos senhores e das humilhações, ainda estavam submetidas à ‘sinhá’ nas casas grandes” (Revista América Socialista, n°8, p.44)
Não é de se estranhar que a primeira Greve Geral do Brasil, que iniciou em junho de 1917 e durou por 30 dias, tenha tido em sua dianteira as mulheres. O Movimento começou com a maioria feminina entre os 400 operários da fábrica têxtil Contonifício Crespi e se espalhou rapidamente por outras fábricas de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Neste período o operariado feminino já ultrapassava os 50% do total, chegando em 1920 a 60% entre mulheres e meninas. Os grevistas de 1917 reivindicavam incialmente por aumento do salário, pela redução da jornada de trabalho para 8h e semana inglesa, aumento de 35% nos salários inferiores a $5000 e de 25% para os mais elevados, fim do trabalho para menores de 14 anos, abolição do trabalho noturno para mulheres, entre outras exigências parciais. À medida que a greve avançava as lutas parciais, ligadas ao aspecto econômico, puderam tomar uma tonalidade mais propriamente política, agregando a luta pela libertação dos presos durante o movimento, direito de associação para os trabalhadores e que nenhum operário fosse despedido por ter participado da greve.
Um motivo específico dessa insurreição e que nos salta aos olhos é a permanência do assédio sexual outrora exercido sistematicamente sobre a mulher escrava. Nas indústrias, os malfeitores são os que ocupam os cargos de chefia e as vítimas não mais se restringem à cor da pele e sim à classe social que ocupam. Como se já não bastasse a carga opressiva da tripla jornada de trabalho sobre a mulher, que historicamente agregou os papéis de mãe e única responsável pelos trabalhos domésticos.
No entanto, é preciso dizer que no caso de 1917 essa pressão exercida sobre as mulheres brasileiras não se dava por conta de uma crise econômica da indústria que as lançasse no desemprego e sim pelo contrário. Com a destruição das forças produtivas durante a Primeira Guerra, os produtos brasileiros ganharam um espaço significativo no mercado internacional. Isso exigiu um aumento na produção que não foi acompanhado do aumento do salário. O aparente progresso gerado pelo crescimento da indústria não se convertia na melhoria das condições de vida dos proletários, pois, desde 1914, isto é, desde o início da Primeira Guerra Mundial, o poder aquisitivo dos trabalhadores havia diminuído e a inflação aumentado.
A precariedade dos meios de produção da indústria nacional exigia um acirramento da exploração do trabalho. As jornadas de trabalho chegavam a se estender por 16 horas diárias sem ter necessariamente um aumento salarial, pois ainda não se havia consolidado a legislação trabalhista, que apenas será conquistada 26 anos mais tarde. Além disso, a baixa produtividade impedia que se acumulasse um excedente para estoque. Este último fator foi fundamental para o sucesso parcial da Greve Geral, pois, ao parar a produção, a classe operária causava um prejuízo real ao patrão, já que não conseguia sequer suprir o mercado mais imediato. No entanto, por ainda não haver leis trabalhistas ou uma organização sindical que assegurasse o cumprimento das exigências feitas pelos grevistas, a maior parte das reivindicações foi sufocada pela repressão; apenas o aumento salarial e a redução da jornada de trabalho foram mantidos em alguns casos.
A vitória e a derrota parcial do movimento, vista pelo viés marxista, demonstram a necessidade de construção de um Partido Revolucionário que possa agir dentro de sindicatos independentes para levar a espontaneidade do movimento em direção à sua organização consciente. Somente assim as conquista podem se tornar duradouras diante da reação da burguesia e de seu estado opressor.
Outra lição que deve ser retirada da Greve Geral de 1917 diz respeito à importância da organização das mulheres trabalhadoras lado a lado com os trabalhadores, pois, somente assim, a classe trabalhadora cumprirá seu destino histórico: a revolução e a conquista do poder!