Se depender do PT e direção da CUT, Fora Temer será esfriado até dissipação.
As manifestações de 10 de junho, convocadas pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com o eixo “Fora Temer! Nenhum direito a menos, não ao golpe!”, reuniram um número bem abaixo dos atos massivos contra o impeachment ocorridos em março e abril.
Em São Paulo, no dia 10, o ato na Avenida Paulista reuniu cerca de 20 mil ativistas. Um número reduzido se considerarmos a capacidade de mobilização que deveriam ter os aparelhos que fizeram o chamado, em especial a CUT.
Isso mostra o motivo pelo qual a CUT se recusou a fazer deste um dia de Greve Geral. Anos de burocratização, de acordos a portas fechadas com os patrões, de primeiros de maio de shows, reduziram brutalmente a autoridade política e a capacidade de mobilização da central e de seus sindicatos, que preferem, majoritariamente, o tripartismo à luta de classes.
O que houve em comum entre o 10 de junho e o 18 de março, data da primeira grande manifestação contra a direita, foi o discurso “balde de água fria” de Lula.
Quando ainda esperava ser ministro chefe da Casa Civil, Lula declarou para uma massa nas ruas que, ao aceitar ir para o governo, tinha voltado a ser o “Lulinha, paz e amor”, para dialogar com “trabalhador, sem terra, pequeno empresário, médio empresário, grande empresário, com fazendeiro, com banqueiro”.
Agora, de volta à Avenida Paulista, Lula disse: “Não posso falar em greve geral porque não estou dentro da fábrica e porque aposentado não faz greve”. E concluiu, na manifestação pelo Fora Temer: “Não vou dizer Fora Temer, não pega bem. Temer é um advogado constitucionalista, deve devolver o poder para uma presidenta legitimamente eleita”. Esse é o discurso de um líder político que teme convocar as massas para a luta, que abandonou sua classe e foi ganho pela burguesia para defender o capitalismo.
Com tal método e política, o da colaboração de classes, Lula e a direção do PT destruíram o partido como ferramenta de luta da classe trabalhadora. Por tudo isso, pelo estelionato eleitoral do governo Dilma, uma campanha pelo “Volta Dilma”, impulsionada pelo PT e abraçada pela CUT, não ganha as massas, não é capaz de parar o país.
Os trabalhadores e a juventude sabem que o governo Dilma estava colocando em prática, ou preparando para colocar, medidas de ataques semelhantes às que Temer tem a missão de implementar. A Reforma da Previdência, o teto para gastos públicos com congelamento do salário de servidores, cortes em áreas sociais, flexibilização das leis trabalhistas, etc.
A esperança de Dilma em voltar está na fraqueza do governo Temer, evidenciada nos seus recuos (recriação do Ministério da Cultura, retorno do Minha Casa Minha Vida Entidades, etc.), na queda de dois ministros em menos de um mês de governo, na cúpula do partido do presidente, o PMDB, que está sob ameaça de prisão.
Como explicou Dilma em entrevista à TV Brasil, a tática para barrar o impeachment no Senado é apresentar a proposta de um pacto, em que chamaria um plebiscito para o povo opinar sobre novas eleições presidenciais. Ou seja, propõe uma saída para estabilizar as instituições capitalistas diante da crise de desmoralização generalizada.
A maioria da população está observando todo o cenário. Conclui a cada passo do frágil governo Temer que ele não vai trazer nada de positivo. Ao contrário, é um governo com maior unidade no parlamento para atacar mais os trabalhadores.
Nesse caminho, de ataques e resistência, as massas vão entrar em cena, como ocorre no maravilhoso levante do proletariado francês contra as mudanças nas leis trabalhistas.
A Esquerda Marxista esteve nos atos do dia 10, vendendo o jornal Foice&Martelo, difundindo panfletos e dialogando com os manifestantes, apresentando as nossas posições.
Estamos nas ruas e nas lutas, combatendo por uma saída que aponte que a classe trabalhadora, que produz toda a riqueza social, é capaz de decidir os rumos do país e do mundo.
Fora Temer e o Congresso Nacional!
Por uma Assembleia Popular Nacional Constituinte!
Por um Governo dos Trabalhadores!
Editorial publicado na edição 90 do jornal Foice&Martelo, de 15 junho de 2016.