Marx, Engels e a 1ª Internacional

No dia 28 de setembro de 1864, em um evento no Saint Martin’s Hall, em Londres, foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), posteriormente conhecida como 1ª Internacional. Marx e Engels foram os principais dirigentes dessa organização que buscou reunir diferentes tendências do movimento operário internacional.

No dia 28 de setembro de 1864, em um evento no Saint Martin’s Hall, em Londres, foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), posteriormente conhecida como 1ª Internacional.

Karl Marx, presente no evento, ficou mandatado de escrever o estatuto provisório e a mensagem inaugural da Associação. Nessa mensagem, dizia:

 “… A experiência do passado nos ensina que são necessários laços fraternais entre os trabalhadores de diferentes países para se apoiarem mutuamente em todas as suas lutas pela libertação, e que o esquecimento disso será punido pela derrota comum de suas batalhas divididas. Debruçados sobre esse pensamento, trabalhadores de diferentes países, reunidos em um encontro público no Saint Martin’s Hall, em 28 de setembro de 1864, resolveram fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores.”

A 1ª Internacional buscou reunir diferentes tendências do movimento operário internacional. Em sua fundação estavam presentes cooperativistas proudhonistas, republicanos, sindicalistas, blanquistas e socialistas.

Antecedentes

Em 1848, uma onda de revoluções sacode a Europa. Em fevereiro do mesmo ano, Marx e Engels publicam o Manifesto Comunista mandatados pela Liga dos Comunistas, organização que também buscou  reunir militantes operários de diferentes países.

No Manifesto, Marx e Engels já expressavam a necessidade da luta unificada da classe trabalhadora. O que fica simbolizado em seu chamado final: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”. Lema que Marx vai repetir 16 anos depois ao final da mensagem inaugural da AIT.

Após as derrotas das revoluções de 1848, ocorre um período de forte repressão e desagregação do movimento operário. Marx descreve esse período:

“Após o fracasso das Revoluções de 1848, todas as organizações partidárias e jornais partidários das classes operárias foram, no Continente, esmagados pela mão de ferro da força, os mais avançados filhos do trabalho fugiram desesperados para a República Transatlântica e os sonhos efêmeros de emancipação desvaneceram-se ante uma época de febre industrial, de marasmo moral e de reação política.”

Isso começa a se reverter no final dos anos 50 e início dos 60. Nesse período, ocorre a derrota das forças ultraconservadoras no Sul da Itália para os “camisas vermelhas” comandados por Giuseppe Garibaldi. A guerra civil nos EUA, que culmina com a promulgação da XIII Emenda em 1863 (a abolição da escravidão no país). Além da rebelião na Polônia contra o Império Russo. As organizações e a luta da classe operária na Alemanha, França e Inglaterra também começam a se agitar.

Nesse contexto, a necessidade de uma organização internacional dos trabalhadores fica cada vez mais evidente. Inicia-se a articulação e troca de correspondências entre sindicalistas ingleses e trabalhadores franceses. O que se traduz na reunião em Londres que funda a 1ª Internacional.

Marx, logo após a fundação, escreve com entusiasmo ao seu amigo Weydelemayer:

“O Comitê Internacional dos Trabalhadores formado recentemente não é secundário. Seus membros ingleses são principalmente os dirigentes dos sindicatos, quer dizer, os verdadeiros senhores do trabalho de Londres, os homens que organizaram a tremenda recepção para Garibaldi e o grande encontro no St. James’s Hall (sob direção de Bright), que impediu Palmerston de declarar guerra contra os Estados do norte, como pretendia. Em relação aos franceses, os membros do comitê não são muito importantes, mas são representantes diretos dos trabalhadores em Paris. Relações também foram estabelecidas com associações italianas, que realizaram seu Congresso em Nápoles recentemente.”

As tendências na Internacional

Congresso de 1866 da 1a Internacional

Como já dito, a AIT reuniu diferentes tendências ideológicas do movimento operário. Com o passar do tempo, as ideias de Marx e Engels, o socialismo científico, passaram a ser dominantes em relação às demais. E os dois, os principais dirigentes da internacional.

Uma das tendências era a dos blanquistas, nome dado aos seguidores das ideias do revolucionário francês Louis Auguste Blanqui (1805-1881). Propunham, em resumo, a tomada do poder através de um golpe dado por um pequeno grupo de revolucionários. Engels diria sobre Blanqui:

“Blanqui é essencialmente um político revolucionário. Ele é um socialista só através de sentimentos, através de sua simpatia para com o sofrimento do povo, mas ele não tem nem uma teoria socialista, nem quaisquer sugestões práticas definitivas para soluções sociais. Na sua atividade política, era essencialmente um “homem de ação”, acreditando que uma pequena minoria bem organizada iria tentar um golpe de força política, no momento oportuno, e poderia levar a massa do povo com eles, através de alguns êxitos e assim dar início a uma revolução vitoriosa.”

Outra tendência era a anarquista. A ala proudhonista, sob influência das ideias de Pierre-Joseph Proudhon, participou desde o início da Internacional. Ao invés da necessidade de tomada do poder do Estado pelo proletariado para por fim à propriedade privada dos meios de produção, com estatização e planificação da economia sob o controle operário, defendiam o modelo de ampliação das cooperativas, as associações de crédito (bancos que não cobrariam juros), a autogestão por meio das unidades cooperadas que se organizariam por meio de federações.  Marx já havia combatido as ideias de Proudhon em seu livro Miséria da Filosofia, uma resposta à obra Filosofia da Miséria de Proudhon.

No manifesto inaugural da AIT, Marx busca habilmente contemplar as experiências dos proudhonistas sem abdicar de uma posição comunista:

“Mas, estava reservada uma vitória ainda maior da economia política do trabalho sobre a economia política da propriedade. Falamos do movimento cooperativo, especialmente, das fábricas cooperativas erguidas pelos esforços, sem apoio, de algumas ‘mãos’ ousadas. O valor destas grandes experiências sociais não pode ser exagerado. Mostraram com fatos, em vez de argumentos, que a produção em larga escala e de acordo com os requisitos da ciência moderna pode ser prosseguida sem a existência de uma classe de patrões empregando uma classe de braços; que, para dar fruto, os meios de trabalho não precisam ser monopolizados como meios de domínio e de extorsão contra o próprio trabalhador; e que, tal como o trabalho escravo, tal como o trabalho servo, o trabalho assalariado não é senão uma forma transitória e inferior, destinada a desaparecer ante o trabalho associado desempenhando a sua tarefa com uma mão voluntariosa, um espírito pronto e um coração alegre. Na Inglaterra, os germes do sistema cooperativo foram semeados por Robert Owen; as experiências dos operários, tentadas no Continente, foram, de fato, o resultado prático das teorias, não inventadas, mas proclamadas em alta voz, em 1848.”

“Ao mesmo tempo, a experiência do período de 1848 a 1864 provou fora de qualquer dúvida que o trabalho cooperativo — por mais excelente que em princípio [seja] e por mais útil que na prática [seja] —, se mantido no círculo estreito dos esforços casuais de operários privados, nunca será capaz de parar o crescimento em progressão geométrica do monopólio, de libertar as massas, nem sequer de aliviar perceptivelmente a carga das suas misérias. É talvez por esta precisa razão que nobres bem-falantes, filantrópicos declamadores da classe média e mesmo agudos economistas políticos, imediatamente se voltaram todos com cumprimentos nauseabundos para o preciso sistema de trabalho cooperativo que em vão tinham tentado matar à nascença, ridicularizando-o como Utopia do sonhador ou estigmatizando-o como sacrilégio do Socialista. Para salvar as massas industriosas, o trabalho cooperativo deveria ser desenvolvido a dimensões nacionais e, consequentemente, ser alimentado por meios nacionais. Contudo, os senhores da terra e os senhores do capital sempre usarão os seus privilégios políticos para defesa e perpetuação dos seus monopólios económicos. Muito longe de promover, continuarão a colocar todo o impedimento possível no caminho da emancipação do trabalho.”

“Conquistar o poder político tornou-se, portanto, o grande dever das classes operárias, que parecem ter compreendido isto, pois, na Inglaterra, Alemanha, Itália e França, tiveram lugar esforços simultâneos para a reorganização política do partido dos operários.”

A ala anarquista liderada por Mikhail Bakunin, só entraria na 1ª Internacional em 1868. Os anarquistas repudiavam qualquer tipo de Estado, incluindo o Estado Operário e a ditadura do proletariado, tinham como método as ações violentas realizadas por pequenos grupos. No âmbito da 1ª Internacional, defendiam uma organização não centralizada. Sua tese era de que o movimento livre e espontâneo das massas colocaria fim às classes sociais e à opressão.

Bakunin e seus seguidores tinham uma permanente prática cisionista, incluindo a formação de frações secretas no interior da Internacional. No Congresso em Haia, em 1872, a maioria dos delegados apoia as posições defendidas por Marx e Engels, contra Bakunin, que é expulso.

A Comuna de Paris e a 1ª Internacional

Como consequência da guerra Franco-Prussiana, nasce a Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história, que durou de 18 de março a 28 de maio de 1871. Ela foi esmagada por uma brutal repressão do exército francês, deixando milhares de mortos, presos e exilados.

Membros da Associação Internacional dos Trabalhadores estavam na direção da Comuna, mas eram minoritários. A Internacional também promoveu uma campanha de solidariedade internacional. Marx classificou esse grandioso evento como um “assalto ao céu”.

Entre as causas da derrota, estaria o isolamento e a timidez das ações dos revolucionários, que não tomaram o poder em Versalhes quando poderiam tê-lo feito e nem confiscaram as riquezas depositadas no Banco da França. A falta de um partido revolucionário, a ausência das condições econômicas e políticas, levou a Comuna a uma sangrenta derrota.

Depois disso, a repressão contra o movimento operário ficou mais forte em toda a Europa. A perseguição aos membros da AIT também. Por medida de segurança, a sede da Internacional foi transferida para os EUA em 1872. Devido à fragilidade da organização, que acabara de passar pela cisão com os anarquistas, e as novas condições, que colocavam a necessidade de uma organização fundamentada no materialismo dialético, a 1ª Internacional é dissolvida em uma Conferência na Filadélfia no ano de 1876.

A luta segue

A luta de Marx e Engels pela construção da 1ª Internacional revela que os dois não eram simplesmente teóricos, como alguns acadêmicos gostam de enfatizar, mas sim militantes preocupados com a organização e luta prática da classe operária.  

Marx, enquanto dirigia o combate na Internacional, também não descuidou de sua produção científica. Em 1867, após longo e sacrificante trabalho, é publicado o primeiro livro de O Capital.

Após a morte de Marx (1883), é Engels, que se considerava um “segundo violino” diante da genialidade do amigo, quem dá prosseguimento à obra prática e teórica do materialismo dialético. Em 1889, impulsiona a fundação da 2ª Internacional.

A experiência da 1ª Internacional, as contribuições teóricas de Marx e Engels, foram as bases para o desenvolvimento da luta do proletariado internacional pelo socialismo, que contou também com as valiosas contribuições de Lênin, Trotsky, e do combate dos verdadeiros revolucionários na 2ª, 3ª e 4ª Internacional. Permanece absolutamente atual a necessidade de uma internacional revolucionária de massas! Uma Internacional que aprenda com os erros e acertos do passado para abrir um caminho diante da decadência do sistema capitalista. A Corrente Marxista Internacional e sua seção no Brasil, a Esquerda Marxista, estão no combate para construir essa Internacional.

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Campanha Financeira: Calendário 2014 “150 Anos da 1ª Internacional”

Em 2014, completam-se 150 da fundação da 1ª Internacional.  Em comemoração a essa data a Esquerda Marxista lança o calendário de parede de 2014 com o tema “150 anos da 1ª Internacional”. São diversas ilustrações e fotos históricas. Convidamos todos os nossos apoiadores a adquirirem esse belo material com nossos militantes ou pelo site da Livraria Marxista, colaborando assim, também, com a sustentação financeira independente de nossa organização.