Foto: Joka Madruga/SEEB Curitiba

O programa e a luta necessária para resolver os problemas da classe trabalhadora

O capitalismo encontra-se diante de uma profunda crise, acelerada e aprofundada pela pandemia da Covid-19.

Esse sistema e suas instituições foram criados pela burguesia para atender aos interesses dela, servindo para manter a exploração do povo trabalhador e da juventude. Diante da crise, não se pode ter nenhuma ilusão de que esse sistema terá alguma preocupação efetiva com os trabalhadores e a juventude. No Brasil, os economistas burgueses estimam uma taxa de desemprego de cerca de 17% no primeiro semestre de 2021 e uma inflação de 6,22% entre fevereiro de 2020 e março de 2021, segundo o INPC-IBGE.

Mas por que, diante de tanta exploração, dor, sofrimento e morte, a classe trabalhadora não se levanta e coloca abaixo esse governo e todo o regime burguês?

Inúmeras são as demonstrações frequentes em todo o mundo das massas se mobilizando. Elas se organizam, se levantam, resistem e buscam permanentemente uma saída para sua situação de exploração e opressão. O problema concreto que impede a classe trabalhadora de tomar o poder e resolver definitivamente seus problemas é que as direções das grandes organizações sindicais, estudantis, populares, de “esquerda”, que foram construídas pela classe trabalhadora e pela juventude ao longo de suas lutas, abandonaram os princípios fundamentais de independência de classe e de organização, assim como o combate pelo fim do capitalismo e a luta pela revolução socialista.

A adaptação e burocratização dessas organizações aos governos e ao Estado capitalista e suas instituições podres ficam evidentes a cada texto produzido, a cada intervenção, a cada proposta feita pelos dirigentes das grandes organizações do movimento operário que, por suas traições e adaptações ao sistema, já não acreditam mais na classe que representam.

Esse afastamento de sua base histórica e sua adaptação ao capital ficam explícitos a cada dia. A CUT não é capaz de fazer uma proposta que se sintonize com os desejos da classe trabalhadora que está sem emprego, sem direitos, sem auxílio emergencial, vendo sua miséria aumentar no pior momento da pandemia, sendo ceifada pelo coronavírus e todas as demais mazelas geradas pelo capitalismo.

A direção da CUT mais parece um aparelho de manutenção da ordem vigente do que uma organização de defesa dos interesses da classe trabalhadora e da supressão do capitalismo.

Vale lembrar que a CUT é uma das maiores centrais sindicais do mundo, que nasceu com um programa na linha da independência de classe e do socialismo, que teve papel relevante na derrubada do regime militar e na conquista de direitos na década de 80.

Para enxergar a adaptação e contradição da direção da CUT, e das demais organizações majoritárias do movimento operário, basta analisar a pauta de reivindicação e as propostas de luta apresentadas pela sua direção.

A CUT, que impulsionou a formação do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), órgão para elaborar análises e estudos do ponto de vista dos interesses da classe trabalhadora, explicita uma vez mais sua adaptação abandonando os estudos do Dieese, que apontam que o salário mínimo necessário para uma família suprir suas necessidades deveria ser de R$ 5.375,05, em fevereiro de 2021.

Mais realista que o rei, a CUT não exige sequer um auxílio emergencial com base no salário mínimo nacional de R$ 1.100, que já é uma vergonha. Adota como reivindicação um auxílio emergencial de R$ 600, já aplicado na primeira onda da pandemia e que foi postergado ao máximo pelo governo e não atendeu de fato as necessidades da classe trabalhadora.

As contradições da CUT só aumentam, demonstrando sua adaptação ao Estado capitalista e suas instituições. A pauta da CUT e demais organizações parece ser construída na perspectiva de dar a falsa impressão de que estão lutando pelos interesses da classe, mas é rebaixada, descolada da base e sem qualquer mobilização dos trabalhadores.

Restringem-se a publicações na sua página da internet, não chegando ao chão de fábrica e ao conjunto da classe trabalhadora e da juventude.

Na prática, com essa pauta rebaixada e uma proposta de luta vazia de um dia de lockdown, combinada com a falta de confiança da classe nessas direções, mesmo que essas propostas chegassem à classe trabalhadora, não teriam grandes efeitos, pois elas não resolvem de forma definitiva os problemas da classe, não conquistam e não inspiram confiança das massas.

O que a classe precisa é de um programa emergencial para a crise que apresente soluções efetivas e definitivas para seus problemas, como a suspensão imediata dos despejos por atraso no pagamentos dos aluguéis, suspensão das contas de água e energia, redução de jornada de trabalho para garantir pleno emprego, garantia de um salario mínimo suficiente para uma família suprir suas necessidades – baseado no cálculo de fevereiro de 2021 do Dieese –, reajuste mensal de acordo com a inflação, não pagamento da dívida pública, bem como todos os recursos necessários para garantir renda aos trabalhadores e vacina para todos.

Essa pauta de reivindicações, que atende de fato as necessidades mais sentidas da classe trabalhadora e da juventude, levada a cada local de trabalho, bairro e moradia para construir uma greve geral por tempo indeterminado, para pôr abaixo Bolsonaro, esse sistema e suas podres instituições, poderia mobilizar e reconquistar a confiança da classe trabalhadora, colocando-a em movimento para de fato conquistar suas reivindicações.

A classe trabalhadora não suporta mais esse sistema de morte. O que falta para ela se pôr em movimento e colocar abaixo todo esse sistema é uma direção revolucionária, que lhe apresente um programa emergencial que resolva definitivamente seus problemas, assim como uma forma de luta capaz de derrubar a ordem existente, construindo um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais que aplique seu programa.