Nos dias 29 e 30 de junho a Folha de São Paulo publicou pesquisa mostrando uma queda recorde de Dilma, tanto na aprovação do governo quanto na “intenção de voto”. Caiu de 57% para 30%. As luzes de alarme se acendem em todo o PT e curiosamente, liderado por Aécio Neves, o PSDB corre a declarar que “todos os políticos estão em xeque”.
O movimento das ruas escancarou o que vinha como corrente subterrânea. A inflação está aumentando. A geração de empregos diminuiu. Aumentou a irritação com os gastos para a Copa. Os serviços públicos – transporte, saúde, educação – estão cada vez piores. Tudo isto engrossou o caldo que se transformou em revolta aberta.
E, ao invés de resolver os problemas concretos das massas, o PT engaja-se numa manobra diversionista – plebiscito para a reforma política. Perguntar ao povo se nas eleições ele quer voto distrital ou em lista fechada. Ou se quer financiamento público ou privado para as campanhas eleitorais dos partidos. Isto vai resolver algo dos problemas do país?
Um verdadeiro plebiscito deveria perguntar ao povo se ele quer que continuem entregando mais de 40% do orçamento para os banqueiros e grandes burgueses através do pagamento das dívidas externa e interna; se o povo quer que a Vale, a Petrobras, as cias telefônicas, as elétricas, as ferrovias, as rodovias, os portos e aeroportos devem continuar privatizados ou se as privatizações devem ser revertidas; se o povo quer que as reformas da previdência sejam anuladas acabando com o fator previdenciário; se o povo quer o gatilho salarial e o congelamento das tarifas públicas; se o povo quer que se invista em escolas e hospitais, postos de saúde ou nos estádios da Copa…Tantas perguntas realmente sérias e que, justamente por saber a resposta e não gostar delas, o governo não as quer fazer!
Afinal, o problema do PT se origina no momento em que ele resolve que é melhor governar com a burguesia que contra ela. E diante de tal opção resta uma pergunta: quando vai chegar a vez do peão? Sim, porque se a burguesia ataca o governo pela direita, seu objetivo imediato não é “desestabilizar” o governo, mas levá-lo mais à direita, a tal ponto que ele perca até os 30% que tem hoje e a direita ganhe a próxima eleição sem precisar recorrer a um “salvador da pátria” ao estilo de Joaquim Barbosa, mas sim eleger um representante diretamente seu, como Aécio Neves ou Eduardo Campos.
A crise chegou e se aprofunda
A crise econômica veio para ficar, ao contrário do que diziam os economistas. A questão é que o sistema capitalista produz mais do que pode consumir, tem mais celulares, mais carros, mais comida, mais televisores, mais casas do que os “consumidores” podem comprar. Atenção, a questão sempre é: produz-se mais do que se pode comprar. O sistema pode produzir riqueza suficiente para que todos vivam bem. O problema é que o capitalismo não produz para satisfazer as necessidades humanas e sim para o lucro. E para manter o lucro é necessário aumentar a “produtividade”, ou seja, diminuir a parcela dos salários (diretos e indiretos) e aumentar a parcela da burguesia.
A injeção de crédito barato e fácil supre esta dificuldade durante certo tempo. No Brasil a injeção de crédito permitiu um acesso a um mercado de consumo que não existia antes. Criou esta ficção econômica chamada “nova classe média”. Mas na verdade, concedeu o crédito para uma parcela da classe trabalhadora que antes não o tinha. Mas este milagre, tal qual nos EUA, está chegando ao fim.
Para ser mais exato, o “milagre” chega ao fim no mundo inteiro. Depois da queda espetacular no mercado dos países desenvolvidos em 2008, agora temos o mesmo fenômeno chegando ao fim nos países atrasados. E se a China produzia para os EUA e Europa consumirem, o Brasil fornecia comida e ferro para a China produzir (esta imagem simplória, que todos olham, esquece que os componentes mais “delicados”, de mais alta tecnologia, continuavam sendo fabricados no Japão, na Suíça, na Alemanha, nos EUA, exportados para a China e depois montados lá e exportados para o mundo inteiro). Só que o crescimento do crédito começa a minguar, no Brasil e na China e os EUA resolvem “exportar” sua inflação e a queda do valor do dólar para o mundo inteiro, avisando que vão parar de emitir dólar. As moedas todas se desvalorizam frente ao dólar, as bolsas caem em meio ao pânico, e as ruas continuam a rugir no Brasil, na Turquia e no Egito.
Fernando Haddad confessa, em entrevista ao Estadão em 30 de junho, que só voltou atrás no reajuste porque a repressão não adiantou!
Respondendo à pergunta: “Então por que voltou atrás”? Ele disse: “Em função de uma série de ocorrências. Os informes que recebi sobre a segurança pública na cidade de São Paulo, que apontava fragilidades enormes”.
Depois, é claro, diz que as ruas podem ajudar o governo a ir para a esquerda. Com Paulo Maluf de aliado? À esquerda? Será que ele pensa que pode enganar alguém?
A direção do PT está que nem barata tonta, e também os grupos pequeno-burgueses e esquerdistas. E é assim que todos são obrigados a “ir à esquerda”, a “unir a esquerda”, sem querer, rangendo os dentes. CUT, CTB (central dirigida pelo PCdoB), Força Sindical e Conlutas chamam um dia de paralisações e manifestações em 11 de julho com uma pauta rebaixada: Redução da jornada de trabalho, fim do fator previdenciário, não aos leilões de petróleo. Nada sobre as questões essenciais como:
– Não pagamento da dívida interna e externa (que está como bandeira de origem da CUT e nunca foi revogada).
– Escala móvel de salários, porque quando a inflação aumenta, esta é a única resposta possível.
– Revogação das reformas da previdência, muito mais que só fim do fator previdenciário.
– Reestatizar tudo que foi privatizado – volta do monopólio estatal do petróleo, Vale do Rio Doce, Ferrovias, transporte urbano, eletricidade, telefone, rodovias, portos, aeroportos.
Sim, esta é a voz das ruas que toda assembleia de estudantes e operários pode e deve aprovar. E exigir que suas direções coloquem na ordem do dia. Discutir a greve, discutir suas reivindicações, fazer a greve, é o primeiro passo. Mas é preciso mais que isso. O PT precisa virar à esquerda e romper com a burguesia. Chega de ficar defendendo pauta da direita, como superávit primário. Chega de dizer que não pode ir adiante por causa da burguesia. A voz das ruas mostrou quem é o verdadeiro dono do País. E o PT, para ouvi-la, tem que cessar imediatamente a repressão, tem que demitir todos os ministros capitalistas e discutir medidas reais que possam avançar em direção ao socialismo.