Imagem: Alessandra Haro

O que os comunistas defendem para a segurança do Crusp?

Após o anúncio da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da Universidade de São Paulo (Prip) sobre a instalação de grades nas portarias dos Blocos do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp) para o controle de acesso, instaura-se novamente o debate sobre segurança na moradia. Nos dias 23, 24 e 25 de agosto ocorrerá o Seminário de Segurança no Crusp, este que vai apurar a posição dos moradores sobre o que se defenderá para a segurança no conjunto residencial. O que nós da Juventude Comunista Internacionalista (JCI) defendemos sobre isso? Tratemos aqui.

Em primeiro lugar, defendemos que o Crusp deve ter controle de acesso, uma vez que é obrigação da Universidade garantir o direito à segurança para os estudantes. Quando estivemos na gestão da Associação de Moradores do Crusp (Amorcrusp) no ano passado (2023), tratamos de diversos casos, especialmente de mulheres, em que assediadores e agressores externos ao Crusp iam importuná-las, como também ocorrências de pequenos furtos e, no caso do alojamento das mães, uma total insegurança para presença das crianças. Existem ainda casos públicos, como o do morador do Bloco A que, no primeiro semestre deste ano, teve a casa arrombada e diversos pertences roubados, chegando mesmo a perder sua pesquisa. Por isso, defendemos enquanto gestão no ano passado, e seguimos defendendo, que é necessário um controle de acesso efetivo.

Entretanto, a falta de uma política de ampliação de vagas no Crusp — fruto direto das políticas de austeridade —, faz com que diversos estudantes pobres, que precisam da moradia para se manter na universidade, passem a habitá-la de forma irregular. Diante disso, defendemos desde o primeiro semestre que fosse realizado um mutirão de regularização, para que esses estudantes se tornassem moradores regulares. É importante dizer que muitos estudantes que são moradores irregulares temem, com razão, que o controle de acesso seja utilizado para impedir que morem no Crusp, e que a regularização acabe com essa cisão em relação aos demais moradores.

O mutirão foi realizado, mas até o momento a Prip não deu um retorno sobre a questão. A tentativa da Prip de implementar o controle de acesso sem a regularização desses moradores deve ser rechaçada. Antes de mais nada, é necessário regularizar imediatamente esses estudantes.

Mas não era a JCI contrária aos moradores irregulares? Não, como foi exposto, defendemos que todos os estudantes pobres sejam regularizados. O que nós somos contrários são os casos de moradores que moram no Crusp sem possuir qualquer vínculo com a USP, ou que  sequer estudaram alguma vez na USP.

A atual gestão da Amorcrusp, dirigida pelo Correnteza, não tem uma posição definida sobre o controle de acesso. Na Assembleia do dia 03 de julho, defendemos juntos uma posição contrária ao controle de acesso, até que a Prip regularizasse os estudantes irregulares. Na assembleia, apenas em torno de três pessoas foram contrárias de modo incondicional ao controle de acesso.

Nesta última assembleia, no dia 14 de agosto, na qual houve uma presença maior de autonomistas e de forças políticas alheias ao Crusp, a gestão da Amorcrusp passou para uma posição incondicionalmente contrária ao controle de acesso. Quando questionados, apresentam a suposta solução cabal de todos os problemas: “faremos o seminário de segurança”. Seminário este que, sem nossa pressão, estaria sem data marcada até o momento, e que se tivesse sido realizado anteriormente, teria conseguido obter um acúmulo maior dos moradores do Crusp sobre a questão.

As vacilações da gestão e sua concessão ao programa autonomista abrem caminho para o método autonomista de violência física e intimidação. Tal método existia no Crusp antes de 2023, e foi inexistente em nossa última gestão, mas que retornou esse ano a partir da gestão atual.

A Amorcrusp é a entidade legítima de representação dos moradores do Crusp e, por isso, tem a responsabilidade de tomar uma posição clara, não vacilante, sobre a questão. Na medida em que a gestão tomar uma posição clara e classista, teremos total disposição em fazer frente única com os companheiros, para que façamos o devido combate. No entanto, as posições vacilantes da associação apenas afastam a maior parcela dos moradores e inviabilizam o devido combate.

A vacilação da gestão da entidade apenas favorece o retorno de grupos autonomistas que, pouco, ou nada, se preocupam com a questão da segurança. Afirmam, na fraseologia mais foucaultiana, que a Prip quer tornar o Crusp uma prisão, reduzindo sempre qualquer questão de segurança a uma conspiração de vigilância, e que a única forma de segurança é a autogestão dos moradores em relação à moradia, posição que muitas vezes é reproduzida por membros da própria gestão. Nada mais estúpido, pois trata-se de algo que apenas afasta o conjunto de moradores que sentem a necessidade de medidas de segurança no Crusp.

Explicamos longamente os problemas da concepção autonomista no Crusp (Crusp: o papel reacionário da REM e um programa para a moradia estudantil da USP), mas convém questionar aqui um ponto: o problema do Crusp é ele ser gerido pela Prip? Na verdade, o problema do Crusp está no orçamento insuficiente destinado a ele. A gestão dos moradores não alteraria o orçamento, apenas faria com que os próprios moradores se tornassem responsáveis pelas insuficiências da moradia. Há uma série de problemas na concepção de que o Crusp deva ser autogerido pelos moradores, o que se reduz a uma posição pequeno-burguesa trajada de radical, mas essa questão tratada aqui é a mais fundamental.

Por isso, convidamos os companheiros da Associação a refletirem sobre seus posicionamentos em relação ao controle de acesso, como também o conjunto dos moradores às discussões no Seminário de Segurança, nos dias 23, 24 e 25 de agosto.

  • Pela regularização imediata dos estudantes irregulares!
  • Pelo controle de acesso efetivo!
  • Todo investimento necessário para a permanência estudantil!