A revolução venezuelana continua sobre as atenções de toda a classe trabalhadora. Alan Woods escreve uma carta respondendo a um articulista brasileiro sobre o assunto.
À atenção de Demétrio Magnoli
Estimado senhor,
Em seu artigo de 04 de fevereiro, você escreve: “o chavismo original flertou com o anti-semitismo e sonhava com a construção de um Estado autoritário, de estilo fascista”. Uma das primeiras ações tomadas por Chávez foi aprovar a Constituição mais democrática do mundo. Esta não é necessariamente a atitude de alguém que deseja estabelecer um Estado de estilo fascista.
Durante a última década, Chávez ganhou mais eleições e consultas populares do que qualquer outro líder político do mundo. Pelo contrário, a oposição “democrática” em 2002 tentou derrubar o governo democraticamente eleito com um golpe de Estado, que foi imediatamente reconhecido por Washington. Se a oposição houvesse conseguido êxito, a Venezuela teria afundado em um Estado de estilo fascista.
Você é muito amável em ressaltar meus contatos políticos com o Presidente Chávez e vincular isto a sua proclamação da V Internacional. Agradeço esta declaração, mas com toda honestidade, creio que o senhor superestima enormemente minha influência sobre o Presidente, que tem personalidade e está acostumado a tomar suas próprias decisões.
Quanto às falsas noções de Heinz Dieterich, tratei-as exaustivamente em meu livro Reformismo ou Revolução, que foi recentemente publicado no Brasil. É suficiente dizer que o erro básico de Dieterich e de outros reformistas é assumir a possibilidade de alcançar o socialismo sem expropriar a terra, os bancos e as grandes indústrias.
Meu ponto de vista sobre o processo revolucionário pode ser resumido da seguinte forma: Não é possível fazer meia revolução. Ou a Revolução liquida o poder econômico dos latifundiários, banqueiros e capitalistas ou fracassará. Ou a Revolução derrota a oligarquia, ou a oligarquia destruirá a Revolução.
Expus diversas vezes estas perspectivas na Venezuela e sou bem conhecido por muitas pessoas, inclusive Hugo Chávez. Porém nunca me dispus a dizer a ninguém o que devem pensar. Sobre a base da experiência, os trabalhadores da Venezuela podem decidir por si mesmos quem tem razão e quem está errado, e o estão fazendo.
Você diz: “Em nome dos interesses do chavismo, o presidente brasileiro perdeu a oportunidade de uma cooperação estratégica com Barack Obama”. (Ênfase minha, AW). Mas duvido muito que a maioria dos brasileiros esteja a favor da subordinação da política exterior de seu país aos interesses dos EUA, cuja campanha contra Chávez é parte da tentativa de manter seu domínio sobre a América Latina.
É um grande mérito de Hugo Chávez estar disposto a dizer ao mundo inteiro que a única alternativa ante a humanidade é socialismo ou barbárie. Creio firmemente que o futuro do Brasil, da América Latina e do mundo inteiro, só pode ser o socialismo; uma economia planificada democrática, onde a terra, os bancos e as grandes indústrias estejam nas mãos do Estado, e o Estado esteja nas mãos dos trabalhadores.
Você antecipa ansiosamente “o declínio inexorável do chavismo será amargo, dramático, talvez sangrento”. Sim, durante anos todos os reacionários de Norte a Sul da América esperam por isto. Porém a cada nova etapa suas esperanças são frustradas pelo movimento dos trabalhadores e camponeses venezuelanos.
Será que desta vez as esperanças dos imperialistas estão justificadas? É impossível responder. A revolução venezuelana, como todas as revoluções, é uma luta de forças vivas. Pode ser influenciada por muitos fatores, tais como a atual crise econômica mundial, o esgotamento das massas depois de mais de uma década de luta, a enorme pressão do imperialismo e, por último, mas não menos importante, os erros dos dirigentes.
Por fim, você diz que “inclusive Woods deve estar rezando secretamente pelo triunfo de Dilma Rousseff”. Há muito tempo que não rezo por nada, seja em segredo ou publicamente, e digo abertamente que apoiarei o candidato do PT contra os partidos de direita da burguesia, assim como digo abertamente que apoiarei o PSUV na Venezuela contra a oposição contra-revolucionárias.
Junto com meus camaradas da Corrente Marxista Internacional na Venezuela e no mundo, farei tudo que estiver ao meu alcance para derrotar a oposição contra-revolucionárias e obter a maior vitória possível para o PSUV e Hugo Chávez, e continuar e intensificar a luta pelo socialismo.
Assim como lutarei para que o PSUV execute um programa autenticamente socialista na Venezuela, lutarei para que no Brasil o candidato do PT, eleito pelos votos dos trabalhadores e camponeses, execute uma política no interesse de quem o elegeu, e não nos interesses do imperialismo EUA e dos capitalistas do Brasil. E não há segredo nisto.
Londres, 10 de fevereiro de 2010.
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