Situação política brasileira e Fora Bolsonaro são discutidos no segundo dia do 7º Congresso da Esquerda Marxista

Neste sábado (12/6), o 7º Congresso da Esquerda Marxista, seguiu em seu segundo dia, com a presença de cerca de 140 participantes, entre delegados, militantes e convidados nacionais e internacionais. O evento, que vai até amanhã, teve uma abertura em formato de live ontem e, a partir de hoje, ocorre por meio de plataforma fechada.

Inicialmente, foi realizada uma bonita homenagem aos dois camaradas que perdemos no último ano em decorrência da Covid-19: Hans-Gerd Öfinger, dirigente da seção alemã da Corrente Marxista Internacional (CMI), e Roque Ferreira, membro do Comitê Central da Esquerda Marxista. A estes dois militantes foi dedicado o presente congresso e a continuidade da luta pela construção do partido revolucionário internacional, pelo qual ambos trabalharam por toda a vida.

Ao longo do dia, foram transmitidas mensagens de saudação de militantes de diferentes seções da CMI: Alan Woods, em nome do secretariado internacional e de toda a Internacional; Alessandro Giardiello, em nome da seção italiana; Angel, secretário da seção argentina; Ubaldo, do México; Ylva, da Suécia; Antonio Balmer, dos Estados Unidos; Gerome, da França; Ben Morken, da África do Sul; Luis Romero, da Venezuela; e Adan Pall, do Paquistão.

O conjunto destas intervenções trouxe importantes contribuições ao debate internacional, além de transmitir o ânimo da luta pela revolução socialista em âmbito mundial.

Acompanharam o segundo dia do congresso ainda, militantes da organização Centralidade do Trabalho, como convidados. O camarada Fred Weston, do secretariado internacional da CMI, que ontem participou da live de abertura com um informe sobre a situação mundial, também contribuiu com o debate hoje.

Um destaque emocionante deste segundo dia foi a mensagem enviada pela camarada Rosa, da Alemanha, filha do camarada Hans-Gerd Öfinger. Em português, ela enviou saudações da seção alemã e demonstrou o poder que a juventude revolucionária tem de transformar grandes sofrimentos e tragédias da humanidade em força para o combate.

Situação nacional e nossas tarefas de construção

A situação nacional e as tarefas de construção da Esquerda Marxista foram as principais pautas deste segundo dia de congresso. O informe ficou a cargo do secretário geral da EM, Serge Goulart. Diversos camaradas, de diferentes estados do Brasil, também contribuíram com o debate.

Primeiramente, Serge explicou que as análises da EM – materializada nas resoluções que serão votadas pelos delegados amanhã – estão totalmente conectadas ao informe do Congresso Mundial da CMI, que deverá ser publicado nos próximos dias. Nele, constatamos que o desenvolvimento da luta de classes é convulsivo em todo o mundo. Esta situação desorienta os reformistas, centristas e seitas autoproclamadas revolucionárias de todos os países, jogando-os em uma política cada vez mais eleitoralista e em uma tentativa desesperada de sobrevivência no quadro da democracia burguesa.

A marca da situação internacional é a crise econômica do capitalismo aliada ao enriquecimento extraordinário de uma minoria, enquanto o que resta para o conjunto da classe trabalhadora é uma pauperização acelerada. Em nosso país, o Índice de Bilionários da Bloomberg incluiu mais 10 bilionários brasileiros na lista. Ao todo, 65 bilionários do Brasil detêm a propriedade de R$ 220 bilhões. Em âmbito mundial, algumas empresas controlam mais capital do que o PIB de países como o Japão ou a Alemanha.

Serge ressaltou que as tentativas de medidas do tipo keinesianas, que atualmente norteiam a linha política de toda a esquerda, não podem resolver a crise. A burguesia só pode enfrentá-la por meio da destruição das forças produtivas e da ampliação da exploração.

As guerras como as conhecemos são uma das formas de se fazer isso. Mas, também há em todos os países uma verdadeira guerra civil, que a burguesia leva a cabo contra todos os direitos da classe trabalhadora.

A verdade é que a época atual do capitalismo – o Imperialismo – é o período de máxima contradição do capitalismo. Este sistema não consegue mais desenvolver forças produtivas e só vive pela concentração máxima da propriedade privada dos meios de produção e pela traição dos dirigentes da classe trabalhadora.

A questão da quebra de patentes das vacinas é o exemplo concreto desta situação e está evidente para todo o mundo. Nas mãos do capital privado, não há porque produzir vacinas em larga escala, pois naturalmente os preços cairiam. Além disso, se o mundo obtivesse hoje todas as vacinas necessárias, amanhã as fábricas que as produzem fechariam.

A única forma de esta situação ser diferente seria se os trabalhadores tomassem a economia e varressem a propriedade privada, organizando a produção sob interesse de toda a sociedade.

Em relação à situação nacional, Serge citou os mais de 30 milhões de brasileiros que sofrem na carne a crise capitalista, impactados pelo desemprego, subemprego, desalento… Além de todas as medidas de ataque à classe operária aprovadas pelo Congresso e por Bolsonaro. Medidas como lay off, cortes de salário e muitas outras.

A pandemia tem sido utilizada contra as massas no Brasil e em todo o mundo. É o que vemos nos ataques de Israel contra o povo palestino e no Quênia, onde apenas as forças de repressão estão sendo vacinadas. Na Índia, as massas miseráveis não têm acesso à vacinação. No Líbano, todos os parlamentares foram vacinados, mas a população não. Na Grã-Bretanha, Boris Johnson enviou ao Parlamento um pacote de leis repressivas. Na França, Macron quer criminalizar quem filma manifestações. No Brasil, cresce a violência policial e, agora, a polícia mira nos olhos.

Bolsonaro vê a maior parte das organizações que se uniram a ele se descolando e em decomposição. Por isso, tenta estabelecer uma base política mais sólida dentro das Forças Armadas. Ocorre que não existe no Brasil hoje uma força capaz de homogeneizar um apoio dentro destas forças de repressão. Serge explicou que não há um cimento ou uma solda entre elas que aponte à sociedade um mundo novo. Por isso, a tentativa está fadada ao fracasso.

A burguesia vive um momento de desespero diante do desmoronamento das suas instituições, despe-se da sua maquiagem democrática e se apresenta como o monstro que é, com seu sistema Judiciário, prisões e bandos de homens armados. Ela está profundamente dividida em relação aos rumos que deve tomar para salvar o capitalismo, mas há uma coisa na qual tem unidade: na guerra para retirar direitos, privatizar e assaltar os cofres públicos.

Tudo isso vai exigir da classe trabalhadora o endurecimento da organização. E é apenas ela que pode resolver problemas básicos que a burguesia de um país dominado não pode. Só os trabalhadores têm o poder de enfrentar questões como a desindustrialização crescente que ocorre no Brasil ou a necessidade de importar produtos como milho, trigo e arroz enquanto o agronegócio cresce a passos largos exportando soja.

Enquanto isso, todos os dirigentes da esquerda se lançam a assinar cortes de salários e acordos abaixo da inflação em nome de “salvar empregos”. Tudo aprovado em assembleias virtuais fantasmagóricas, enquanto os trabalhadores continuam sendo obrigados a se aglomerarem nas fábricas.

A sangria da dívida vampira, que é o fator mais evidente de dominação de um país, desapareceu dos discursos dos dirigentes da esquerda. A questão da dívida é tão brutal que o Orçamento Federal da Saúde, que era de R$ 162 bilhões em 2020, diminuiu para R$ 125 bilhões em 2021 – em meio à maior tragédia da história do país.

E este não é um problema apenas do governo Bolsonaro. Nos últimos 20 anos, mais de 45 mil leitos foram fechados, mas para a dívida, que consumiu 39% do Orçamento no ano passado, nunca faltou um centavo, ressaltou Serge. Para ele, a maior expressão da luta operária no país é a defesa do não pagamento da dívida.

Um novo momento na conjuntura

Apesar de todas as sabotagens e tentativas de desmobilização das direções, as manifestações de 29 de maio transbordaram e levaram milhares de pessoas às ruas em todo o país. Diante disso, estas direções foram obrigadas a convocar manifestações nos locais de trabalho no dia 18 de junho e apoiar a manifestação do dia 19, convocada à revelia da própria CUT.

As massas querem se manifestar. O sentimento do dia 29 de maio nas ruas era o de colocar abaixo o governo Bolsonaro já e não por meio de um impeachment do Congresso ou pelas eleições de 2022.

Por isso, a Esquerda Marxista participará dos atos do dia 19 com suas faixas e bandeiras, levantando a palavra de ordem “Fora Bolsonaro, já!” e colocando acento no complemento desta chamada: “Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais”. Esta é a perspectiva necessária para a construção de um partido revolucionário de massas que oriente a classe trabalhadora no sentido da revolução socialista.

Estas manifestações não têm prazo para terminar e a tarefa dos militantes da Esquerda Marxista é participar construindo a organização. Para isso, temos um instrumento privilegiado: nossa orientação política.

Fomos a primeira organização do país, em 2019, a levantar a palavra de ordem Fora Bolsonaro, contra todas as organizações de esquerda que tentavam boicotá-la. Esta consigna tomou as ruas e, agora, toda a esquerda tenta desvirtuá-la, tirando o seu sentido imediato e revolucionário.

É por isso que a atividade central da EM no próximo período é a mobilização para o “Encontro Nacional de Luta: Abaixo Bolsonaro! Por um Governo dos Trabalhadores Sem Patrões Nem Generais!”, convocado para o dia 10 de julho.

E com esta mesma disposição de intervenção na luta de classes a Esquerda Marxista recentemente lançou seu novo jornal, o Tempo de Revolução. Além disso, nos preparamos para transformar a tradicional revista América Socialista na nova revista Em Defesa do Marxismo – um instrumento de formação teórica que segue sendo uma das principais campanhas de arrecadação da organização.

Nossa tarefa principal nesta situação trágica que vive a humanidade é ganhar e formar quadros”, explicou o camarada Serge. Por isso, a EM alia a intervenção prática na luta de classes a um plano extensivo de formação teórica dos seus militantes. Sabemos que, de acordo com uma das principais leis da dialética, a qualidade uma hora se transforma em quantidade e, da mesma forma, a quantidade mais cedo ou mais tarde torna-se qualidade.

O 7º Congresso da EM reafirma ainda que o trabalho de construção segue prioritário em meio à juventude. Da mesma forma, cabe ao conjunto da organização ajudar esta juventude a ver o mundo através dos olhos da classe operária, no combate permanente às pressões pequeno-burguesas, pós-modernas e alheias aos trabalhadores.

Temos uma vantagem extraordinária”, explicou Serge. “Somos o mesmo partido dos camaradas internacionais que falaram no nosso congresso […] Nossa capacidade de análise demonstrada pela nossa história está permeada intrinsicamente pela experiência internacional da classe trabalhadora e, em particular, dos marxistas da CMI”.

É nesta situação que a EM realiza seu congresso com uma grande homogeneidade política e um debate elevado, que segue em seu terceiro e último dia neste domingo.