Trabalhadores da Companhia Águas de Joinville estão em estado de greve

No dia 16 de maio, os trabalhadores da Companhia Águas de Joinville votaram em assembleia pelo Estado de Greve. A luta é muito similar a tantas outras que vemos acontecer no país e mundo afora: defesa de melhores condições de trabalho e de vida.

Mas, para além de participar da luta coletiva, temos alguns aprendizados que podemos tirar com esse exemplo de uma categoria ainda jovem, em uma cidade que tem a fama de ser conservadora. E o principal deles é o impacto que a organização dos trabalhadores provoca na luta de classes. 

Condições de trabalho e remuneração insatisfatórias

Um dos principais motivos que levaram os trabalhadores organizados na base do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Serviços de Água e Esgotos Sanitários de Joinville (Sintraej) a entrar em Estado de Greve foi a desvalorização salarial e dos benefícios em comparação com outras empresas do ramo do saneamento.

Não é diferente quando falamos das condições de trabalho. Exemplo disso é o novo prédio alugado no Centro, para o qual vários trabalhadores foram levados sem a garantia de estacionamento nem de auxílio para o pagamento de estacionamento privado. Aos que por conta própria passaram a deixar seus veículos em estacionamentos pagos, isso representou uma redução de salário. Aos que não possuem essa condição, resta a disputa de vagas nas áreas centrais e a insegurança. A situação já resultou no roubo de uma moto.

Ambiente de trabalho desgastante

O trabalho em uma empresa de saneamento pode ser muito desgastante, seja no atendimento ao público, como ponta de lança de vários problemas de uma Companhia pública altamente terceirizada; nos serviços internos que envolvem o tratamento com estas terceirizadas ineficientes; atividades em campo insalubres, perigosas e em condições climáticas adversas; entre várias outras.

É comum ainda o trabalho em turnos estendidos de 24 horas, sem pausa adequada para o almoço. Já os funcionários de unidades mais afastadas precisam utilizar seus próprios veículos, pois não há transporte público em determinados horários, e a empresa não reembolsa o combustível.

Ainda assim, são os trabalhadores da Companhia Águas de Joinville que fazem desta uma empresa conhecida por sua alta capacidade técnica, lucrativa e com um caixa invejável.

Histórico de falta de negociação

Outro ponto que motivou a decisão dos trabalhadores da Companhia Águas de Joinville de entrar em Estado de Greve foi a falta de negociação coletiva nos últimos cinco anos somada à proposta insatisfatória feita pela empresa neste ano.

Além disso, tem causado frustração entre os trabalhadores a falta de negociação com o sindicato e lentidão em relação à implementação do novo Plano de Carreira, da Avaliação de Desempenho e de outros pontos acordados no ano passado.

Reivindicações dos trabalhadores

Durante a assembleia em que foi decidido o Estado de Greve, foram discutidas e revisadas as reivindicações dos trabalhadores. Entre elas, estão o reajuste salarial de 8% a partir de 1º de maio de 2023 (enquanto a empresa propõe 4,18%), vale-alimentação de R$ 70 por dia (totalizando R$ 1.540), auxílio-creche de R$ 700, fim do limite de idade para acompanhamento familiar em consultas médicas, flexibilidade de horário de almoço, gratificação por anuênio, reembolso de anuidade de conselhos profissionais e reembolso de gastos com estacionamento quando a empresa não fornecer essa facilidade.

Denúncias de assédio moral

Durante o processo de negociação, a empresa adotou táticas ofensivas para pressionar os trabalhadores a aceitarem a proposta da Companhia. O sindicato tem recebido denúncias de assédio moral praticado por gestores para pressionar os trabalhadores a aceitarem a proposta da empresa.

O papel da direção sindical

A mesma assembleia que votou pelo Estado de Greve também estabeleceu que a empresa tinha cinco dias para reabrir as negociações e exigiu que as reuniões acontecessem com a presença do presidente da Companhia (até o momento, as negociações foram com representantes da diretoria). Embora com alguns dias de atraso em relação a esse prazo, a mesa de negociação foi agendada. 

Todo esse movimento que acontece no Sintraej, com várias novas filiações ao sindicato e com assembleias cada vez maiores, deve-se ao avanço no nível de consciência dos trabalhadores que, junto à sua atual direção sindical, têm se empenhado em um trabalho de base sério, organização da categoria, além de defesa da liberdade e da independência sindical.

Outro ponto é a conexão da luta do Sintraej à luta de todos os trabalhadores, mostrando como os problemas da categoria não são isolados e que a organização precisa acontecer conectada à classe trabalhadora nacional e internacional – e que só com ela é possível combater e reverter os ataques. Foi esta consciência que também permitiu a aprovação da filiação do sindicato à CUT neste ano. 

Este exemplo da Águas de Joinville mostra a importância, mesmo em uma pequena categoria, da organização e unidade dos trabalhadores em torno de suas reivindicações e de um sindicalismo classista, combativo e socialista para que a classe trabalhadora possa superar seus problemas imediatos e históricos.