Declaração Política da ‘Corrente Sindical Química da Esquerda Marxista – CUT’ no processo eleitoral do Sindicato dos Químicos de Campinas e Região.
Nestes dias 09, 10 e 11 de maio estão ocorrendo as eleições do Sindicato dos Químicos de Campinas e Região, sindicato, unificado com Vinhedo e Osasco, que engloba trabalhadores do ramo plástico, farmacêutico, entre outros. Trata-se de um grande e importante sindicato da classe trabalhadora.
Intervimos na categoria impulsionando um trabalho junto à base, nas portas das fábricas, contra os ditames do Capital. Em especial, levamos a experiência de controle operário da fábrica ocupada Flaskô, em Sumaré, que há 8 anos mostra que é possível gerir uma fábrica sem um patrão. Sob a ameaça de demissão e encerramento da produção, ocupamos a fábrica e retomamos a produção sob controle operário. Implementamos diversas conquistas sociais, com um novo padrão de relação de trabalho, reduzindo a jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução de salários. Fizemos isso porque não temos a acumulação privada da riqueza. Tudo é decidido coletivamente, o que faz desta perspectiva de controle operário um exemplo. Por isso, lutamos para que as demais fábricas químicas da região façam o mesmo. Os patrões precisam saber que os trabalhadores estão organizados e que podemos viver muito bem sem eles. Por outro lado, é por isso que eles morrem de medo da organização combativa dos trabalhadores.
É com essa perspectiva que discutimos com os trabalhadores químicos de Campinas e região há 8 anos. Estamos sempre presentes nas atividades do sindicato, nas assembléias, nas greves, nas campanhas salariais, levando nossas posições. Em especial, levamos 5 pontos que entendemos ser fundamentais para o fortalecimento de nossa luta:
1. Entendemos que houve um erro político tremendo da diretoria do sindicato ao se desfiliar da CUT. Em que pese as posições da direção da CUT, muitas vezes presa ao governo e mesmo aos empresários, a CUT é o melhor instrumento sindical construído pela classe trabalhadora. Dividir os trabalhadores em centrais sindicais distintas só favorece aos patrões. Mais do que isso. Em nossa categoria, o problema é ainda maior, já que a desfiliação se deu pelos interesses de sua diretoria, e não dos trabalhadores da base. Assim, reivindicamos um congresso amplo e democrático, para que todos os trabalhadores efetivamente discutam a qual central sindical devem se filiar, e não fiquem presos aos ditames de sua diretoria.
2. Discutimos a necessidade da diretoria do sindicato deixar de receber dinheiro dos patrões por meio da taxa negocial. Essa taxa tira a autonomia do sindicato, que deveria ser financiado exclusivamente por seus associados. Por isso também somos contra o imposto sindical. Reivindicamos que a diretoria discuta com os trabalhadores num congresso, com amplo debate sobre este tema tão fundamental, e não que faça plebiscitos indutivos e superficiais, que não contribuem para a real reflexão que deve ser feita.
3. É fundamental a discussão quanto à jornada de trabalho. A legislação burguesa dispõe que nossa jornada seja de 44 horas. Na prática, sabemos que fazemos muito mais, com horas extra e banco de horas. Nesse período, a produtividade aumentou brutalmente, e consequentemente os lucros das empresas. A campanha pelas 40 horas semanais é essencial para demonstrar estas contradições do capitalismo. Em lugares onde já se pratica esta jornada, a luta deve ser pelas 36 horas. Como exemplo, devemos levar a experiência da Flaskô, que sob controle operário, realiza jornada de trabalho de 30 horas semanais! Trata-se de uma medida essencial ao tratarmos de nenhum direito a menos, na construção de novas conquistas.
4. Apresentamos a necessidade de levar este exemplo de controle operário da Flaskô, que é uma fábrica química, levando para os demais trabalhadores do ramo esta perspectiva, para que os trabalhadores possuam uma alternativa clara no momento das chantagens patronais de demissões e encerramento da produção.
5. Por último, mas não menos importante, é necessário estabelecer uma verdadeira democracia na relação da diretoria do sindicato com os trabalhadores, sob pena de distanciamento e enfraquecimento desta relação, desmoralização e desânimo para a luta da classe trabalhadora. Num momento de grave ataque à organização da classe, com restrição ao direito de greve, multas e criminalização de suas lideranças, judicialização dos conflitos, o movimento sindical precisa estar forte, e para isso, precisa estar diretamente ligado aos trabalhadores, no cotidiano de sua luta na relação capital-trabalho.
Assim, por todos esses elementos, defendemos desde o ano passado a construção de uma chapa única, nos moldes das convenções cutistas, compreendendo que seria a melhor forma dos trabalhadores enfrentarem o Capital. “Sindicato é para lutar. Unidade da classe trabalhadora contra o Capital”, esse foi nosso lema no último período. Nas últimas três eleições houve chapa única, mas cada vez mais sem a participação das diferentes forças políticas. A atual diretoria deveria compreender a dinâmica na base e que há diferentes forças políticas se expressando na representação dos trabalhadores. Nesse sentido, seria muito importante a formação de uma chapa única, fortalecendo o movimento sindical químico de Campinas e Região.
No entanto, por conta das disputas existentes na diretoria, no último ano diretores que eram minoria foram expulsos e se organizaram em um grupo denominado “Frente Química”. Dialogamos muito com estes companheiros, além de discutirmos com a atual diretoria, apresentando nossas propostas e perspectivas. Explicamos incessantemente nossos cinco pontos basilares para a luta do sindicato dos químicos. Infelizmente a atual diretoria do sindicato não nos deu ouvidos, sendo que este processo acabou bastante complicado, com intimidações e ameaças, o que, em nossa opinião, enfraquece o próprio movimento sindical.
Não podemos admitir as práticas realizadas pela atual diretoria que expulsou diversos trabalhadores membros da própria diretoria, assim como articulou com empresários a necessidade de demissão ou intimidação de trabalhadores que buscavam construir alternativas à atual diretoria do sindicato. Da mesma forma, não podemos admitir que os trabalhadores da Flaskô sejam barrados de assembléias do sindicato de forma a impedir o debate de idéias e perspectivas.
Assim, não foi possível a construção de uma chapa única com as diferentes forças políticas que se expressam na categoria. Desta forma, decidimos pela composição de chapa juntamente com o grupo denominado “Frente Química”, já que houve acordo em torno dos cinco pontos mencionados acima. A truculência da atual diretoria aumentou na reta final do processo eleitoral, expressando claramente o medo desta articulação entre nós e a “Frente Química”. Tal agressão à liberdade e democracia sindical acabou por, infelizmente, inviabilizar a inscrição até mesmo de uma chapa de oposição.
Portanto, infelizmente este processo eleitoral enfraquece a legitimidade da atual diretoria, que concorre sozinha. Por outro lado, mostrou que há muitos trabalhadores insatisfeitos com estas posturas e que combaterão nas fábricas, nas ruas e nas assembléias estas posições, buscando fortalecer o movimento sindical contra os patrões. Nosso desafio é intervir cada vez mais na dinâmica sindical, mostrando aos capitalistas que a classe trabalhadora como um todo, e, em especial, que os trabalhadores do Sindicato dos Químicos de Campinas estarão cada vez mais atuantes e se organizarão para a defesa de suas conquistas e seus direitos. A perspectiva é positiva, com acirramento da luta de classes e a necessidade de ascenso do movimento sindical no próximo período. Façamos de nosso sindicato um grande instrumento de luta contra as empresas. Por isso: “trabalhadores químicos, uni-vos!”