1º de Maio foi dia de luta pelo fim da escala 6×1

A grande novidade do 1º de Maio deste ano foram os atos que o movimento Vida Além do Trabalho (VAT) organizou em várias cidades pelo país, exigindo o fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários.

Se levarmos em conta que o VAT surgiu de maneira totalmente espontânea em agosto do ano passado; que se trata de um movimento independente dos patrões e seu Estado; e que inicialmente não possuía quase nenhum apoio político ou sindical, podemos concluir que seus feitos alcançados até o momento são muito expressivos!

Claro, é apenas o início e foi a primeira ação de rua coordenada em nível nacional, mas o VAT já é uma realidade. Aqueles que criticavam a luta pelo fim da escala 6×1 como utópica estão agora engolindo as palavras a seco (ou tentando pegar carona na audiência que o VAT conquistou).

Antes mesmo do 1º de Maio, o VAT já havia feito diversas panfletagens em várias cidades e buscava articular nacionalmente os grupos estaduais. Na preparação para o 1º de Maio, a coordenação nacional buscou renovar e estreitar os laços com os representantes estaduais e esses ativistas convocaram reuniões para organizar os atos do Dia do Trabalhador. Foram tomadas medidas de arrecadação coletiva para reproduzir os panfletos e para a confecção de faixas, cartazes e outros materiais de divulgação. Além disso, em São Paulo por exemplo, foi montado um calendário de panfletagens preparatórias para convidar os trabalhadores a participar. Nós da Organização Comunista Internacionalista (OCI) fizemos parte de todo esse processo, respeitando as decisões e instâncias do próprio movimento e ajudando com nossa experiência política e militância aguerrida.

E para medir o sucesso de toda essa ação, basta ver o aumento significativo do número de assinaturas na petição online. Dias antes do 1º de Maio, eram 790 mil adesões. Hoje (7) já passam de 1 milhão. Mais de 200 mil novas adesões em menos de uma semana!

É evidente que a demanda principal do VAT, de fim da escala 6×1, se conecta com os anseios de milhões de trabalhadores submetidos a longas jornadas de trabalho e a escalas extenuantes, com apenas um dia de descanso semanal. Trabalhadores que são obrigados a trabalhar inclusive aos finais de semana e nos feriados, recebendo um salário de fome.

Essa massa de trabalhadores que estão nas fábricas de turno ininterrupto, nas empresas de logística, telemarketing e call-centers, nas lojas e estabelecimentos comerciais, nas redes de fast food, nos restaurantes, farmácias e postos de gasolina não se sente representada por ninguém. Os partidos políticos tradicionais que dizem representar a nossa classe há muito tempo perderam contato com essa gama de trabalhadores. E os sindicatos servem de freio às lutas dos trabalhadores devido à burocratização dessas entidades e à política constante de conciliação com os patrões.

Por isso, o VAT está recebendo a adesão que recebe. Os trabalhadores encontram no movimento um ponto de apoio para expressar sua insatisfação com a exploração que sofrem todo dia. Há um longo caminho a ser percorrido e muitas tarefas à frente no que se refere à organização, finanças independente e crescimento do VAT, mas não falta disposição, como ficou evidente nos atos de 1º de Maio.

Outro detalhe, simbólico, mas fundamental. Ao lutar pelo fim da escala 6×1 em pleno 1º de Maio, o VAT se conecta com as reivindicações primordiais do movimento operário. Afinal, o Dia Internacional do Trabalhador surgiu no final do século XIX e a principal reivindicação daquela época era exatamente a redução da jornada de trabalho. Os partidos revolucionários e sindicatos operários de cada país organizavam greves, mobilizações e protestos exigindo a divisão do dia em 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas para estudo, cultura e lazer. E foram vitoriosos em numerosos países.

No entanto, essa conquista está sendo atacada pelo capitalismo no mundo todo. A crise do capital reforça sua necessidade de aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores, seja através do aumento do ritmo e da produtividade, seja através do aumento da jornada. Porém, com os meios de produção que temos hoje é possível produzir tudo que precisamos, trabalhando muito menos. Ainda mais se dividirmos as horas de trabalho entre todos que precisam trabalhar. Todo mundo poderia trabalhar somente algumas horas por dia, ninguém ficaria desempregado e não faltaria nada para ninguém. Mas, para que essa sociedade possa surgir, o capitalismo precisa desaparecer da face da Terra!

As grandes centrais sindicais resolveram montar um enorme palco no estacionamento da NeoQuímica Arena (estádio de futebol) e convidar um monte de figuras políticas do país para discursar. Para tentar atrair público, organizaram apresentações musicais e tendas com serviços sociais. Para tanto, a atividade contou com o patrocínio e apoio de empresas, entidades patronais e órgãos públicos.

Para se ter uma ideia, as centrais sindicais convidaram para participar do ato de 1º de Maio, Arthur Lira (PP), presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado, Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal e até mesmo o governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Todos recusaram o convite, educadamente.

Por fim, sem apresentar nenhum eixo político ou reivindicação de interesse da classe trabalhadora, o que era para ser um megaevento, foi um verdadeiro fiasco!

Serviu apenas para o presidente Lula (PT) discursar, para um público diminuto, em favor do próprio governo, para propagandear a mentira de que o país vai muito bem, obrigado e como preparação para as eleições municipais de outubro. Ao lado dele, estava presente o pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL), que terá a reconvertida Marta Suplicy (PT) como vice na chapa para as eleições municipais de São Paulo.

De fato, uma vergonha total organizar um ato no Dia do Trabalhador convidando representantes da burguesia e de suas instituições, sem apresentar nenhuma demanda real pela qual lutar e que só serviu para mostrar a quão fracassada pode ser a política de conciliação de classes com os patrões.

Apesar das direções, a classe trabalhadora brasileira demonstra sua enorme disposição de luta. Estamos acompanhando desde o início do ano diversas categorias, principalmente de servidores públicos, organizando paralisações e greves. A OCI acompanha de perto cada mobilização e participa ativamente na greve dos servidores federais, na greve da Educação em Santa Catarina, que fez seu 1º de Maio no dia 30 de abril organizando um dos maiores atos da categoria, na mobilização dos trabalhadores de SP etc.

Estamos empenhados na construção de um verdadeiro partido comunista no Brasil e, por isso, estamos construindo da Internacional Comunista Revolucionária (ICR) em junho, como um passo na direção da reconstrução de uma Internacional Comunista de massas digna desse nome. Organize, junte-se a nós!