“Surpreendentemente, neste ano, mais de 2600 estudantes que passaram no vestibular da USP decidiram não se matricular. Mas o que levou 25% de estudantes que passaram no funil do vestibular a desistirem de cursar a “melhor universidade da América Latina”?”
Apenas 10% dos jovens brasileiros conseguem ingressar no ensino superior anualmente e, desses, o número que ingressa em instituições de ensino superior público é ainda menor: 1%. Dentre as universidades públicas mais concorridas, a USP – Universidade de São Paulo – se destaca, sendo propagandeada como um “centro de excelência” e recebendo mais de 130 mil inscrições no seu vestibular, que oferece as escassas 10.557 vagas.
Um verdadeiro abismo separa aqueles que querem acessar o ensino superior e os que conseguem.
Surpreendentemente, neste ano, mais de 2.600 estudantes que passaram no vestibular da USP decidiram não se matricular. Mas o que levou 25% de estudantes que passaram no funil do vestibular a desistirem de cursar a “melhor universidade da América Latina”?
Como toda educação no capitalismo está organizada para gerar lucro, seja por meio das pesquisas desenvolvidas na universidade ou pela mão de obra qualificada que forma, a produção acadêmica é pautada pelos interesses do capital. As empresas privadas até se inserem nas universidades, por meio das fundações privadas, para garantir que suas demandas sejam atendidas.
Nesse processo de privatização, tudo que é de interesse da maioria da população passa a ser desconsiderado, a começar pelo ensino.
Nos cursos de Letras e de Pedagogia, por exemplo, as estruturas físicas são precárias, há obras não concluídas e salas de aula superlotadas, sem contar a necessidade de contratação de funcionários e docentes. Essa realidade atinge a maior parte dos cursos de humanas, pois nos governos capitalistas são considerados com baixa “demanda de mercado” e não são prioritários para terem investimentos públicos. Um dos resultados dessa política são as 147 desistências no curso de Letras e 62 na Pedagogia.
Por outro lado, as unidades da USP onde fundações privadas estão mais enraizadas, também tiveram muitas desistências. Nos cursos da FEA – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade foram 105 e da Escola Politécnica 148. Frente a isso, muitos questionam o porquê dos investimentos privados não estarem garantindo qualidade de ensino, mas a verdade é que esse não é, nem de longe, o objetivo das fundações.
Em 2010, um professor da FEA denunciou que professores da USP estavam trabalhando para uma fundação privada, enquanto colocavam estagiários para lecionar suas aulas no curso de graduação.
Enquanto não tivermos um governo socialista dos trabalhadores, as universidades públicas e toda a educação seguirão organizadas segundo a lógica do capital e até os centros de ensino considerados de excelência, como a USP, não terão um ensino de qualidade e nem um acesso verdadeiramente gratuito, com vagas e permanência estudantil para todos.