No dia em que o Brasil, oficialmente, atingiu a marca dos 300 mil mortos pela Covid-19, as centrais sindicais (CUT, CTB, Força Sindical etc.), partidos e movimentos sociais realizaram o “Lockdown em Defesa da Vida e dos Direitos”. A ação visava se contrapor à irresponsabilidade do governo Bolsonaro na administração da pandemia e pautar reivindicações para conter o avanço da doença, solicitar vacina e o retorno do auxílio emergencial. Entretanto, os dirigentes destas mesmas centrais sindicais, que não realizaram nada de concreto para proteger a vida dos trabalhadores após um ano de crise sanitária no Brasil, também devem compartilhar do peso destas mortes.
O novo coronavírus atingiu a população brasileira em um contexto de crescentes ataques aos direitos dos trabalhadores por conta de sucessivas contrarreformas. Nos últimos anos, os sindicatos se mostraram incapazes de assegurar os direitos dos trabalhadores, permitindo golpes na previdência, cortes de recursos, repressão a greves, flexibilização de garantias trabalhistas, tudo isto em nome de uma agenda de conciliação.
Da mesma forma, o lançamento de notas e plataformas pelas centrais sindicais, desde o início da pandemia no Brasil, que passava por medidas de restrição para conter a transmissão do vírus, mantiveram o tom conciliador com a burguesia e pouco fizeram efetivamente pela vida e pelos direitos dos trabalhadores. As campanhas de 2020 em defesa da democracia e pelo “Fora Bolsonaro” já deixavam claro que o compromisso dessas organizações é com a defesa da democracia burguesa e seus aparatos institucionais, como o impeachment, sem oferecer perspectivas de rupturas com este sistema. É preciso acrescentar que esses dirigentes da classe trabalhadora só adotaram a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” — desviando a luta para via institucional posteriormente — depois que as massas tomaram para si essa reivindicação.
É com esta postura que os sindicatos, em momento de crise, procuram afirmar um lugar de liderança dos trabalhadores, mas continuam sendo as mesmas organizações oportunistas e traidoras da classe. Este “dia de luta” de 24 de março não passou de mais uma encenação oportuna. Com uma longa lista de demandas em prol dos trabalhadores, sindicatos, movimentos sociais, e partidos “de esquerda” se mantêm ocupados com reuniões, assembleias e emissão de notas públicas, mas com poucas ações efetivas já que sobram exemplos de sindicatos que sabotam greves (Apeoesp e Sinte-SC são dois exemplos recentes) ou ainda propõem algum tipo de paralisação performática que em nada se parece com uma greve, deixando os trabalhadores em uma luta solitária, à mercê do assédio do patronato e desmoralizados em suas reivindicações por condições de trabalho que realmente preservem suas vidas. E isso expressa toda a degeneração presente nas lideranças das direções da classe trabalhadora.
Na prática, essas direções são cúmplices governo Bolsonaro, que rejeita as medidas para conter os impactos da pandemia no país. A postura pseudorreformista dos dirigentes tem sua parcela de responsabilidade tanto sobre os agravos sociais no contexto da pandemia, quanto sobre as vidas perdidas dos trabalhadores, e revela que, na prática, conserva a mesma obediência ao capital financeiro.