57 anos desde o Massacre de Sharpeville

No dia 21 de março de 1960 milhares de negros sul-africanos foram brutalmente atacados pela polícia, durante uma manifestação que exigia o fim do racismo e da discriminação racial no país. O resultado foram 69 mortos e cerca de 180 feridos. O caso ficou conhecido como o Massacre de Sharpeville, nome da cidade, localizada na província de Gauteng.

O motivo do protesto foi a luta contra a Lei do Passe, uma lei que obrigava os negros a andarem com uma caderneta onde estavam delimitados os locais onde cada pessoa negra tinha permissão para andar.  Essa era apenas uma das muitas leis que formavam o conjunto de regras do sistema de Apartheide (separação), um regime de segregação racial aplicado na África do Sul.

O Apartheid foi um dos exemplos mais cruéis e evidentes do racismo. Onde a separação entre as pessoas de diferentes fenótipos era levada às ultimas consequências.

O racismo se realizou de diferentes formas no mundo, de acordo com o desenvolvimento histórico-social de cada região onde foi aplicado . No Brasil, por exemplo, as regras de segregação racial eram mais maquiadas, e tinham, inclusive a intenção de fazer parecer que não havia racismo aqui, que as diferentes classes sociais sempre conviveram de forma pacífica e harmoniosa. Sabemos que isto não é verdade. Inclusive aqui também havia (e ainda há) leis e “costumes” eu impediam os negros de circular pela cidade com liberdade. Até poucas décadas atrás, qualquer pessoa (principalmente negros) que fosse encontrada na rua sem carteira de trabalho e comprovação de que estava na rua em razão de seu emprego poderia ser preso como “vadio”.  Nada muito diferente dos jovens  que são detidos ou agredidos por estarem em grupos indo para as praias da zona sul da cidade.

No caso da África do Sul ou dos EUA, a burguesia conseguiu durante mais tempo impor regras de segregação racial mais evidentes: locais de brancos e locais de negros. Porém, em todos os casos, em virtude das crescentes resistências e insurreições, a burguesia foi sendo obrigada a maquiar seu racismo e implementar modos de segregação que fossem vistos como mais democráticos. Dessa forma, o racialismo, e suas políticas, foram sendo implantados, com o objetivo de divisor a classe trabalhara e nos colocar em briga entre nós mesmos.

O racialismo é a ideologia irmã do racismo, que defende que o mundo é dividido em raças, tal como defende o racismo e serve para que não percebamos que o verdadeiro inimigo é o sistema e não nossos “irmãos de classe”, que  possuem um vida de sofrimento e direitos negados, como nós.

Essas políticas receberam o nome de ações afirmativas, e tem suas origens na Índia, mas se popularizaram bastante nos EUA. A primeiras modificações das leis foram com presidente John F. Kennedy, se potencializaram com o Lyndon Johnson e se concretizaram com Richard Nixon, na década de 1970. Ao mesmo tempo em que Nixon criava “metas e cronogramas” preocupados com o aumento da representatividade de minorias e mulheres, ele também propagava seu lema de Lei e ordem (Law and order), que sob a máscara de “guerras às drogas” perseguiu, prendeu e matou milhões de negros.

Nesse sentido, essas políticas afirmam (da boca pra fora) que defendem o direito dos negros, quando na verdade dão uma máscara de humanismo ao capitalismo, mantendo o mundo dividido entre os que têm direitos e os que não têm. Para que essa fantasia pareça real eles até permitem que alguns negros (ou indianos, indígenas, chineses, latinos, mulheres, etc.) usufruam de suas vantagens. Então, aceitaram uma pequena elite negra, se isso garantir que  a estrutura capitalista não precisará ser derrubada. E para fortalecer essa estrutura utiliza-se a meritocracia, para que aqueles negros que não conseguirem tragam a culpa para si mesmos, mantendo o verdadeiro culpado, o sistema capitalista, intacto. Assim, mantém uma máscara de democracia e pluralidade em um sistema de ditadura e exclusão.

Não é atoa que até ONU abraçou o dia 21 de março como um dia para ser lembrado. Após 9 anos do massacre (1969), a ONU decidiu declarar este dia como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Interessante lembrar que nessa década vários burgueses e suas instituições começaram a “se preocupar” com a luta negra, indígena e das mulheres. Ao mesmo tempo essas mesmas pessoas eram massacradas pelos governos capitalistas, no caso do Brasil através da ditadura militar, inclusive.

Essa mesma ONU que diz se preocupar com a igualdade e o fim da discriminação racial mantém milhares de soldados armados no Haiti, por exemplo. Soldados esses que já receberam centenas de acusações de crimes aterrorizantes como, por exemplo, exigir favores sexuais à crianças, oferecendo em troca de água e comida, como já denunciamos tantas vezes (para saber leia aqui).

Gostaria de lembrar as palavras de um desses lutadores contra o Apartheid, Stephen Bantu Biko: “Racismo e capitalismo são duas faces de uma mesma moeda”. É necessário conjugarmos a luta contra o racismo e a luta contra o capitalismo, pois não há igualdade dentro desse sistema que tem a opressão e a exploração como filosofia. Em todas as partes do mundo, os diferentes povos têm vivido a mais dura e cruel face deste sistema, sobretudo agora, quando ele está em crise. É necessário que os diferentes povos deem as mãos e nos coloquemos contra esse sistema que só gera sofrimento e dor, para nós, “os de baixo”.

Não esqueceremos os lutadores e lutadoras que deram sangue e suor na luta por liberdade e igualdade. Seguremos firmes na luta contra todo tipo de opressão. Contra o capitalismo e pela construção do socialismo.