A truculência da repressão policial na desocupação da Aldeia Maracanã no dia 22 de março foi notícia em todos os meios de comunicação, inclusive no exterior. O vídeo feito pela Associação dos Docentes da UERJ, que acompanha este artigo, traz alguns relatos de ativistas, dirigentes estudantis e sindicais que denunciam a ação policial do Governador Sérgio Cabral (PMDB).
A truculência da repressão policial na desocupação da Aldeia Maracanã no dia 22 de março foi notícia em todos os meios de comunicação, inclusive no exterior. O vídeo feito pela Associação dos Docentes da UERJ, que acompanha este artigo, traz alguns relatos de ativistas, dirigentes estudantis e sindicais que denunciam a ação policial do Governador Sérgio Cabral (PMDB). Muitos outros materiais podem ser encontrados numa rápida pesquisa no Youtube e Google.
A Aldeia Maracanã e sua reivindicação
O prédio em questão, desde a transferência do Museu do Índio para Botafogo, há décadas atrás, ficou abandonado e foi ocupado em 2006 por um grupo formado por várias tribos indígenas que buscam reestruturá-lo e transformá-lo em um centro de resgate e divulgação da cultura indígena, onde eles possam fazer a gestão das atividades.
Dessa forma, a A Aldeia Maracanã tem funcionado como polo agregador de tribos, constituindo-se como organização política numa ampla Frente Única Indígena e campo de visibilidade na cidade. Tal fato ficou evidente com o apoio e grande receptividade que a questão está recebendo nas redes sociais. E principalmente na solidariedade dos mais diversos movimentos sociais que apoiam a causa.
Quem é “primitivo”?
A razão da explosão deste conflito é que esta simples reivindicação dos índios se choca com os interesses do Governador, que não poderiam ser mais burgueses: privatização do Maracanã e seu entorno, visando a Copa e Olimpíada.
Sérgio Cabral é mais um reacionário que acredita que a cultura indígena não passa de uma cultura primitiva, como povos estacionados no tempo. E que, portanto, tem o direito de seguir existindo, mas na condição de isolamento. Isto é, vivendo em ocas de palha na Amazônia idealizada, nunca numa grande cidade como Rio de Janeiro.
Esse pensamento do Governador (que é compartilhado pelo Prefeito do Rio, Eduardo Paes, ambos do PMDB), não é menos fascista do que o pensamento da bancada ruralista e opositores das reservas indígenas, que acreditam que índios não deveriam ter nem mesmo o direito a terra, pois segundo os porta vozes do agronegócio, índio não produz nada. No fundo, querem dizer que eles não produzem nada para o mercado capitalista. E isso basta para não serem compreendidos pela burguesia, cuja racionalidade segue sendo colonialista em sua essência e só consegue compreender as sociedades que possuem necessidades materiais e simbólicas governadas pelo capital.
A responsabilidade do PT
O PT tem muitas responsabilidades sobre esta questão. Em primeiro lugar porque os índios da Aldeia Maracanã se dizem abandonados pela FUNAI, órgão subordinado ao Governo Federal. E em segundo lugar porque incoerentemente o PT segue integrando e servindo de base de apoio para os governos de Sérgio Cabral e de Eduardo Paes, apesar do Diretório Regional do PT-RJ ter decidido lançar candidatura própria em 2014 e apesar de a militância petista do RJ odiar estes dois políticos.
Há mais dois agravantes: 1) Ofato de o PT ter o secretário de Assistência Social e Direitos Humanos do Governo Cabral, o deputado estadual Zaqueu. Ele foi o responsável pela negociação com a Aldeia Maracanã. Sobre o último capítulo não precisamos falar mais, todos puderam ver, ouvir e ler sobre a grande truculência e repressão, com prisões, bombas e gás de pimenta. Parece que as únicas coisas que não apareceram foram os direitos humanos…; 2) O fato de um dos vereadores do PT na Câmara Municipal do Rio ter votado contra o tombamento do prédio ocupado pela Aldeia Maracanã. Vereador Marcelo Arar, ex-PSDB, cuja militância do PT desconfia abertamente sobre sua lealdade aos movimentos sociais.
A base do PT precisa exigir coerência da direção do partido
Este episódio é mais um que evidencia que a capacidade de combate dos trabalhadores contra a burguesia, fundamento primeiro para a construção do socialismo, continua firme e forte. Mas as soluções para suas reivindicações e desdobramentos positivos são freadas pelas contradições da coalizão que o PT formou com os partidos burgueses. É nesse sentido que a palavra de ordem de exigência para que o PT rompa com a burguesia e seus partidos não só segue atual, mas ganha força a cada episódio da luta de classes.
Para mais informações sobre a Aldeia Maracanã, sugerimos os artigos abaixo já publicados no site da Esquerda Marxista do PT.
Sobre o conflito entre a Aldeia Maracanã e o Governador da Copa ver link abaixo:
Relatos do ato de apoio à Aldeia Maracanã – 9 de novembro de 2012 consultar link abaixo:
* Flávio é: Pós-Graduando em Geografia pela UFF
Militante da Esquerda Marxista do PT – RJ