Foto: Adonis Guerra, SMABC

A ameaça de fechamento de fábrica da Toyota e o peleguismo da direção sindical

No dia 5 de abril, a Toyota do Brasil anunciou que irá fechar a fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ameaçando o emprego de 550 trabalhadores da planta. No comunicado, a empresa afirmou que vai transferir a operação industrial no ABC para as suas operações no interior de São Paulo (Sorocaba, Indaiatuba e Porto Feliz) e alega que oferecerá a oportunidade de transferência de todos os trabalhadores, porém, não se dá ao trabalho de explicar como se faz para mover mais de 500 famílias de uma cidade sem impactar profundamente em suas vidas. Aqueles que “optarem” por ficar no ABC, terão que disputar novas vagas de emprego em um país com 27,8 milhões de desempregados ou subutilizados (grupo que inclui desempregados, desalentados e quem trabalha menos do que poderia).

Com a desorganização da cadeia global de suprimentos e a crise ecnômica mundial (itensificada pela pandemia), o frete marítimo global encareceu e gerou desabastecimento de alguns itens, como os semicondutores. Esse problema “tem feito gigantes do setor automotivo, como Toyota e GM, pararem suas linhas de produção temporariamente” (Istoé Dinheiro, 18/063/22). De acordo com um estudo feito pela com estudo realizado pela Bain & Company, “a falta de semicondutores provocou redução de aproximadamente 1,3 milhão de veículos que seriam produzidos somente no primeiro trimestre” de 2021. Para manter a “competitividade”, ou seja, salvar seus lucros, empresas como a Toyota precisam reorganizar suas linhas de produção, estabelecer novas metas e fazem isso sem se preocupar com aqueles que dependem do emprego, fixaram residência e formaram famílias em São Bernardo.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), chamou uma assembleia dos trabalhadores da Toyota no dia 6, aprovando “a entrega do aviso de greve e o estado permanente de mobilização contra o fechamento da fábrica (…)”. A assembleia também encaminhou um “pedido oficial de reunião com o presidente da montadora” por parte da direção do sindicato e foi organizado um protesto com paralisação dos três turnos. O resultado da conversa com a empresa foi o esperado, com a reafirmação da Toyota de sua posição já divulgada. A primeira mobilização de rua ocorreu no dia 7, no centro de São Bernardo.

Desde o anúncio do fechamento, a direção do sindicato atua de sua forma pelega de sempre, que mal consegue manter um verniz radical. Wellington Messias Damasceno, diretor administrativo do sindicato, durante o ato do dia 7 disse que a “luta é pela suspensão da decisão, que é o mais coerente que a Toyota pode fazer agora”, porém, é o mesmo dirigente que afirma: “nossa posição não é intransigente, é a posição do diálogo. Sempre solicitamos a negociação sobre o futuro da planta”.

A postura do presidente do sindicato, Moisés Selerges, não é muito diferente. Quando foi anunciada a “vitória” após a decisão da Justiça do Trabalho, que determinou a criação de uma mesa negociação entre sindicato, governo e empresa, Moisés declarou:

Os trabalhadores seguiram a orientação da justiça de retornar ao trabalho e entenderam a vitória desta primeira fase. Queremos agora que nesta mesa de negociação tenhamos junto ao Sindicato e a empresa a participação do município, do Estado e o acompanhamento da Justiça do Trabalho. Queremos sentar, conversar e desenvolver alternativas”.

Estamos falando do mesmo sindicato que, em 2019, assinou a demissão de 750 trabalhadores da Ford do ABC, que se negou a combater o fechamento da fábrica na região. Essa é a mesma postura dos dirigentes metalúrgicos de Camaçari, BA, e Taubaté, SP, entre outros, que simplesmente bloquearam qualquer combate que pudesse salvar esses empregos.

Por mais que a situação da Toyota não seja idêntica à dos trabalhadores da Ford ou da LG, sabemos que quando uma fábrica fecha, os empregos indiretos também se tornam uma ameaça, e nesse caso, são mais de 3 mil postos de trabalhos afetados. Como apontamos em “Ford: ocupar para salvar os empregos”:

O problema é que o capitalismo não tem fronteiras e as mesmas demissões que se aplicam no Brasil também se aplicam em outros países. A Ford é apenas um dos exemplos, mas vale lembrar que em maio do ano passado a direção da Renault decidiu demitir 15 mil funcionários em todo o mundo. Enquanto, no mesmo mês, a Nissan anunciava o fechamento de fábricas na Espanha e Indonésia.

E, se depender da direção do SMABC, vamos assistir a repetição desta história. Após o anúncio das negociações, no dia 11, foi aprovado o retorno às atividades, como sinalização da boa vontade dos pelegos de garantirem uma negociação tranquila.

Retomada das lutas

Mas a dinâmica da luta de classes não funciona de acordo coma vontade de dirigentes que defendem o capital, e em alguns momentos pode até colocar trabalhadores e suas direções em choque.

A luta para pôr abaixo o governo Bolsonaro a partir da mobilização das massas foi barrada pelos aparatos da CUT, do PT, PCdoB, Psol, entre outras organizações, mas isso não impediu a retomada das lutas econômicas que vimos por meio da greve dos motoristas e garis do Rio de Janeiro, dos trabalhadores em educação de Goiânia, GO, e da rede estadual de Minas Gerais, dos médicos peritos do INSS do Paraná etc. As condições de vida da classe trabalhadora e da juventude continuam a deteriorar, a inflação galopante devora o orçamento das famílias em um país em que mais da metade da população passa por insegurança alimentar e 19 milhões passam fome.

O fechamento de fábricas e a demissão dos trabalhadores não serão revertidos através do diálogo com os patrões. As “alternativas” apresentadas pelos atuais dirigentes são distrações para desanimar os trabalhadores ameaçados e impedir qualquer mobilização que possa sair do controle. Em um primeiro momento, o sindicato deveria mobilizar os trabalhadores para uma greve e uma campanha de solidariedade de todos os operários da região, pois se a Toyota está saindo hoje, outras fábricas (assim como foi com a Ford) podem sair ou fechar amanhã. A solução para este problema está no caminho da luta, das greves e ocupação das fábricas sob controle operário.  Esse é caminho para a emancipação real dos trabalhadores, de luta contra toda a burguesia no Brasil e no mundo.