A Europa está à beira do abismo. Esta é a opinião, não somente dos marxistas, mas também dos mais sérios estrategistas do Capital. Mal se passaram seis semanas do último pacote de socorro financeiro à Grécia e ele já está descosturado.
Há agora uma crise geral de confiança nas fileiras da burguesia em termos internacionais. O pânico, que se reflete gangorra alucinante das bolsas de valores, se espalha rapidamente da Europa para a América. É uma espécie de contágio mortal que infectou todos os grandes países da zona do euro.
Agora se especula abertamente sobre a sobrevivência do euro e mesmo da própria União Europeia. Tudo está na frigideira. E tudo isto por quê? Porque a Grécia não pode pagar suas contas. Mas isto certamente não é nenhuma surpresa. Qualquer pessoa séria sabia perfeitamente que a crise da economia grega era tão profunda que tudo o que os pacotes de socorro financeiro poderiam fazer era ganhar um pouco mais de tempo.
O tempo acabou agora. A Grécia não pode pagar suas contas e acabou a conversa. Então, por que toda esta afobação? Como é que os problemas de um pequeno país, na periferia da Europa, podem causar uma tragédia de tais dimensões? Alguém poderia chamar isto de tragédia grega se não fosse pelo fato de que não se confina apenas à Grécia. Suas origens podem ser detectadas além das fronteiras da Grécia e suas repercussões também serão sentidas longe.
Por que os líderes europeus estão se envolvendo pessoalmente numa desesperada tentativa de restaurar a confiança? Por que Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), está exigindo regras orçamentárias mais estritas?Por que Mario Draghi, o presidente do Banco da Itália e também substituto de Trichet no BCE, está clamando pela imposição de limites vinculativos não apenas nos orçamentos, mas também em uma série de outras políticas econômicas nacionais?
Na raiz do nervosismo dos mercados estão as dúvidas sobre a estabilidade dos bancos europeus. Não foi por acidente que as ações bancárias foram as mais atingidas nas recentes quedas. Depois da última crise, havia um buraco negro nos bancos que os governos tentaram preencher com pazadas de dinheiro público na escala de bilhões. O resultado de todo este esforço ficou perto de zero. Os bancos não estão emprestando; os capitalistas não estão investindo; as economias estão estagnadas; o desemprego cresce e, agora, estamos à beira de uma nova recessão.
O problema é que até agora ninguém sabe qual o tamanho da dívida real desses bancos. Décadas de desregulamentação e de especulação sem controle em coisas como hedge funds, cujo funcionamento é algo muito obscuro, levaram à sistemática subestimação dos riscos que o sistema financeiro global enfrentava, da mesma forma como não se enxerga a parte principal de um iceberg, porque está submersa.
O que se sabe é que os bancos da França e da Alemanha se encontram severamente expostos em relação à Grécia. Isto basta para explicar a terna preocupação com que os governos em Paris e em Berlim abordam a crise grega. Se (ou melhor, quando) a Grécia não aparecer para pagar as contas, a isto se seguiria imediatamente uma crise do sistema bancário nos dois países mais importantes da União Europeia. É por esta razão que eles remendaram em conjunto um “fundo de resgate”, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Mas este é um caso típico de “muito pouco e demasiado tarde”.
A crise que começou com a bancarrota de bancos agora progrediu para se manifestar como bancarrota de nações. Se a Grécia for ao colapso, outras economias mais importantes a seguirão. Foi por isto que os líderes da zona do euro convocaram uma reunião de cúpula de emergência na Polônia. Seus planos anteriores estão em ruínas. A troca de dívidas que foi negociada em julho já é assunto morto. Vão ter de jogá-lo fora e conceder à Grécia algum tipo de redução da dívida para se evitar um colapso que teria efeitos devastadores em toda a Europa.
A Europa e a América
Mais cedo ou mais tarde as autoridades da União Europeia terão que decidir entre duas coisas: ou aliviar a Grécia e a Irlanda de seus programas de austeridade ou desligar o balão de oxigênio empurrando-os no abismo do default. A despeito de toda a veemência dos discursos sobre a manutenção da Grécia dentro da zona euro, no final eles terão de tomar a segunda decisão. Isto provocará as mais sérias consequências na economia europeia e mundial.
Se a União Europeia e o FMI decidirem que não podem continuar a jogar dinheiro fora e retirarem seu apoio, isto empurraria a Grécia ao abismo. Isto é o que mais temem os mercados: um default desordenado. As consequências sociais, políticas e econômicas de tal passo seriam incalculáveis – e não somente para a Grécia. Este cenário significaria o caos em escala épica.
Esta perspectiva está causando alarme nos círculos governantes da Europa.
Os economistas já estão falando na fragmentação da zona do euro, deixando-se de fora Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. Mas quando você recita o alfabeto tem de ir da primeira à última letra. A globalização significa que todas as economias da Europa estão ligadas entre si. Enfim, o que acontece mesmo em economias menores como a da Grécia inevitavelmente impacta sobre todas as demais.
Quais seriam as consequências para o restante da Europa – para a Grã-Bretanha, para a França e também para a Alemanha? Isto desencadearia uma reação em cadeia de bancos em colapso nestes países. Os bancos franceses estão severamente expostos em relação à Grécia, como os bancos alemães. Os bancos britânicos estão menos expostos à situação grega, mas estão pesadamente expostos em relação à Irlanda. Os bancos austríacos estão expostos em relação à Itália, e assim por diante.
O resultado seria catastrófico para a Europa, e não somente para a Europa. Um colapso econômico na Europa enviaria um tsunami através do Atlântico, pressionando o dólar e ameaçando minar a instável arrumação financeira nos EUA. Quando a Grécia se for, a questão do contágio a outros países será imediatamente ativada. Irlanda, Portugal, Espanha e Itália cairão como pedras de dominó. Bancos entrarão em colapso, começando com os bancos gregos e cipriotas, e depois avançando em direção aos sistemas financeiros do Reino Unido e dos EUA, que se encontram bem deteriorados.
Para evitar isto ocorra novamente, alguns economistas burgueses estão discutindo outras possibilidades. Por exemplo: um “Plano Marshall” alemão para a Grécia e sul da Europa. A ideia parece infantilmente simples: a Alemanha recebeu milhões de dólares de ajuda do Plano Marshall, o que a capacitou a reconstruir sua despedaçada economia depois de 1945. Por que a Alemanha não faz a mesma coisa para o sul da Europa? É isto que os americanos estão exigindo cada vez mais insistentemente.
Infelizmente, o paralelo histórico não é válido. Em 1945, os EUA gozavam de hegemonia total sobre seus concorrentes. Sua indústria estava intacta, enquanto a Europa e o Japão estavam devastados pela guerra. Dois terços do ouro mundial se encontravam em Fort Knox. O dólar logo se tornou “tão bom quanto o ouro”. Acima de tudo, a economia capitalista mundial estava entrando em um ciclo de crescimento que durou quase três décadas. Nenhum destes fatores existe agora.
A Alemanha é a potência dominante na Europa, mas não possui as virtualmente ilimitadas reservas econômicas que os EUA dispunham em 1945. Seus ombros são largos, mas não suficientemente fortes para tolerar o peso dos déficits acumulados da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e do resto. E, o que é mais importante, a Europa e o restante do mundo não estão às vésperas de um longo período de crescimento, e sim ao contrário, estão às vésperas de uma nova recessão e de um prolongado período de dificuldades e austeridade econômica.
Barack Obama acusa a zona do euro de estar novamente arrastando o resto do mundo à crise, convenientemente fazendo vista grossa do pequeno detalhe da gigantesca crise fiscal dos EUA e da incapacidade de os Republicanos e os Democratas chegar a um acordo sobre um plano sério de redução do gigantesco déficit orçamentário.
Os americanos estão desesperadamente exigindo aos alemães “fazer mais” para tirar a Europa da crise. Os alemães devem reduzir impostos; devem estimular a economia; devem enviar mais dinheiro para a Grécia; devem conduzir uma política coordenada de estímulos fiscais no norte da Europa. Os alemães têm de fazer isto; os alemães têm de fazer aquilo. Mas quem são os americanos para dizer aos alemães o que fazer?
Está certo, respondem os europeus, mas quem vai pagar a conta? A esta pergunta só existe uma resposta: a França e a Alemanha ou, mais corretamente, a Alemanha, que é o banqueiro da Europa em última instância. Os que falaram as bobagens sobre um Plano Marshall para a Grécia estão sendo agora polidamente solicitados a calar a boca. Mas isto é mais fácil de dizer que de fazer. Levanta problemas políticos que não são fáceis de resolver.
Eurobonds [Euro-obrigações]?
Há vinte anos, após o colapso da URSS, a classe dominante alemã tinha grandes ambições. Sua ideia central era que uma Alemanha unificada dominaria a Europa, conquistando com sua musculatura econômica o que Hitler não conseguiu por meios militares. Durante as duas últimas décadas, a França foi sendo progressivamente empurrada para um segundo plano e a Alemanha agora é o Manda-Chuva na Europa.
A ideia de uma União Europeia integrada é simpática àqueles setores da classe dominante alemã que ainda nutrem ilusões de grandeza. Mas os últimos 20 anos também convenceram a Alemanha de que manter tais ambições pode custar muito caro. Esta contradição ficou exposta no recente debate sobre a possível criação de “Eurobonds”.
Guy Verhofstadt, líder da Aliança de Liberais e Democratas para a Europa no parlamento europeu, é apenas uma voz do crescente coro que exige a criação de Eurobonds. O ministro alemão das finanças, Wolfgang Schäuble, recomendou que a Europa se movesse em direção a uma união fiscal plena.
Os verdes e o SPD [Partido Socialdemocrata alemão] já apoiaram os Eurobonds. Mas estão enfrentando uma reação de seus eleitores, que não somente são contra a união fiscal, como também contra operações de socorro financeiro em geral. Os franceses manifestaram apoio cauteloso a esta proposta. Até mesmo os líderes conservadores britânicos adotaram uma atitude surpreendentemente positiva (o que já é um indicador da gravidade da crise), que lhes está causando problemas em suas bases eleitorais.
Por um lado, esta ideia contém certa lógica. A história nos mostra que é impossível alcançar uma firme e duradoura união monetária sem algum tipo de união política. Mas aqui imediatamente encontramo-nos com novas contradições. A criação de Eurobonds requereria um grau de consenso político que simplesmente não existe. Qualquer movimento em direção à união fiscal encontrará férrea resistência. Isto também requereria a revisão fundamental dos tratados constitutivos da União Europeia.
O resultado da proposta de uma Constituição Europeia mostrou que não é fácil levar as pessoas a votar por mais poderes para Bruxelas em detrimento dos parlamentos nacionais em referendos. O sentimento de ceticismo em relação ao euro tornou-se ainda mais forte desde então.
Mas os governos da Alemanha e de outros países do Norte da Europa estão submetidos à pressão de uma inquieta opinião pública, que não tem a menor vontade de pagar as dívidas de estados estrangeiros. O governo de Merkel é impopular e já sofreu humilhante derrota nas recentes eleições.
Por enquanto, Merkel entoa o esperado mantra: a Grécia deve permanecer na zona do euro; o euro deve permanecer; a Alemanha fará isto; a Alemanha fará aquilo. Mas o fato é que a Alemanha, a mais poderosa economia da Europa, mostra sinais de estresse. Sua economia está reduzindo a velocidade, como resultado da estagnação geral da economia mundial. Seus políticos estão mostrando sinais de impaciência com as constantes solicitações de socorro financeiro.
Até agora a União Europeia tem salvado a economia grega ou pelo menos tem proporcionado alguns fundos com os quais o aflito governo de Papandreou está podendo pagar os salários de seus funcionários públicos e as pensões e aposentadorias. Mas a situação requer ainda mais dinheiro. Isto se assemelha a jogar dinheiro pela janela num poço sem fundo. E, no final, de uma forma ou de outra, a Grécia irá ao default.
Tudo o que fizeram até agora foi ganhar espaço de manobra para a Grécia. Mas isto tem um custo enorme para o povo grego, que é quem vai pagar a conta. Como sempre, não serão os banqueiros e os especuladores que irão pagá-la, e sim as camadas mais pobres da sociedade: os trabalhadores, os desempregados, os idosos e os doentes.
O preço da “estabilização das finanças” e da “reestruturação” de sua economia é a redução brutal de seus padrões de vida e o crescimento do desemprego. Isto conduzirá a uma nova queda da receita fiscal e, portanto, a novo aumento do déficit nas finanças públicas. De que forma esta loucura pode ajudar a Grécia a pagar as suas dívidas é um mistério, comparado ao qual os Mistérios de Eleusis [festivais religiosos da Antiga Atenas] da antiguidade parecem brincadeira de criança.
Sem crescimento econômico, a arrecadação fiscal permanecerá estagnada e a capacidade do serviço da dívida continuará a declinar. Mas a lenta evolução da economia mundial e a impiedosa pressão para a redução do déficit através das políticas de austeridade mergulharam a Grécia numa profunda recessão. A despeito dos penosos sacrifícios de seu povo, o governo de Atenas continua a fracassar em suas metas fiscais.
Alarmados com esta perspectiva os políticos em Bruxelas estão sendo compelidos a adotar medidas de emergência para evitar o colapso imediato da economia grega. Ainda dispõem de algumas ferramentas a usar: uma distensãonas exigências dos credores, um acordo para não se pressionar tão duramente Atenas a satisfazer metas fiscais irrealizáveis. Isto seria a coisa lógica a se fazer, pela simples razão de que não é possível tirar leite de uma pedra.
Não pode haver qualquer solução aos problemas da Europa sem crescimento econômico. Disto depende a estabilidade econômica, política e social, não somente na Grécia, mas em toda a Europa. Mas não há nenhuma perspectiva de uma recuperação do crescimento em futuro próximo.
Tendências Protecionistas
O atordoante coro mostra que a Europa tem uma inflação de propostas. Há propostas aos baldes. O problema é que nenhuma delas pode fazer qualquer coisa para resolver os problemas imediatos da zona do euro. Não podem pagar a dívida grega. Não podem deter o problema do contágio a outros países. Não podem restaurar a demolida confiança dos investidores.
No mais otimista dos cenários, talvez (exatamente isto, talvez) possam fazer algo para facilitar alguns dos problemas no longo prazo (mas, como disse Keynes, “no longo prazo, todos estaremos mortos”). Mas não podem fazer nada para resolver a presente crise, que claramente está saindo do controle.
A confusão total dos economistas é ilustrada pela ridícula atitude de Jeff Sachs, o homem que desatou o neoliberalismo sobre o Leste Europeu, apelando por uma versão global do New Deal. O problema é que tais sugestões são um anátema para um Congresso dominado pelos Republicanos, que estão determinados a perseguir políticas opostas.
Nem a economia de mercado nem as políticas keynesianas de estímulo funcionaram ou podem funcionar. Os governos e seus consultores econômicos estão desesperados. Não há mais dinheiro para estímulos fiscais e as políticas de austeridade somente servem para deprimir ainda mais a demanda, agravando a recessão.
O maior temor é que uma nova recessão provoque a ressurreição de tendências protecionistas e de desvalorizações competitivas da moeda, como aconteceu nos anos 1930. Isto teria consequências catastróficas no comércio mundial e ameaçaria a própria globalização. Tudo o que foi alcançado nos últimos 30 anos poderia assim se desfazer e se transformar em seu oposto.
As medidas recentemente anunciadas pelo Banco Suíço de desvalorizar o franco suíço constituem uma advertência de que as coisas estão sendo levadas na direção de políticas protecionistas e de desvalorizações competitivas. Foram políticas similares que transformaram a recessão de 1929-33 na Grande Depressão dos anos 1930. O mesmo pode acontecer agora.
Riscos reacionários
Temos declarado repetidamente que todas as tentativas da burguesia para restaurar o equilíbrio econômico destruirão o equilíbrio social e político. A Grécia é a prova desta afirmação. A estabilidade social e política já foram ali destruídas. E a compreensão de que todos os sacrifícios foram em vão tornará as políticas de austeridade absolutamente intoleráveis.
É possível que a classe dominante grega busque uma solução para seus problemas movendo-se em direção à Reação política, como fizeram em 1967. Entretanto, os trabalhadores gregos se lembram de 1967 e dos crimes da Junta Militar. Qualquer movimento naquela direção agora provocaria uma guerra civil.
Barry Eichengreen (professor de economia e ciências políticas da Universidade da Califórnia, Berkeley), em artigo recente, significativamente intitulado de A Europa à beira de um colapso político, reconhece isto: “Na própria Grécia, a estabilidade política e social já é tênue. Algumas balas de borracha a mais podem ser suficientes para transformar os próximos protestos de rua em aberta guerra civil”.
Barry Eichengreen não está sozinho quando afirma isto. Paul Mason, o editor de economia do canal 2 de notícias da BBC, escreve:
“Nas chancelarias da Europa, principalmente em Berlim, estas questões não são mencionadas. Há uma total incongruência entre as expectativas políticas e o que está para acontecer.
“Isto me faz relembrar – como tantas coisas de 2011 me fazem relembrar – de 1848. Metternich [diplomata e estadista do Império Austríaco] zombando da multidão, poucas horas antes de sua ignominiosa queda; Guizot [primeiro-ministro da França], atordoado com o choque de sua renúncia ao ministério; Thiers, primeiro-ministro por um dia, sofrendo um surtode histeria em sua carruagem, acossado pelas massas…”.
Estas linhas revelam que os estrategistas burgueses mais inteligentes estão seriamente alarmados pelo que está acontecendo na Grécia. O problema não é exatamente que isto possa levar a uma guerra civil. O problema é que a burguesia grega não está convencida de que pode ganhar uma guerra desta natureza. A classe trabalhadora não foi derrotada. Ela sente o apoio da massa da população grega – não apenas dos trabalhadores e camponeses, não apenas dos estudantes e dos intelectuais, como também dos pequenos comerciantes e motoristas de táxi que estão chegando a conclusões revolucionárias devido ao súbito colapso de seus padrões de vida.
Os políticos em Bruxelas temem que a Grécia esteja se tornando ingovernável. E isto ainda não aconteceu graças aos líderes reformistas. A liderança do PASOK está ansiosa para mostrar suas “qualidades de estadistas” e seu patriotismo, isto é, sua devoção aos interesses dos banqueiros e dos capitalistas. Ela está disposta a canalizar para si todo o ódio que existe em relação aos programas de austeridade e até mesmo a se sacrificar no altar do Capital grego e europeu, se necessário.
Em novembro de 2001 houve um default incontrolável na Argentina, acompanhado por uma corrida aos bancos. Os bancos fecharam suas portas, houve protestos de massas nas ruas e o presidente teve que fugir pelo teto de seu palácio em um helicóptero. Algo semelhante pode ocorrer na Grécia, onde os manifestantes penduraram um cartaz nas grades do parlamento mostrando um helicóptero conduzindo o primeiro-ministro Papandreou.
O governo é profundamente impopular. Mas quem o substituiria? A oposição de direita não quer tomar o comando das rédeas do governo em condições de crise aguda e com a classe trabalhadora inquieta. Não é com a direita que a burguesia está obrigada a se apoiar para se salvar, mas com os líderes do PASOK. Políticos, como Evangelos Venizelos e Elena Panaritis (os conselheiros educados no Ocidente e não eleitos do primeiro-ministro Papandreou), e o próprio Papandreou são os salvadores da burguesia: eles constituem sua única defesa contra as massas.
O mesmo acontece por toda a Europa. Sem a liderança reformista, o capitalismo não duraria uma semana. Por todas estas razões, as conversa sobre o risco do fascismo e do bonapartismo não têm nenhum sentido presentemente. A classe dominante da Europa deve se basear nestas organizações. A burguesia não necessita dos fascistas no momento.
Qualquer tentativa de se mover na direção do fascismo ou do bonapartismo neste momento simplesmente levaria a classe trabalhadora à ação.
Naturalmente que isto pode mudar. A crise atual pode demorar anos e décadas. Contudo, em certo momento, a classe dominante dirá: há tantas greves, tantas manifestações, tanta desordem; necessitamos restaurar a Ordem! Então, ela se moveria em direção à Reação. Mas mesmo neste caso, a classe dominante teria de proceder cautelosamente: primeiro, avaliando a situação para poder, depois, se mover em direção a um bonapartismo parlamentar.
Esta perspectiva não é para agora, tanto para a Grécia quanto para qualquer outro país europeu. Pelo contrário, o pêndulo está oscilando para a esquerda. A classe trabalhadora terá muitas oportunidades de tomar o poder em suasmãos antes que a classe dominante possa se voltar para a Reação. Naturalmente que o movimento da classe trabalhadora nunca é em linha reta.
A confederação sindical dos servidores públicos da Grécia, ADEDY, antecipou na quarta-feira que estava se preparando para ações contra os planos do governo de ampliar o regime de “reserva de força de trabalho”, que colocaria os servidores civis sob uma aguda redução de salários durante 12 meses antes de se rever a situação. Isto revela que ainda existem importantes reservas na classe trabalhadora da Grécia. Novas camadas entrarão na luta para substituir , os que estão cansados por meses de atividade constante.
Não devemos adotar uma atitude superficial e impressionista em relação a acontecimentos como os da Grécia. As massas não podem permanecer nas ruas indefinidamente. Haverá períodos de calmaria, nos quais os trabalhadoresanalisarão profundamente o que aconteceu, criticarão, compararão e tirarão as devidas conclusões. É precisamente em períodos como estes que as ideias do marxismo podem ganhar poderoso eco, sob a condição de que sejamos pacientes, que ouçamos o que as massas estão dizendo e que levantemos as palavras de ordem corretas.
Durante os eventos revolucionários que estão por vir, os trabalhadores avançados e a juventude aprenderão. Se trabalharmos corretamente, poderemos ajudá-los a chegar a conclusões revolucionárias e à compreensão da necessidade do marxismo e de uma organização revolucionária.
Em toda a Europa, a classe trabalhadora e a juventude estão entrando no caminho da luta. Na Itália, houve uma greve geral e manifestações de massas contra o plano de austeridade. O programa de Berlusconi é muito pequeno para os patrões, mas enorme para os trabalhadores. Fora do parlamento na noite da quarta-feira, a polícia antimotim chegou sob um dilúvio de fogo, bombardeio de tinta e mesmo um coração de porco lançado pelos manifestantes irados.
A agência de classificação de risco Moody’s já informou antecipadamente, em 17 de junho, sobre uma possível rebaixa na nota de crédito da Itália e sua decisão final é esperada para sábado. Incessantemente, implacavelmente, a crise se espalha e novos encargos estão sendo lançados nos ombros da classe trabalhadora em cada país.
Qual o dever dos marxistas nesta situação? Nosso objetivo não é chegar às massas com nossa propaganda. Isto está fora de nossas capacidades.
Nosso foco são os elementos mais avançados dos trabalhadores e da juventude. Não propomos palavras de ordem corriqueiras de agitação, que meramente dizem aos trabalhadores o que já sabem. Os trabalhadores necessitam que lhes seja dita a verdade. E a verdade é que sob o capitalismo o único futuro que os espera é um futuro de austeridade permanente, queda dos padrões de vida, desemprego e pobreza.
Devemos explicar que somente a expropriação dos banqueiros e dos capitalistas e a substituição da anarquia capitalista por uma economia planificada democraticamente pode proporcionar o caminho de se sair da crise. Particularmente, devemos reagir ao veneno nacionalista dos estalinistas avançando a palavra de ordem dos Estados Unidos Socialistas da Europa, a única alternativa real à bancarrota da União Europeia dos patrões. Nosso dever, para usarmos a expressão de Lênin, é explicar pacientemente.