A CULPA É DO FIDEL

Aqui não escrevo um “Diários de motocicleta” – e nem de longe chega a ser parecido -, mas apenas um pequeno relato das experiências que tive em minha curta estadia na Ilha de Cuba, mais precisamente em Havana e Varadero.

O título é uma referência ao filme “La faute à Fidel!”, ou a “A culpa é do Fidel!”, em português.

Aqui não escrevo um “Diários de motocicleta” – e nem de longe chega a ser parecido -, mas apenas um pequeno relato das experiências que tive em minha curta estadia na Ilha de Cuba, mais precisamente em Havana e Varadero.

O título é uma referência ao filme “La faute à Fidel!”, ou a “A culpa é do Fidel!”, em português. Este filme relata a transformação de Anna, uma garota de 9 anos que vê sua vida mudar completamente assim que seus pais voltam à militar pelo comunismo. Utilizo esse mesmo título, pois, assim como Anna – que reproduzia os discursos de sua babá, uma exilada cubana que odeia Fidel e todos os comunistas; é comum vermos pensamentos resumidos apenas a estereótipos, preconceitos e reproduções sem fundamentos.

Ao longo de uma semana cheia de conversas, pesquisas e posições diversas, foi possível conhecer um pouco da cultura cubana, dos benefícios e problemas do seu povo, das suas insatisfações e lutas; enfim, perceber um pouco da vida do povo cubano.

Para aqueles que buscam detalhes maiores, recomendo um livro que eu adquiri na ilha: “100 preguntas y respuestas sobre Cuba”, de Carmen R. Alfonso Hernández, obra publicada em 2012. Segundo a autora, o livro busca “oferecer ao leitor a realidade atual de Cuba com as múltiplas transformações políticas, econômicas e sociais que fortalecem as principais conquistas da revolução”.

Destaco que não concordo com a autora quando ela diz que as medidas atuais fortalecem as conquistas da revolução pois, pelo contrário, tais medidas são progressivas aberturas ao capitalismo. Sobre isso, já gostaria de indicar um texto do camarada Ubaldo Oropeza; militante da seção mexicana da Corrente Marxista Internacional (CMI), que aborda de forma mais precisa Cuba e as medidas que estão sendo tomadas. O texto chama-se “Cuba ¿reforzamiento del modelo o giro al capitalismo?” e será lançado na próxima edição da Revista América Socialista, podendo ser adquirida com qualquer militante ou no site www.livrariamarxista.com.br a partir de 15 de outubro.

Espero que vocês se encantem com as fotos e as informações. Eu fiquei encantado com tudo o que vi por lá, apesar dos problemas evidentes. As fotos presentes no meu álbum, no Facebook (https://www.facebook.com/gabriel.pinho.161/media_set?set=a.510310879104084.1073741833.100003755308273&type=3) servirão para ilustrar as informações apresentadas nesse texto, além de complementa-las.

Cuba é um país com problemas, onde a burocracia do Partido Comunista, a corrupção e o embargo econômico dos EUA refletem em desastrosas deficiências sociais, mesmo com a expropriação do capital.

Apesar de toda a sua beleza natural, de sua arquitetura histórica, de suas estradas e ruas serem bem sinalizadas, da universalização do ensino – você não encontra pessoas analfabetas em Cuba e nem crianças fora da escola –, da saúde garantida para todos, dos medicamentos de graça ou por preços muito baixos; do transporte público com preços simbólicos; da igualdade representativa entre homens e mulheres (49% do parlamento cubano composto por mulheres, por exemplo); da valorização do esporte – é muito comum ver campos de beisebol aberto para todos, mesmo nas pequenas províncias –; da medicina preventiva e referencial para o mundo todo, de acordo com a OMS e com a ONU; da alta quantidade de médicos e enfermeiros por habitantes (Cuba tem a densidade de médicos mais alta do mundo, são 6,4 para 1.000 habitantes); da extrema segurança que se tem no país; da valorização da cultura; do fato de não haver pessoas dormindo nas ruas… Apesar disso tudo, Cuba possui diversos problemas.

No entanto, como disse o meu amigo Érico Bomfim em seu álbum sobre a sua ida à Havana-Cuba, o link é esse: https://www.facebook.com/erico.bomfim.5/media_set?set=a.445825105515317.1073741826.100002634944285&type=3, os problemas mais terríveis que existem nos países capitalistas, não existem em Cuba, enquanto que os luxos que se têm nesses países, não há na ilha. Mas, também não tem a miséria dos países capitalistas.

O amor à Cuba, algo frequente em todos os discursos do povo cubano – seja do trabalhador contrário ou a favor da revolução (sim, eu presenciei as duas versões), é lindo de se ver. A forma como a população trata o seu país, mesmo diante da crise econômica que, entre outros fatores, advêm do criminoso embargo norte-americano (TODOS os cubanos culpam o embargo dos EUA pelos problemas econômicos, mesmo que em diferentes proporções) e da corrupção que cada vez mais penetra no seio social, nos faz ficarmos arrepiados a cada fala, a cada letra de música.

Preciso destacar a crescente prostituição na ilha. Com o aumento do turismo, uma parcela da população vê na prostituição uma forma de se conseguir recursos de maneira rápida e fácil, já que os turistas pagam em CUC pelos “serviços” (mais a frente vocês verão explicações sobre as moedas). Outra coisa que me trouxe muita preocupação é a quantidade de fumantes, fazendo com que o câncer de pulmão seja a maior causa de mortes em Cuba.

Um ponto que eu faço questão de relatar para vocês é sobre o avião. A ida e a volta foram a partir de um voo “direto” entre Havana-Guarulhos (na verdade, o avião para em Manaus apenas para abastecimento, fato esse que demora em média uma hora), operado pela empresa Cubana de Aviación, fundada há quase 85 anos e estatizada após a revolução. A empresa passou a operar no Brasil com voos semanais, desde julho de 2013. O avião utilizado nesses voos é um Tupolev TU-204-100E, russo (como pode ser visto numa foto do álbum).

Quanto à educação, todos os cidadãos têm acesso ao sistema de educação. Ela é inteiramente pública e gratuita, referência para outros países da América Latina e do mundo (assim como a medicina). Só para destacar, em Cuba o analfabetismo foi erradicado. Uma curiosidade é que há uma universidade em cada província, sendo que há três nas grandes cidades.

Todas as pessoas que concluem a universidade possuem um trabalho garantido na província em que cursou. Quando um cubano vai estudar em outra província, ele recebe um salário mínimo e um carnê de transporte, além de morar em casas estudantis. Da mesma forma que funciona com a medicina, o estrangeiro pode estudar em Cuba. Por sinal, no meu voo de volta estavam dezenas de estudantes brasileiros que se formaram em 2014 no curso de medicina, todos eles da turma de 2008 (sim, em Cuba a medicina é de 6 anos, fora a especialização que dura entre 3 e 4 anos).

Para ingressar na Universidade é necessário apenas tirar boas notas. Aquele aluno que tira boas notas na escola, durante todo o seu ensino, tem acesso garantido na universidade de sua província.

Quanto à saúde, Cuba é o país da América Central e América do Sul que mais investe nessa área: são destinados 12% do PIB. A expectativa de vida em cuba é de 78 anos, um dos melhores índices do continente americano. A medicina lá é a chamada Medicina Familiar, que se baseia em três instâncias de atendimentos. A primeira são os médicos de família, que visitam as famílias e atendem a todos os bairros. A segunda são as policlínicas, permitindo um melhor atendimento, sendo que apenas os casos mais graves vão para a terceira instância, que são os hospitais.

Quanto à economia, atualmente há duas moedas vigentes no país (o governo já está aplicando medidas para unificar). O peso cubano, conhecido como CUP, é a moeda nacional e aquela utilizada para pagar os trabalhadores em Cuba; serve também para comprar produtos e serviços básicos.

Já a moeda utilizada pelo turista, o peso convertível, conhecido como CUC. Um CUC vale US$1 (um dólar); enquanto que 25 CUP, ou pesos cubanos, valem US$1 (um dólar). Já na utilização delas, muitos lugares aceitam apenas o CUC, enquanto outros aceitam apenas o CUP (normalmente os mercados e farmácias). Por outro lado, há lugares – a maioria – que aceita tanto CUC, quanto CUP. Esses lugares dividem-se em dois tipos de funcionamento: aqueles que igualam o valor de um CUC para um CUP (na verdade, esses lugares “dizem” que os “nacionais” pagam mais barato e os “estrangeiros” mais caro) e aqueles que fazem o “câmbio”, utilizando a diferença pela valorização do CUC.

Sendo assim, em alguns lugares, por exemplo, enquanto os cubanos pagam 6,00 (seis) CUP para entrar, o turista deve pagar 6,00 (seis) CUC para entrar. O turista paga 25 vezes mais que o cubano nesses lugares. Já outros cobram o mesmo valor em CUP e CUC, sendo assim, enquanto o cubano paga 25,00 CUP, o turista paga 1,00 (um) CUC.

A principal consequência da existência destas duas moedas é que se está diferenciando classes sociais em Cuba, com gente que tem CUC (gente da área de turismo e funcionários do governo, além de outros) e os cubanos que não tem CUC e nem como comprar o que só se vende em CUCs, a maioria da população.

Aquele que pensa que a principal fonte da receita cubana é o turismo, o rum ou charuto, está totalmente enganado. O principal contribuinte ao PIB cubano são os serviços: é a partir da exportação dos médicos, professores e engenheiros que Cuba conquista a sua maior renda; são a partir de programas como o Mais Médicos, por exemplo. Os principais sócios comerciais de Cuba são: 1) China; 2) Canadá; 3) Brasil.

É importante deixar claro que os salários, mesmo que baixos, gerando uma insatisfação por parte do trabalhador da ilha, não caracterizam uma situação de miséria na população – já que, como visto anteriormente, a população cubana recebe diversos subsídios do governo, como saúde, segurança e educação, que são totalmente gratuitos; além de que a água, a eletricidade, o gás e o transporte são muito baratos, quase simbólicos.

Estas são as grandes conquistas da revolução que expropriou o Capital! E já que eu toquei no assunto “transporte”, fico feliz em dizer: os ônibus em Cuba circulam 24 horas! (Não sei como funciona nas outras cidades, mas em Salvador a frota encerra totalmente às 00:30). Não é preciso ter medo de ser assaltado, já que são raros os casos de crimes no país. Você pode namorar tranquilamente em qualquer praça pública durante qualquer hora da noite!

Por fim, diante disso tudo e do que me foi relatado pelos próprios cubanos, fica claro que o povo não quer mudar o sistema socialista, não quer retroceder aos feitos da revolução. O trabalhador cubano quer melhorar a sua economia e eles têm a consciência de que para isso é necessário o fim do embargo econômico e da burocracia estatal e a conquista da revolução internacional.

Por isso, meus amigos, aproveitem essa experiência virtual e não deixem de conhecer pessoalmente a ilha e os feitos da revolução.

Solidariedade à revolução cubana! Pelo fim do Bloqueio econômico!

“Venceremos, venceremos

mil cadenas habrá que romper.

Venceremos, venceremos,

al fascismo sabremos vencer.”

(Unidad Popular)