Foto: Agência Brasil

A direção da CUT eleva a traição a um novo patamar

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 04, de 16 de abril de 2020. Confira a edição completa

Desde meados de março as centrais sindicais, em especial a CUT, davam indicativos claros do que proporiam frente ao aprofundamento da crise do capitalismo exposta pelos efeitos do coronavírus em nível mundial. 

Em nota do dia 16 de março1, explicitando as ações a partir da suspensão dos atos do dia 18 do mesmo mês, as entidades aventavam defender o emprego, os direitos e a recuada medida de suspensão da dívida pública. Contudo, duas semanas depois, a tônica conseguiu ser ainda mais adaptada às necessidades do capitalismo, em detrimento do que realmente precisa a classe trabalhadora.  

Na reunião do dia 1º de abril2, as centrais aprovaram nota em que o norte político era pressionar o Congresso e o Governo Federal. Ou seja, linha reduzida ao âmbito institucional. Além disso, as centrais, da “defesa da estabilidade do emprego”, passaram a defender “A estabilidade de 180 dias para todos os trabalhadores, como forma de garantir emprego e renda” e “Prorrogação do seguro desemprego”. Porém, não propõe nada de efetivo que possa garantir os “empregos e a renda’’ mesmo nesta rebaixada forma. Afinal, recuam mesmo da já adaptada posição pela suspensão do pagamento da dívida pública, quando o correto seria a intransigente luta pelo fim desse verdadeiro roubo, e destinação deste valor para todos os setores essenciais da sociedade. 

Em nota da CUT no dia 2 de abril3 sobre a MP 936 de Bolsonaro (que garante redução de salário e jornada, e suspensão contratual), a entidade defende novamente a estabilidade no emprego, a defesa dos salários e, como previsto, não propõe nada que possa garantir isso. Inclusive recua da linha do isolamento horizontal. De modo escamoteado, defende a manutenção da produção. Ao publicar a defesa da “Garantia de segurança e proteção aos trabalhadores que continuam exercendo suas atividades, em especial aqueles de atividades essenciais com a distribuição de Equipamentos de Proteção Individuais, álcool gel, produtos de higiene, etc.”, a entidade aceita a continuidade dos serviços não essenciais. Isso vai aumentar a exposição dos trabalhadores e, consequentemente, o número de mortos em nossas fileiras. Uma das medidas mais óbvias a serem defendidas nesta situação é que somente trabalhadores de serviços essenciais continuem operando e, esses sim, com total disponibilidade de EPIs. Porém, mais uma vez, a direção da CUT deixa esse “detalhe” (que custará milhares de vidas) escapar. Outra vergonhosa adaptação da entidade. 

Além disso, nas duas últimas notas citadas, as centrais sindicais centram fogo na linha de que o melhor agora é organizar negociações coletivas para impedir os ataques. O sentido disso fica claro no seguinte trecho de outra nota da CUT: 

“A prioridade das direções sindicais neste momento é procurar imediatamente o sindicato patronal para negociar uma convenção coletiva específica e abrangente. Ou as empresas para negociar e firmar um acordo coletivo.”4

Mais uma vez a CUT recorre à luta institucional, às câmaras tripartites, como forma de lutar contra os ataques. Sim, somos a favor de ações coletivas e organizadas, e sabemos que somente elas podem apresentar qualquer perspectiva aos trabalhadores. Contudo, isso não significa nos submeter a ambientes negociais hostis à classe trabalhadora que, quando muito, aceitam escutar e, via de regra, ignoram nossas demandas. Na prática, os patrões vão impor suas negociações individuais prejudicando milhões de trabalhadores em todo o país. 

Uma medida correta da CUT e de qualquer central que, de fato, representasse os trabalhadores seria a chamada à luta contra a MP 936, e a orientação que nenhum sindicato assina um acordo que preveja qualquer retirada de direitos (redução de jornada e salário, antecipação de férias etc.). Só uma ação coletiva sim, mas de classe contra classe, e em nível nacional, poderia reverter os efeitos drásticos dessa MP. Porém, a CUT segue a linha da derrota. Deixará a cabo de cada sindicato, individualmente, negociar o grau do ataque dos patrões em cada categoria. Já sabemos o resultado dessa pulverização das lutas em detrimento de uma ação centralizada. 

Um último aspecto a ressaltar: a CUT critica os bancos por não darem crédito a micro e pequenas empresas5,contudo, se limita a denunciar tal prática, como se os banqueiros fossem se comover com as lágrimas proletárias. A medida correta seria exigir a estatização dos bancos e do sistema financeiro como única forma de garantir os salários dos trabalhadores desse setor. Sem isso os bancos, como de costume, sairão mais enriquecidos dessa crise, deixando às traças trabalhadores e falindo centenas de pequenos-negócios no país, o que significará ainda mais desemprego. 

Nossas Tarefas

Em meio a essa profunda crise do sistema capitalista, a CUT teria a oportunidade de explicar os pormenores da falência dessa sociedade e a necessidade da luta pelo socialismo. Poderia levantar bandeiras que realmente apresentassem alternativa aos trabalhadores, assim como fazem os trabalhadores italianos. Porém, seguirá na linha de defesa do capitalismo, continuando a ser o principal bloqueio para o desenvolvimento da luta dos trabalhadores brasileiros contra o sistema. 

Cabe a nós continuar a luta por forjar as novas e revolucionárias direções do proletariado. Isso significa reorganizar os trabalhadores sob eixos genuinamente de classe, superando os entraves históricos dos aparatos. Essa é a nossa luta, junte-se a nós!

 

Referências: 

1 https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2020/03/centrais-protecao-ao-emprego-e-producao/

2 https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2020/04/centrais-amp-936/

3 https://www.cut.org.br/noticias/nota-da-cut-mp-936-nao-responde-as-exigencias-e-necessidades-da-classe-trabalhad-b940

4 https://www.cut.org.br/noticias/so-negociacao-coletiva-com-sindicato-salvara-trabalhador-de-sufoco-na-quarentena-61ce

5 https://www.cut.org.br/noticias/alheios-a-pandemia-bancos-negam-credito-a-micro-e-pequenas-empresas-51f3