A direção do PT, Zé Dirceu e a Globo

 

 

A direção do PT elegeu o seu inimigo principal: a “mídia”, a “grande imprensa”, “os jornalões” como escrito no blog do Zé Dirceu: http://www.zedirceu.com.br
O que tem de verdadeiro nesta crítica? Em nosso entender duas questões: os jornais tornaram-se o principal “partido” da oposição, organizando na situação atual os frangalhos políticos da burguesia para contestar o PT. Depois, os jornais são os principais (e consequentes) defensores da iniciativa privada. 

O problema é que se a crítica é justa sobre estes dois aspectos, a realidade é que a direção do PT e Zé Dirceu resvalam incomodados com a própria política do PT. Conceder não é privatizar? Trata-se de um mero aluguel, como “explica” o artigo de Walter Pinheiro na Folha de São Paulo (14/2/12, opinião)? Mas, “todo mundo sabe” que um aluguel de 30 anos é bem diferente de um aluguel de 12 meses. Alias, gostaria de saber se em algum lugar deste país algum trabalhador tem um contrato de aluguel de 30 anos.

Pensando bem, o governo poderia abrir também para os trabalhadores esta perspectiva: aluguel de 30 anos, financiados em 80% pelo BNDES. Tenho certeza que a maioria dos trabalhadores iria aderir correndo a este plano! Excelente negócio, pena que só valha para os “concessionários” que ganharam concessões de aeroportos, rodovias, linhas de trem, etc. E os juros do BNDES, cara, que coisa. Mais baratos que a inflação, ou seja, você pega o dinheiro e devolve menos que pagou! Bem mais baratos que os juros pagos para o financiamento imobiliário que chegam a dobrar ou triplicar o preço final de um imóvel. Mas estes só estão disponíveis para os empresários, para os trabalhadores tem sempre o SFH, com juros bem maiores.
Aliás, esta era a crítica que o PT fazia as privatizações dos tucanos: feitas para algumas empresas, com juros subsidiados. O engraçado é que de tanto criticar os jornais, Zé Dirceu se esqueceu de criticar esta parte: os jornais esqueceram que o BNDES financiou as duas “operações” (privatização e concessão). 
A outra parte do artigo do Zé sobre a imprensa é, digamos, no mínimo engraçada. Para não dizer trágica. Zé critica o senador tucano Aécio Neves.
Presidenciável tucano, já em campanha a três anos da eleição, o novo líder da oposição nacional – se bem que já completou um ano no Senado e ainda não disse bem a que veio – o senador Aécio tenta sustentar um pouco este seu artigo em apagões aéreos.
 
Para rebatê-lo e desmoralizar seus argumentos medíocres, não é preciso ir muito longe. Basta lembrar a passagem do ano, o final de 2011, período em que os aeroportos funcionaram sem nenhum apagão.

Já O Globo aproveitou seu material do fim de semana para um ataque amplo, geral e irrestrito: criticou o que, a exemplo da oposição, também chama de privatização; a atuação do governo diante de greves de PMs; e as alianças que o partido negocia com o que o jornal chama de partidos de centro-direita para as eleições municipais de 7 de outubro próximo.
Muito bem. Concordo inteiramente. Nenhum dos Tucanos, seja Aécio, FHC ou Alckmin, nem a Globo, têm qualquer moral para criticar qualquer coisa no PT. O probleminha é que nós, aqueles que acostumaram com o PT no tempo em que ele nasceu, ficam com uma pulga atrás da orelha: Se todos eles merecem ser criticados (e merecem), porque a insistência em fazer acordos com eles, como para eleger o prefeito de BH? 
Toda esta discussão, na verdade, gira em falso se nós esquecemos o central: a história do mundo é a história da luta de classes (Marx) e a explicação do que acontece – imprensa, tucanos, privatização, concessões – tem que ser vista sob o ponto de vista das classes sociais em luta. 
Afinal, quem está certo, o dirigente sindical que declarou que “com o financiamento do BNDES até o sindicato faria uma gestão boa nos aeroportos” ou o tucanato que aplaude as concessões? Vamos admitir: se os tucanos aplaudem, alguma coisa tá errada.
O que está certo, a base petista que vaia o Kassab ou a direção que o carrega para mais uma aliança do PT com a burguesia? O que está certo, atender o povão, dar a vez e a voz pro peão, ou continuar com esta política de alianças que só leva a escândalo atras de escândalo de corrupção?
Sim, Zé Dirceu tem razão: “os jornalões” atacam o PT pelo que ele é – um partido que nasceu da classe trabalhadora. Mas está errado na resposta, que deve ser o rompimento com a burguesia e seus métodos, com estas coligações, o fim da política de privatizações e concessões e a adoção de uma política de reestatizar tudo o que foi privatizado. Afinal, a resposta aos “jornalões” deve ser um claro rompimento com a política da burguesia que os “jornalões” defendem. O resto é retórica vazia que não resiste a qualquer análise séria.