Atualmente, a classe dos capitalistas não é nada mais que um parasita. Ela não tem nada a oferecer àqueles que sofrem de alguma doença, a não ser a elaboração de fraudes e especulações de patentes.
Atualmente, a classe dos capitalistas não é nada mais que um parasita. Ela não tem nada a oferecer àqueles que sofrem de alguma doença, a não ser a elaboração de fraudes e especulações de patentes.
Quando Marx e Engels escreveram o Manifesto do Partido Comunista, a classe dos capitalistas ainda tinha um papel progressivo para desempenhar na História, ao menos no que se referia ao desenvolvimento das forças produtivas da sociedade. Entretanto, mesmo que eles tivessem notado isso, eles também apontaram os aspectos vulgares do capitalismo. Devido à necessidade de um “mercado em expansão constante”, os capitalistas revolucionaram os meios de produção, livrando o mundo de velhos preconceitos nesse processo, criando condições nas quais “tudo o que é sagrado é profanado”.
Nesse contexto, a recente compra pela Turing Pharma do Daraprim, uma droga usada para tratar uma doença comum conhecida como toxoplasmose e para, em conjunto com outras drogas, tratar AIDS, passou a ser de uma mera compra vulgar e profana para uma vil e criminosa. O preço dessa droga aumentou de um dia para o outro de US$13.50 para US$750 por comprimido. O custo de tratamento dos pacientes aumentou de cerca de US $1,130 para $63,000. Ao longo dos anos de tratamento, o custo agora pode ser superior a US$600,000 para muitos pacientes. Esse aumento em mais de 5000% é doentio, até para os padrões capitalistas. Apesar disso, essa droga foi formulada em 1953.
Martin Shkreli, o moderno CEO da Turing Pharma, disse que ele está apenas tomando conta dos interesses dos acionistas e que, no fim das contas, esse aumento nos preços será bom para os pacientes! Isso apesar de ter sido condenado severamente, inclusive pela mídia burguesa. Esse é um daqueles momentos nos quais o capitalismo está tão desnudo que até os mais leais servos do rei bradam que ele está nu!
Aumentos graduais nos preços de 20%, 100%, ou 200% são completamente aceitáveis no ponto de vista da burguesia e de seus bajuladores, e é algo que acontece regularmente na indústria farmacêutica. Mas esse aumento descarado arrisca expor toda a economia de mercado como uma fria e cruel fossa de se fazer lucros, que de fato é.
Sob a pressão de um descontentamento em massa, parece que a Turing Pharma pode abaixar o aumento inicial de 5000%, mas a forma que o sistema funciona permanece a mesma. Isso porque há a existência de uma lógica interna—se o funcionamento do capitalismo pode ser assim caracterizado—no que Shkreli está fazendo. Em parte, isso é uma continuação da crise do capitalismo que explodiu em 2008. Há pouquíssimas possibilidades, no geral, para investimentos que garantam retornos estáveis. Especulação, à maneira de apostar em cavalos, já ultrapassou os empreendimentos produtivos da classe dos capitalistas.
Entretanto, além da decadência geral do capitalismo, há algo mais específico da indústria farmacêutica nessa história, que revela toda essa indústria como sendo um jogo fraudulento que tem sido jogado por anos. Começou com a criação de insulina humana sintética em 1978. Essa inovação, de suma importância aos diabéticos, que eram administrados com insulina de porco, enviou ondas de choque por toda a indústria farmacêutica. Esse impacto não estava relacionado ao seu uso como tratamento para diabetes, mas, em vez disso, ao fato de ter sido produzida por uma corporação ligada à Academia e, consequentemente, ter tido financiamento público—sendo então licenciada, ou comprada, pela Big Pharma.
Isso mudou o jogo para as companhias farmacêuticas, e elas abandonaram quaisquer pretensões de fazer pesquisas científicas por si mesmas. Atualmente, companhias de médio e grande porte não inovam. Esse trabalho é feito por empresas de biotecnologia, frequentemente saídas de “incubadoras” universitárias, que criam novas drogas com o objetivo específico de serem adquiridas por—ou formarem parcerias com—grandes companhias farmacêuticas. Pfizer, Merck, GSK, e até empresas de médio porte, como Turing, estão no jogo de comprar e vender drogas para o lucro, e fim da história.
Por alguns anos, essa dinâmica pareceu servir muito bem à indústria farmacêutica e aos capitalistas. Ela pode até ter tido, pontualmente, alguns efeitos positivos na saúde das pessoas, mas esse era apenas um efeito secundário para a busca de lucros, e que veio das expensas da pilhagem da classe trabalhadora—em 2013, 60% das falências nos Estados Unidos foram causadas pelo não pagamento de despesas médicas.
Mas como todos os outros capitalistas, os patrões da indústria farmacêutica estão com problemas. Há uma queda de patentes se aproximando na próxima década. Enquanto as patentes das drogas mais lucrativas estão próximas de expirar, essas empresas esperam perder bilhões em rendimentos para os medicamentos genéricos. O foco de toda a indústria mudou para “medicamentos órfãos [que atendem a doenças raras – NDT] e especiais [que exigem métodos adequados de aplicação e/ou controle – NDT]”. Em outras palavras, doenças raras que não têm muitas drogas comercializadas.
E é nesse contexto que a Turing comprou o Daraprim por US$55 milhões do Impax Laboratories, em agosto. Trata-se de um “medicamento especial”, sendo que ele apresenta desafios para as empresas que fabricam genéricos, já que há apenas um “mercado pequeno” de, potencialmente, milhões de pessoas que dependem dele para se manterem vivas. E esse é um mercado pequeno que Turing pretende manter como refém! Mesmo que o CEO Martin Shkreli insista que o dinheiro vai se destinar a inovações, até mesmo uma rápida olhada no histórico de produtos da Turing demonstra que eles apenas inovaram no que é secundário. Por exemplo, ao pegarem medicamentos existentes que são, tipicamente, administrados oralmente e formular maneiras de administrá-los em forma de spray. Isso é uma maneira fácil de ganhar dinheiro, nada mais, nada menos.
O capitalismo há muito tempo já foi uma força progressista. Atualmente, a classe dos capitalistas não é nada mais que um parasita. Ela não tem nada a oferecer àqueles que sofrem de alguma doença, a não ser a elaboração de fraudes e especulação de patentes. Todo o foco consiste em maximizar o retorno. Não é segredo que na indústria farmacêutica a maior parte dos gastos com investimentos está no tratamento de doenças crônicas, não no desenvolvimento de curas para doenças crônicas e agudas.
Isso está em contraste gritante com o tipo de trabalho feito, por décadas, em Cuba. Essa pequena e isolada nação insular está mostrando o caminho para pesquisas que andam em direção a curas. Ela já provou que é possível parar a transmissão de HIV da mãe para o filho e está trabalhando para uma vacina para o HIV. Cuba não é, de maneira alguma, uma verdadeira sociedade socialista. “Socialismo em um só país” é um conceito que foi, de forma conclusiva, desmascarado pela história. O socialismo deverá ser internacional ou não poderá existir, e deve incluir o planejamento e controle direto e democrático sobre a economia e o Estado pela classe trabalhadora. Não obstante, o sistema de saúde cubano é um exemplo do que pode ser feito com base em uma economia nacionalizada e planejada. É um vislumbre do que a humanidade será capaz quando se focar nas curas, em vez dos lucros, e de como o socialismo genuíno será, uma vez que se espalhar por todo o mundo.
Sob o socialismo, os vastos recursos que a humanidade desenvolveu sob o capitalismo poderiam ser aproveitados a fim de promover curas reais. Sob o socialismo, as empresas farmacêuticas que são voltadas aos lucros serão dispensadas e serão substituídas por uma indústria farmacêutica pública e racionalmente planejada sobre o controle democrático dos trabalhadores. As nobres profissões da Medicina e da pesquisa científica serão libertadas da “lógica” distorcida do capital e servirão para se convergirem aos interesses de muitos, não para o lucro de poucos.
Mas tal sociedade não surgirá sozinha. Ela requer o trabalho duro de construção de uma Internacional revolucionária marxista de massas que intervenha nas lutas mundiais da classe trabalhadora. Se você estiver enojado pelo capitalismo e pelo fato de que a Turing Pharma pode se safar com o seu vampirismo, você precisa fazer algo! Junte-se à Corrente Marxista Internacional e à luta para construir um mundo que não seja dirigido pelo desejo de riqueza de poucos e que leva a miséria para o resto da humanidade.
Tradução: Demetrius Ferreira