A “esquerda” que se nega a dizer Fora Bolsonaro (Parte 1: Insurgência)

Em um artigo de Danielle Jardim, publicado no site da Insurgência1, podemos ler o seguinte: “o neofascismo cresce hoje porque serve como uma luva às necessidades do capital de intensificação da exploração, das expropriações e é eficiente na contenção da classe trabalhadora”.

No Editorial2 da  Insurgência em que um balanço dos 100 dias de governo Bolsonaro é realizado, de 11/04, todas essas ideias voltam a aparecer como a explicação da conjuntura atual.

O problema é que não há nenhum exemplo de algum tipo de ação que corrobore essa ideia. Qual foi o ataque fascista que sofreu a classe trabalhadora até agora? Até o momento, todas as ações de grupelhos que tentaram enfrentar o movimento estudantil, por exemplo, na USP, na UnB ou na UFSC foram barradas por grupos muito maiores. Hoje a contenção dos trabalhadores não é realizada pela burguesia, mas sim pelos próprios dirigentes da classe trabalhadora, que se negam a organizar um combate real nas bases.

Mais adiante, no artigo de Danielle, afirma-se que a “defesa da militarização da sociedade, feita por Bolsonaro, de armamento da população, é pólvora para o combate à esquerda”. É difícil acreditar que uma organização que se intitula revolucionária seja capaz de tal formulação. Basta a leitura de algumas páginas de Lênin para não restar dúvidas de que, se houvesse algum tipo de armamento da população,  ele não estaria ocorrendo pelas mãos da burguesia e que não estaríamos pessimistas diante de uma situação dessa. A polícia é o braço armado do Estado burguês, não o povo em armas.

Danielle  semeia confusão e pessimismo, em uma conjuntura que se mostra contrária àquela pintada em seu artigo. Acabamos de ver a queda de um presidente na Argélia e do início de uma insurreição popular. Vimos a queda da ditadura no Sudão e estamos assistindo o povo venezuelano resistir ao golpe de Guaidó, com apoio do imperialismo norte-americano, mesmo diante das seguidas traições de Maduro. Podemos fazer uma lista de exemplos que mostram o ânimo e disposição de luta das massas.

Toda a fundamentação teórica apresentada pelo artigo da Insurgência sobre o que é o neofascismo não se baseia no fascismo de fato que, em resumo, surge como uma alternativa da burguesia para esmagar fisicamente a classe operária e suas organizações. O impressionante é que se estivéssemos diante de uma ameaça fascista real, a solução apresentada no artigo seria completamente inútil:

“Resistir ao crescimento do neofascismo é uma tarefa nossa, mas vai exigir da esquerda mais que uma política de embates (pois a disputa de lados empurra pessoas que não são fascistas ao fascismo e as coesiona com eles), mas de diálogo, de desconstruções de argumentos, de correção de informações, de analise de discursos, etc. Exigirá que a esquerda rapidamente avance no processo pelo qual tem passado nos últimos anos de atualização de formas de falar, de intervir, de se organizar. Desafios para o presente, dos quais ainda não temos respostas. Mas Marx tem uma dica para nós quando diz que nós só nos colocamos problemas que, no fundo, somos capazes de solucionar.”

Ante um ataque brutal à classe trabalhadora, como deve reagir a classe? Para a Insurgência é dialogando e desconstruindo argumentos. Para os revolucionários, deve-se reagir como fizeram com os integralistas na década de 1930, no famoso episódio da Revoada dos Galinhas Verdes: enfrentando fisicamente qualquer tipo de organização ou grupelho fascista.

A principal característica dessa avaliação do avanço das forças “neofascistas” pelo mundo é a covardia diante de uma conjuntura explosiva. Enquanto os trabalhadores apresentam sinais cada vez mais evidentes de indignação diante da situação atual, a “esquerda” vê um mundo diferente onde é preciso resistir ao invés de enfrentar e por isso são incapazes de dizer “Fora Bolsonaro”. Em última análise, trata-se de uma adaptação ao próprio regime burguês.

Podemos concordar com o artigo quando afirma que “Marx tem uma dica” sobre nossos problemas. Na verdade, ele tem muitas, mas parece que a Insurgência não aprendeu com nenhuma.