Protestos na Colômbia em novembro de 2019

A força e a fraqueza do imperialismo norte-americano na Colômbia

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 08, de 11 de junho de 2020. Confira a edição completa.
A chegada do novo coronavírus na Colômbia se junta ao descontentamento dos trabalhadores contra o governo de Ivan Duque. O ano de 2019 foi marcado por protestos que começaram nas universidades, com mobilizações estudantis de massa nas principais cidades, e que se transformaram em três greves gerais convocadas pela Central Unitaria de Trabajadores (CUT) em menos de quinze dias. As greves não pararam nem com o anúncio de um pacote de medidas sociais pelo presidente. Um 2019 de protestos classistas e os possíveis desdobramentos de uma crise econômica são preocupantes para os interesses dos Estados Unidos.

Exercícios militares realizados em janeiro1 e o envio em maio de ao menos 50 membros do Comando Sul dos Estados Unidos para “combater o narcotráfico”2 são mostras das contradições de classe que se acirram e revelam o empenho do imperialismo em manter o controle do país. Apesar de Ivan Duque não se colocar com um político de extrema-direita, a dependência da burguesia nativa colombiana da embaixada dos Estados Unidos faz desse país um Estado policial, que sob o pretexto de combate às guerrilhas camponesas e ao narcotráfico assassinou mais de 700 líderes sindicais e populares3, em sua maioria sem nenhuma ligação com ambos. É provavelmente o país mais perigoso no mundo para ser dirigente da classe trabalhadora. Sem delongas, é preciso reconhecer que sob a ameaça das nove bases militares em próprio solo4, o presidente da Colômbia deve ser um fantoche.

Geopoliticamente é fundamental para os Estados Unidos manter o território colombiano sob controle, vizinho à Venezuela e ponto estratégico de acesso de tropas e mercadorias ao Brasil, Equador e Peru. Desde sua fundação como república, o país alterna entre presidentes do Partido Liberal e Partido Conservador, alternância que foi interrompida durante cinco anos por um golpe militar de caráter nacionalista e conservador. 

A extrema importância da Colômbia para o imperialismo norte-americano revela sua força, que consegue pelo apoio logístico e econômico ou por intervenção militar direta calar os opositores. Mas a valorização política desse território também mostra a fragilidade do imperialismo, que precisa apostar no país todas as suas fichas. Os protestos em massa mostram o quanto a situação hoje é instável. A política de “Search and Destroy” para todos aqueles que se colocam no caminho do Tio Sam mostrou seus limites em 2019, e a crise econômica tende a levar as massas para as ruas novamente. 

A situação pós-quarentena é imprevisível para a burguesia. Entretanto, é completamente previsível para os comunistas que construir um partido revolucionário com influência de massas, que aproveite a tradição de luta do povo colombiano, é questão fundamental para liberar não só o país, mas toda a América Latina das garras do imperialismo.

Referências:

1 <https://www.istoedinheiro.com.br/eua-e-colombia-exibem-alianca-com-exercicios-militares-de-paraquedismo/>

2 <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/EUA-enviam-mais-tropas-para-a-Colombia-como-assessores-em-operacoes-antidrogas/6/47640>

3 <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2601200814.htm>

4 <http://pt.granma.cu/mundo/2018-08-16/bases-militares-dos-eua-na-america-latina-e-no-caribe-o-plano-da-america-do-sul#:~:text=O%20plano%20da%20Am%C3%A9rica%20do%20Sul,-OS%20Estados%20Unidos&text=OS%20Estados%20Unidos%20t%C3%AAm%20cerca%20de%20800%20bases%20militares%20em,Am%C3%A9rica%20Central%20e%20no%20Caribe.>