Foto: Paulo Pinto

A “fraude” emergencial de Doria e aumento do caos pandêmico em São Paulo

Quando as palavras não escondem os fatos

No dia 11 de março o governador do estado de São Paulo, João Doria, organizou mais um espetáculo publicitário para anunciar a fase emergencial do Plano São Paulo de contenção do avanço da pandemia do coronavírus e retomada da economia.

Uma coletiva que começou com um vídeo do próprio governador cheio de clichês publicitários, tentando, sobretudo, reforçar sua imagem enquanto “grande” líder para o Brasil. Seu discurso se dividia entre críticas oportunistas ao governo Bolsonaro, tão culpado pela situação quanto ele, e um cínico chamado à atenção quanto ao avanço na pandemia. Tudo isso, perpassado por lágrimas de crocodilo intermitentes.

Como um bom representante da burguesia, Doria faz o melhor que pode para camuflar a realidade por meio de recursos simbólicos, sem promover nada de efetivo para o combate à Covid-19. Se é prática da burguesia camuflar a realidade, é dever dos marxistas expô-la.

A pandemia no Brasil e no estado de SP

Na semana do anúncio da fase emergencial, o Brasil já batia recordes de mortes e casos da Covid-19. Com uma semana da fase emergencial em SP, a situação só piorou. A média de mortos quase dobrou em relação às semanas anteriores. No dia 18 de março contamos com uma média de 2.087 mortos por dia. No dia 16 de março batemos o trágico recorde de mortos pela Covid-19 de 2.841 mortos. E em São Paulo isso também ocorreu: recorde de 679 mortos diários no mesmo dia. Isso quatro dias após o início das medidas “restritivas” da fase emergencial. A situação só se agrava e já se registram 79 mortos na fila por leito no estado de SP.

Somente cidades como Araraquara, que implementaram, de fato, um lockdown, percebem quedas vertiginosas do índice de contaminação. Nesse caso, em 10 dias de lockdown, registrou-se queda de 50%.

Medidas “restritivas” e fraude emergencial

O governo Doria afirmou que iria restringir completamente: serviços de retirada de produtos; lojas de materiais de construção; celebrações religiosas e atividades esportivas coletivas. Decidiu indicar teletrabalho aos servidores públicos com exceção dos serviços “essenciais”, dentre eles a recém reclassificada educação e suas mais de 5 mil escolas no estado.

Doria também foi taxativo ao falar do toque de recolher das 20 às 5 horas, proibição de uso de praias e parques, assim como de aglomerações.

As medidas por si só não dizem muita coisa e são menos restritivas do que no começo da pandemia. Porém, mesmo elas, não significam nada mais do que palavras.

O índice de isolamento social no primeiro dia de efetivação das medidas da fase emergencial foi de 36,8%. Índice pior que os 37,4% do fim de semana anterior. No dia seguinte, um domingo, novamente, o índice continuou menor: 46,1% no dia 14 de março em comparação aos 46,9% da semana anterior. Uma evidente demonstração da incapacidade do governo em realizar minimamente o que propõe.

O “toque de recolher” é destinado somente a evitar aglomerações. Supermercados, por exemplo, funcionam normalmente, até às 22 ou 23 horas. A burguesia, como método principal, usa da ressignificação de termos óbvios para confundir a realidade. A fraude emergencial é só mais uma expressão disso.

Além destes fatos, como já dissemos, o número de casos e mortos pela Covid-19 aumentou. Assim como a quantidade de pessoas mortas nas filas por leitos de UTI.

A fraude emergencial, com quase uma semana de efetivação, mostra-se uma medida inócua e um atentado à vida, principalmente, dos trabalhadores. Nossa classe sai todos os dias de casa para manter o sistema funcionando, enfrenta transporte público lotado, contrai o vírus e contamina seus familiares. E quando precisa de tratamento, é recebida em hospitais lotados com possibilidade cada dia maior de morrer na fila por leitos. A tragédia capitalista não pode ser camuflada, nem pelas artimanhas mais elaboradas de seus principais representantes.

O que fazer?

Não é possível esperar nada da burguesia, que só visa a manutenção de seus lucros, independente de quantas vidas proletárias se percam no caminho. Assim, é responsabilidade da CUT e das demais entidades sindicais convocar uma greve geral em defesa da vida dos trabalhadores, contra esse verdadeiro assassinato social promovido pela burguesia contra a classe trabalhadora.

Essa greve geral deve adotar as medidas necessárias: imposição do lockdown com fechamento de todos os setores não essenciais, garantia de salários e garantia de seguro-desemprego à população desassistida; vacinação para toda a população; estatização de todo o sistema de saúde; promoção de acesso à tecnologia para estudantes e professores como forma de viabilizar o ensino remoto; fim do pagamento da também fraudulenta dívida pública, que consome mais de 40% do Orçamento nacional todos os anos; dentre outras pautas que defendemos no Programa Emergencial para a Crise no Brasil.

Somente nossa organização enquanto classe, em defesa de nossas vidas, poderá barrar uma tragédia ainda maior nessa pandemia. Esta é a luta da Esquerda Marxista. Junte-se a nós!