Editorial da 4ª Edição do jornal Tempo de Revolução. Faça sua assinatura e receba no seu e-mail!
Estamos assistindo a um setor de massas ir às ruas, apesar da pandemia, expressar seu desejo de derrubar esse governo já, agora. Quem sai às ruas para protestar correndo o risco de se contaminar no país em que a pandemia atingiu o maior nível de letalidade no mundo não o faz porque quer esperar as eleições de 2022. Não valeria o risco. São centenas de milhares de pessoas nas ruas que expressam a posição de outros milhões que ainda não entraram abertamente em movimento. E esta posição expressa nas ruas é extremamente clara: é preciso pôr abaixo este governo agora!
Entretanto, essa não é a posição das direções dos aparatos de esquerda que têm convocado as manifestações. As direções do PT, PCdoB e PSOL se opuseram abertamente durante quase um ano e meio a que meramente fosse dita a consigna “Fora Bolsonaro”. Quando lançamos a consigna nas ruas em março de 2019, houve quem nos chamasse de “belakunistas” (!) nas fileiras do PSOL. Ainda em 2019, nossa proposta de que o PSOL deveria adotar o “Fora Bolsonaro” como sua consigna foi derrotada duas vezes no Diretório Nacional. Lula, ao sair da prisão, discursou que era necessário respeitar o mandato de quatro anos de Bolsonaro, como se as eleições de 2018 não tivessem sido fraudulentas até mesmo para os parâmetros burgueses, justamente pela operação que impediu Lula de participar do pleito.
Quando finalmente em 2021 Lula tem reabilitados os seus direitos políticos, imediatamente entra em campanha. Não em campanha para derrubar Bolsonaro, mas em campanha para ser eleito presidente no final de 2022. Ele e todos aqueles entes políticos que estão na campanha “Lula presidente 2022” sabem que seu melhor cabo eleitoral é o próprio Bolsonaro. Enquanto Bolsonaro estiver ocupando a presidência, destilando seu ódio de classe, decretando ataques aos direitos da classe trabalhadora, a candidatura de Lula tende a se consolidar como a única saída eleitoral viável em 2022 para amplos setores de massas, inclusive entre setores cada vez mais abrangentes da própria classe dominante. Uma saída antecipada de Bolsonaro da presidência resultaria num cenário “incerto” para a vitória eleitoral de Lula. Muitos novos elementos entrariam em cena e ele poderia deixar de ser visto como “o melhor instrumento eleitoral para remover Bolsonaro”. Exatamente por isso os adeptos do “Lula 2022” trabalham contra o “Fora Bolsonaro”. Mas não podem fazer isso de maneira aberta. Então, quando se viram obrigados a aderir ao “Fora Bolsonaro” – sob pena de ficarem isolados das massas se não o fizessem –, buscaram atribuir ao “Fora Bolsonaro” um significado de longo prazo: eleger Lula em 2022 é a maneira de pôr Bolsonaro para fora do governo.
Essa perspectiva apresentada e defendida pelas direções dos partidos de esquerda, sindicatos e movimentos sociais tem levado cada vez mais a juventude e os trabalhadores a fazerem uma inflexão para “Fora Bolsonaro Já”, para deixar claro que a luta deve se dar pela interrupção do governo agora e não para apenas tentar impedir sua reeleição no final de 2022.
Foi lançada então uma “campanha nacional Fora Bolsonaro” dirigida majoritariamente por PT, PCdoB, PSOL, CUT, MST, UNE, além da Conlutas, sindicatos, movimentos e entidades diversas. Em outras palavras, quem centralmente dirige a “campanha nacional Fora Bolsonaro” são justamente aqueles que não querem derrubar Bolsonaro, mas querem apenas enfraquecê-lo para que ele seja derrotado eleitoralmente por Lula em 2022.
Mas as ações das direções do movimento operário não são determinadas apenas pelas intenções de seus dirigentes. Elas são moldadas pelas pressões da luta de classes. E, mesmo a contragosto, esses dirigentes convocaram os atos de 29 de maio. Se viram obrigados a fazê-lo. À luz dos desenvolvimentos na Colômbia, quiseram se antecipar a uma explosão espontânea de massas nas ruas. Ainda assim, tentaram sabotar o que eles mesmos convocaram. A CUT chegou a desconvocar os atos de 29M, alegando a necessidade de evitar aglomerações por conta da pandemia. Já para os atos de 19 de junho, a CUT trabalhou com atividades locais no dia 18, não para preparar os grandes atos do dia seguinte, mas sim para desmobilizá-los. E o PT levou uma faixa de centenas de metros quadrados ao ato de São Paulo que sequer dizia “Fora Bolsonaro”, apenas um vago “O povo acima do lucro”.
Em seguida, decidiram convocar o próximo dia de atos apenas para 24 de julho, mais de um mês depois. Entretanto, diante dessa evidente sabotagem, as pessoas começaram a deixar de reconhecer a legitimidade da direção do movimento. Em São Paulo, um ato chamado por torcidas de futebol para o dia 26 de junho obteve grande adesão! Outras convocatórias começaram a surgir para o dia 3 de julho e uma articulação de organizações posicionadas um pouco mais à esquerda (PCB, UP, MES e outros) convocou uma assembleia online que definiu um dia nacional de manifestações para 13 de julho. Sob a pressão das ruas, o Senado avançou na CPI da Covid contra Bolsonaro, a partir do escândalo de corrupção da compra da Covaxin e isso tornou ainda mais evidente para amplas massas a necessidade de ir às ruas para derrubar o governo. Eis que os dirigentes do “Lula 2022” se viram obrigados a convocar atos para o dia 3 de julho, para evitar que o movimento continuasse a transbordar sua direção.
Além disso, inventaram um “superpedido de impeachment” para buscar canalizar a luta das massas nas ruas para a via institucional. Pretendem com isso evitar que a quantidade crescente nas ruas provoque um salto de qualidade no movimento, buscando reduzir seu caráter a meras manifestações de pressão sobre o parlamento burguês, reservando a este último o papel decisivo.
Nosso objetivo é ajudar o movimento a crescer a ponto de dar saltos de qualidade que permitam deslocar para as ruas o espaço de luta decisivo. Num cenário desses, o parlamento até pode aprovar um impeachment para tentar salvar as instituições, como o fez perante o movimento Fora Collor. Mas o resultado disso será determinado pela luta de classes. E dessa vez Lula não tem mais o poder que tinha entre as massas para legitimar a posse de um vice de Bolsonaro como o fez com Itamar Franco (vice de Collor) em 1992. E assim uma crise institucional poderá abrir para as massas o debate sobre novas formas de poder. Essa é a perspectiva à qual responde a palavra de ordem de frente única “Por Um Governo dos Trabalhadores sem Patrões nem Generais”, que não será alcançado através de eleições regulares burguesas, mas só a partir da mobilização das massas e sua auto-organização.
No Encontro Nacional de 10 de julho essa discussão estará na ordem do dia. Como ajudar as massas a desenvolver seu movimento nesse caminho? Que iniciativas de frente única podemos ter a partir desse primeiro Encontro Nacional para ajudar seus mais de 1.500 convocantes de todo o Brasil a alcançar outros milhares com essa perspectiva? Quais os meios e as formas de continuar esse combate? Venha debater com a gente no dia 10 de julho! Inscreva-se e organize-se!