Os militantes da Organização Comunista Internacionalista (OCI) participaram das diversas discussões realizadas na Escola Mundial do Comunismo, evento que aconteceu na Itália de 10 a 15 de junho e marcou a fundação da Internacional Comunista Revolucionária (ICR). Durante a escola, o camarada Chico Aviz falou na mesa de discussão sobre “A luta contra a opressão: unidade da classe trabalhadora ou políticas identitárias?”. Confira a transcrição.
Olá, camaradas!
Me chamo Chico Aviz, sou militante da seção brasileira da Internacional Comunista Revolucionária.
No Brasil, 68% das pessoas encarceradas são negras. Contabilizando todo o sistema prisional, são praticamente 833 mil negros presos. Nos estados mais violentos do país, 87% dos mortos pela polícia são negros. Esses números explicitam o quão crucial é nossa palavra de ordem: “Ser Negro Não É Crime”.
Ao exigir que parem de nos matar, explicamos que o capitalismo, ao transformar inclusive os corpos humanos em mercadorias, desenvolveu um método fundamental para seu funcionamento: a ideologia segregatória das raças humanas.
Como sabem, o racismo foi reificado pelo capitalismo nos séculos XVIII e XIX por pseudociências a serviço da burguesia e seus defensores. Foi assim, por exemplo, que Carlos Lineu tentou estabelecer sua taxonomia para a espécie humana, tentando justificar as novas formas de expropriação material e subjetiva dos negros. Tal ideologia serviu para “explicar” o porquê a Europa superava as opressões do Antigo Regime enquanto o Brasil seguia com a escravidão negra até 1888.
As intensas e permanentes revoltas sociais arrancaram a abolição da escravidão negra assegurada pela monarquia luso-brasileira. Porém, não retiraram os negros do cárcere, da miséria e do açoite. No Brasil, a condição sub-humana imposta aos negros seguiu como regra para a burguesia nativa e seu Estado atrasado.
Em 2024, este sistema mantém os negros ocupando 46% dos empregos informais, sem direitos trabalhistas e nas piores condições de existência. Também mantém o trabalho igual com salário desigual, onde as mulheres negras recebem 38% menos que as demais mulheres e homens negros recebem 40% menos que homens não negros.
Da mesma forma, das 49 milhões de pessoas que vivem sem saneamento básico, 70% são negras ou indígenas. São alguns dos dados que evidenciam a miserável condição da população negra no Brasil. Nos é evidente que desde a escravidão iniciada nos anos 1530 até o tempo presente com o assalariamento, o fio condutor é o modo de produção capitalista, do mercantilismo ao imperialismo.
Naturalmente, tamanha exploração material também desfigura subjetivamente essa população despojada de sua existência e história. Mas não se bastasse as violências diretas e indiretas da burguesia, os negros são também açoitados pela racialização de “esquerda”. Em uma sociedade com estes dados chocantes, as chamadas políticas afirmativas e de identidade reverbera e seduz, em especial, a juventude negra.
Mas precisamos ir na raiz e denunciar. Essas políticas foram desenvolvidas nos anos 1960 pelo Departamento de Estado dos EUA e disseminada por seus intelectuais para o mundo, a partir do Plano de Filadélfia.
Seu objetivo, explícito na raiz de suas formulações, é manobrar o Movimento Negro, controlar as revoltas sociais e dividir a classe trabalhadora em disputas individuais e “raciais” entre brancos e negros. Por isso, para os comunistas, combater a imposição de “raças” humanas e suas derivações culturais é fundamental!Estas políticas de identidade buscam mascarar a exclusão e morte da população negra à serventia de uma ínfima pequena burguesia negra, formada e agraciada pelas cotas liberais.
Esta camada privilegiada, aceita e integrada pela burguesia, busca vocalizar todo o conjunto dos trabalhadores negros como se estes estivessem contemplados por suas “representatividades negras”. Com estas ações e as teorias pós-modernas alheias ao proletariado, o racialismo se aperfeiçoa dia a dia. Seus “intelectuais” aprofundam a ideia de raças humanas forjando um “espírito” e uma “essência” negra, o que chamam de “negritude”. Esta seria capaz de se opor à “branquitude”, à “essência” branca. É a “face negra” do romantismo europeu e reacionário dos séculos XVIII e XIX, que contraria a igualdade universal entre os humanos e reforça as fantasias nacionalistas e racistas.
Diante disso, nós comunistas devemos rasgar o véu do idealismo subjetivo que baseiam as teorias pós-modernas e “decoloniais”. Combatemos o racismo e o racialismo com o materialismo histórico-dialético e um programa político de expropriação geral da burguesia internacional.
Por isso afirmamos que:
Não queremos cotas: queremos universalização do ensino, pleno emprego e moradia digna!
Não queremos a reforma das polícias: queremos o fim do braço armado do Estado burguês!
Não queremos a “essência” de um povo: queremos acesso a todas as culturas e integração soberana dos povos!
Camaradas, a luta dos pretos, mestiços, indígenas e todos os grupos segregados pelo capitalismo é a luta da revolução permanente pelo comunismo internacional!
Para tanto, é tarefa da Internacional Comunista Revolucionária apresentar um programa de transição contundente e proletário para estes trabalhadores historicamente subjugados, visando a completa unidade de nossa classe!
Ser Negro Não É Crime!
Viva o Comunismo Internacional!