Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Marcha das Margaridas e a luta de classes

Nos dias 13 e 14 de agosto realizou-se mais uma Marcha das Margaridas em Brasília. Cerca de 100 mil mulheres marcharam homenageando a líder sindical Margarida Alves, assassinada em 1983 por um matador de aluguel.

A Marcha, que é realizada de quatro em quatro anos, desde 2000, teve como tema nesse ano Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência e foi realizada junto com a primeira Marcha das Mulheres Indígenas.

Diante da conjuntura atual, era fundamental que a Marcha se unisse aos atos chamados pela CNTE e UNE contra os ataques à educação, atos que, por sua vez, deveriam estar articulados aos chamados das centrais sindicais por uma Greve Geral por tempo indeterminado. Isso abriria o processo de luta e organização da classe trabalhadora pela derrubada de Bolsonaro e seu governo reacionário e capacho dos EUA.

Porém, as centrais sindicais, juntamente com os principais partidos de esquerda e os movimentos que dirigem (como a Marcha das Margaridas), abriram mão da luta e da organização da classe trabalhadora. Optaram pela via eleitoral, por dentro do Estado, utilizando métodos pouco efetivos para impedir a destruição da nossa previdência e dos direitos trabalhistas conquistados após décadas de lutas dos trabalhadores.

Assim como têm feito as centrais e partidos que reivindicam-se de esquerda – ou “progressistas” -, a Marcha das Margaridas adota como palavras de ordem a defesa vaga de uma soberania nacional e de uma democracia, que sabemos bem, é a ditadura burguesa fantasiada de “Estado democrático de direito”. Lutar por soberania diante dos ataques à educação, ao meio ambiente, e da privatização exige a organização da classe trabalhadora com o objetivo de derrubar esse governo e instituir, de fato, um governo dos trabalhadores.

Os atos contra os cortes na educação realizados no mês de maio e a participação dos trabalhadores na greve geral de junho demonstraram a disposição de luta da classe trabalhadora. Porém, a passividade das centrais, partidos e direções sindicais diante dos ataques, tem feito com que os trabalhadores cansem dos dias de atos, paralisações, mobilizações, marchas etc, como vimos no último dia 13 de agosto. É preciso parar o Brasil e apenas um dia não é o suficiente.

É preciso superar as ilusões no Estado e nos partidos políticos que só buscam a via eleitoral como suposto meio de governar para o povo. O governo petista, hoje defendido como um “governo democrático, popular e de esquerda”, com seus conselhos, fóruns tripartites, conferências e comissões, serviu para atrasar a organização independente da classe trabalhadora. Criou ilusões de que era possível melhorar a vida da grande maioria da população através de medidas paliativas e da colaboração de classes. Atrelou as grandes entidades criadas pelos trabalhadores ao aparato estatal e hoje, depois do impeachment de Dilma e da eleição de Bolsonaro, apelam para a lembrança de um país da delicadeza perdida, um tempo idílico, um Brasil paradisíaco que nunca existiu.

Não devemos ter saudade de um suposto diálogo por dentro dessas instituições que apodrecem diante dos nossos olhos. É preciso tomar o exemplo de Margarida Alves e de tantas outras mulheres que deram a vida pela luta por outro mundo. É preciso relembrar a luta das mulheres russas que foi o estopim da Revolução de 1917. É preciso superar a apatia, o saudosismo e a luta por pautas que hoje, diante do aprofundamento da luta de classes, são impossíveis de serem alcançadas, pois a classe dominante não está mais disposta a negociar ou ceder algumas migalhas. O tempo da conciliação passou e é preciso retomar os instrumentos de luta da classe trabalhadora.

A Marcha das Margaridas, assim como outros espaços de organização das mulheres trabalhadoras, precisa voltar-se, rapidamente, para a organização de sua base com vistas à luta pelo Fora Bolsonaro, pela retirada desse governo, única solução diante dos ataques que estamos sofrendo.

É preciso radicalizar a luta, criando a unidade com os estudantes e toda classe trabalhadora, superando ilusões e métodos que não dão conta da luta que temos pela frente.

É preciso pressionar, pela base, as centrais e partidos de esquerda a convocarem uma greve geral por tempo indeterminado, exigindo a revogação da reforma trabalhista, dos cortes no orçamento da educação e a retirada da PEC da reforma da previdência. Somente dessa forma será possível garantir o direito à vida das mulheres trabalhadoras de todo o país, do campo e da cidade, das mulheres indígenas, quilombolas e toda classe trabalhadora.

Se não retomarmos as rédeas da luta de classes, a barbárie cotidiana se aprofundará cada vez mais. Não é possível esperar 2022. Fora Bolsonaro!