A moral burguesa e a dos trabalhadores e revolucionários 

Durantes os quatro dias da Universidade Marxistas Internacional 2020 os militantes da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) estão empenhados em disponibilizar em nossa página breves relatos dos 16 temas tratados na Escola. O objetivo é estimular nossos leitores a aprofundar o conhecimento sobre nossas posições e a juntarem-se a nós na construção da CMI. Para sua localização procure pelo dia e o tema que deseja fazer a leitura.

Na manhã desta terça-feira (28/07), o camarada Ben Gliniecki, da Socialist Appeal, seção britânica da Corrente Marxista Internacional, realizou o informe sobre um tema crucial para os revolucionários, intitulado “A moral deles e a nossa: Marxismo x Pacifismo”. 

O camarada iniciou buscando o exemplo da revolução no Sudão, entre 2018 e 2019, evidenciando, na prática, o caráter contrarrevolucionário do pacifismo. Esta revolução foi sufocada pela repressão por meio de milícias com os membros mais reacionários da sociedade. 

Esta é mais uma lição da necessidade da autodefesa armada dos trabalhadores, sendo a única capaz de fazer avançar uma revolução. Com os trabalhadores armados e organizados, defendendo-se e atacando as milícias reacionárias, o processo teria outro desfecho. Mas a direção sudanesa estava bem longe de organizar essa luta revolucionária, sacrificou o processo em defesa do pacifismo. 

Tais sentimentos pacifistas são um insulto aos trabalhadores violentados e mortos, pois como afirmou o camarada Gliniecki, “os eventos no Sudão expressam que o pacifismo é um veneno para o movimento revolucionário”. 

Sudão, agosto de 2019 Foto: Manula amin

Em seguida, Ben falou sobre as guerras, ele explicou que o Estado capitalista faz guerra contra seu próprio povo e contra os povos rivais, servindo como comitê dos negócios da burguesia, que precisa da violência para manter seu poder. E para tal, os capitalistas possuem muitas armas disponíveis, tanto para a guerra de classes nacional, quanto para o ataque imperialista. 

Isso expressa que a guerra não é uma aberração externa do capitalismo, mas algo desenvolvido nas fundações do próprio sistema. Durante a história, toda classe dominante tem como objetivo a vantagem econômica e a violência bruta é o método eficaz para assegurar isso, pois a guerra na sociedade de classes serve para a conquista de novos mercados e a manutenção dos existentes, juntamente ao poder político e econômico. Expressão disso é a sentença do teórico e estrategista militar Carl von Clausewitz, onde aprendemos que “a Guerra é a continuação da Política por outros meios”. 

Em seu informe, o camarada também apresentou o exemplo da contrarrevolução stalinista na Guerra Mundial, onde os Partidos Comunistas adotaram o pacifismo e o chauvinismo como tática em diversos momentos, afastando os trabalhadores da luta de classes:

Enquanto os trabalhadores britânicos queriam se organizar militarmente para combater Hitler, mas sem concessões à burguesia nacional inglesa, os PC’s foram freios para tal organização, devido aos pactos soviéticos liderados por Stalin com as potências capitalistas. Os revolucionários chamavam os trabalhadores às armas, agitando contra os nazistas e contra as classes dominantes nacionais. 

A nossa política não era pacifista, mas de destruição do poder capitalista, portanto, baseada no que Marx e Engels defendem no Manifesto Comunista sobre a conexão entre a guerra e a luta de classes: 

“Na medida que a exploração de um indivíduo por outro acaba, a exploração de uma nação pela outra também vai acabar. Na medida que o antagonismo de classes na nação termina, a hostilidade de uma nação entre a outra, vai chegar ao fim”. 

Para os pacifistas, a luta de classes é secundária numa situação de guerra. Os marxistas fortalecem a luta de classes em momentos de guerra, justamente na busca pela paz, que só é possível com a destruição do modo de produção capitalista e a construção do socialismo. 

Sem nenhuma base teórica, os reformistas acham que é possível superar a guerra sem nenhum método da luta de classes, reclamando o pacifismo. Mas a história mostra o contrário, pois não foram petições liberais e pacifistas que tiraram a Rússia da Guerra, foi a Revolução Bolchevique. 

Assim, o pacifismo, como Trotsky disse, é nada mais que um servo do imperialismo. Os pacifistas ajudam os imperialistas a esconderem seus crimes. É uma ideologia que mostra a guerra como erros individuais e não como produto do capitalismo e sua fase imperialista. 

O camarada Gliniecki demonstra isso em sua crítica à ONU:

“As Nações Unidas demonstram essa impotência pacifista, é um circo. Onde as pequenas nações demonstram suas incompetências e as grandes vetam o que não lhes agrada”.

Por exemplo, diversas vezes, pequenas nações colocam como crime a ocupação israelense na Palestina nas pautas da ONU, mas logo essas petições são vetadas pelos Estados Unidos. Isto é, as Nações Unidas não têm nenhum poder contra as potências capitalistas diante da guerra. 

Além disso, exemplos históricos como a “missão de paz” da ONU, em 1960, no Congo, expressam o que de fato são essas organizações pacifistas. Essa “missão” causou a morte do primeiro-ministro congolês gerando a ditadura sanguinária de Mabutu, como uma ferramenta e fantoche do imperialismo. Como Ben disse, “a ONU é uma expressão de que o pacifismo é completamente oco”. 

Diante das manifestações pacifistas de seu tempo, Trotsky atacou ferrenhamente esses grupos, dizendo ser uma distração às massas. 

Os marxistas defendem que só podemos lutar a guerra imperialista como uma guerra entre as classes. Nossa guerra não é contra outros trabalhadores de outras nações, mas contra as classes dominantes. Isto é, “paz entre nós, guerra aos senhores”. 

Trabalhadores e soldados desfilam pelas ruas de Petrogrado após a Revolução Russa de fevereiro de 1917 Crédito: Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images

O papel dos marxistas é demonstrar a hipocrisia da burguesia quando ela fala sobre paz. A classe capitalista nunca garantiu paz, a competição de classes entre burgueses inevitavelmente acaba com guerras. Nós também queremos a paz, mas isso só será possível quando os trabalhadores em nosso país e em todos os outros tomarem o poder. Só os trabalhadores investirão na vida, em obras públicas, em vez de guerras.

Em todos os casos, em busca da verdadeira paz, nós temos que lutar para quebrar o militarismo capitalista e explicar à classe trabalhadora a necessidade de construir a saída independente dos interesses da classe dominante. A luta de classes ataca a guerra imperialista mais forte que qualquer ONG pacifista consegue fazer, especialmente porque os imperialistas entendem o poder da classe trabalhadora. 

Os capitalistas possuem seus destacamentos armados e de repressão, portanto, somente com a formação de um exército revolucionário, das organizações de autodefesa dos trabalhadores, poderão superar essas repressões. Com isso, Gliniecki lançou luz à importância da divisão do próprio Exército do Estado burguês, que aconteceu em diversas oportunidades ao longo da história da luta de classes, empurradas pelo movimento de massas. 

Por fim, o camarada Ben tratou de um questionamentoi: Na atualidade, a revolução socialista necessariamente precisa ser violenta? 

Nenhuma classe dominante, historicamente, desistiu de seu posto sem exercer a violência. Portanto, para derrubá-la, é preciso força. 

Mas força necessariamente é violência? 

Em A Arte da Guerra, de Sun Tzu, aprendemos que, aqueles que conseguem fazer o exército inimigo enfraquecer sem lutar, com força inicial, rende o adversário com maior facilidade. 

Ou seja, precisamos exercer nossa superioridade de classe. Armando os trabalhadores, dividindo o exército, estudando as grandes revoluções, como a francesa, de 1789, a russa, de 1917, e diversos outros processos da humanidade, onde a força revolucionária foi grande e consolidada o suficiente para que o inimigo não rtivesse como se opor, ao menos no momento da tomada do poder. 

Rob Lyon, da seção canadense Fightback, explicou que a violência do dono de escravo sempre é reacionária, mas a violência do escravo tem, por natureza, que ser progressista. Explicou como o pacifismo nega a luta de classes em defesa do status quo e que a violência não é uma questão a ser considerada como “boa” ou “ruim”, mas um produto da sociedade de classes. E para os marxistas, a questão da violência é tática e não moral.

 Considerou que a classe dominante nunca abriu mão dos seus privilégios sem violência e que, quando um despossuído se revolta em violência, é totalmente justificável, pois “não se pode comparar a queima de uma delegacia com 400 anos de escravidão”, se referindo aos movimentos Black Lives Matter. 

Por fim, o camarada Ben  retoma Marx, ao reafirmar que “a única guerra justificada é do oprimido contra o opressor“. Essa é nossa tarefa: guerra ao opressor!