A mulher e a luta pelo trabalho

Segundo a “Síntese de Indicadores Sociais” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em dezembro deste ano, as mulheres jovens são as que têm mais dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. De acordo com o estudo, uma em cada cinco mulheres estava desocupada em 2014.

Segundo a “Síntese de Indicadores Sociais” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em dezembro deste ano, as mulheres jovens são as que têm mais dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. De acordo com o estudo, uma em cada cinco mulheres estava desocupada em 2014.

Os pesquisadores reafirmam ainda, uma tendência verificada em escala mundial neste período de crise do capital, na qual jovens e mulheres são os primeiros a sentirem os efeitos do desemprego.

É sabido o crescente papel da mulher no mundo do trabalho desde a Revolução Industrial, bem como a insistência em manter sua jornada dupla e seus baixos salários como medida de rebaixamento geral dos salários. A relação entre a exploração da mão de obra feminina e seu encarceramento no lar também permanece, como mostram os dados da pesquisa:

– aumentou de 3,6% em 2004 para 15,1% em 2014 a indicação das mulheres como pessoa de referência nos arranjos compostos por casal com filhos;

– em 2014, as mulheres ocupadas recebiam em média 74% da remuneração dos homens. Em 2004, esse percentual era de 70%;

– em 2014, 90,7% das mulheres ocupadas realizavam afazeres domésticos e de cuidados. Em 2004, esse percentual era de 91,3%.

A pesquisa também apresenta dados que fazem parte da realidade de muitas jovens mulheres dos bairros pobres e periferias do país, as quais, sem acesso à informação adequada ou políticas públicas de saúde, ou ainda, vítimas das diversas formas de violência e opressão, acabam tornando-se mães precoces. Sem acesso a creches e escolas públicas, necessitam abrir mão da sua formação.  

Segundo o estudo, os indicadores da população não economicamente ativa mostrou que 69,5% deste grupo é formado por mulheres, e 52,9% não tinham instrução ou com o ensino fundamental incompleto. A participação das mães adolescentes na fecundidade total do Brasil é de 17,4%. Essas jovens são predominantemente pretas ou pardas [segundo denominação utilizada pelo IBGE] (69% das meninas com filhos), 85,4% não completou o ensino médio, e 92,5% se dedica a afazeres domésticos.

Fica claro que existe um recorte de classe na condição das meninas que, ao engravidarem, não conseguem dar continuidade aos seus estudos, dedicando-se aos filhos e à casa. Jovens ricas que passam por essa situação, continuam tendo acesso à educação, tendo auxílio da família e de outras mulheres que trabalham como empregadas.

É preciso que as mulheres organizem-se em seus sindicatos e locais de trabalho pautando as questões da mulher trabalhadora. É preciso organizar a luta pelo direito às creches e educação públicas de qualidade, tornando possível que as jovens mães continuem estudando e tendo acesso ao trabalho decente. Os trabalhadores são os primeiros a sofrer os impactos da crise do capital: os que estão empregados, sofrem com a ameaça do desemprego, os jovens não conseguem se inserir em um mundo do trabalho cada vez mais precarizado e que, contraditoriamente, exige cada vez mais formação. Além desses elementos, a mulher jovem sofre por sua condição de gênero e de classe, carregando ainda, em muitos casos, a responsabilidade da maternidade. 

É preciso compreender as questões ligadas ao direito por trabalho e salários iguais como uma reivindicação transitória importante, pois, como verificamos na atual conjuntura, o direito ao trabalho digno é cada vez mais difícil, tanto para homens quanto para as mulheres. Não basta que a mulher lute para entrar no mundo do trabalho em igualdade de condições com os homens sem que exista a luta pela superação do papel da mulher na família e sem a compreensão da necessidade da transformação da sociedade capitalista.

Como afirmava Clara Zetkin, a questão da mulher assume diferentes formas de acordo com a situação da sua classe. Para a pequena-burguesia, importa “conquistar a igualdade econômica com os homens e elas só poderão fazê-lo com duas demandas: a demanda por igualdade na qualificação profissional e por iguais oportunidades de trabalho para ambos os sexos. Em termos econômicos, isso significa nada menos que o livre acesso a todos os empregos e a concorrência sem entraves entre homens e mulheres”. 

Ainda segundo a autora “no que se refere à mulher proletária, foi a necessidade do capitalismo explorar e procurar incessantemente uma força de trabalho mais barata que criou a questão da mulher. É por essa razão, também, que a mulher proletária foi envolvida no mecanismo da vida econômica […] A mulher proletária obteve seu próprio emprego porque ela queria uma vida mais saudável e feliz para seus filhos, mas ao invés disso ela se separou totalmente deles”. 

Assim, a luta das mulheres trabalhadoras deve ir além da luta pela sua entrada no mundo do trabalho, mas vislumbrar a superação do capitalismo:

“a luta de libertação da mulher proletária não pode ser similar à luta que a mulher burguesa trava contra o homem de sua classe. Pelo contrário, ela tem de ser uma luta conjunta com o homem de sua classe contra a classe dos capitalistas em conjunto.” (Clara Zetkin. Somente em conjunto com a mulher proletária o socialismo poderá ser vitorioso)

Assim, juntamente à luta pelo direito ao trabalho e salário digno para as mulheres, é preciso encampar a luta pela modificação das relações sociais entre homens e mulheres. Marx afirmava que “[…] a grande indústria não deixa de criar, com o papel decisivo que confere às mulheres […] em processos de produção socialmente organizados para além da esfera domiciliar, o novo fundamento econômico para uma forma mais elevada de família e de relações entre ambos os sexos” (A entrada da mulher na fábrica). 

E, nesse sentido, Trotsky já apontava a necessidade de superar o papel da mulher na família: “O problema da emancipação feminina está intimamente ligado, material e espiritualmente, ao da transformação da vida familiar. É necessário arrancar as grades da prisão com que a sociedade atual encerra e sufoca as mulheres” (Carta a uma reunião de trabalhadoras em Moscou).

Compreendemos que as bases materiais influenciam fortemente as relações sociais, e que em uma situação na qual as mulheres não têm acesso a políticas públicas de saúde e educação e não têm trabalho, as alterações das relações sociais vigentes torna-se um desafio. Portanto, seguimos em luta para a garantia dos direitos democráticos às mulheres jovens e a toda classe trabalhadora. Seguiremos avançando na organização das mulheres rumo à transformação radical da sociedade.

Trabalho igual, salário igual!

Creches públicas e gratuitas para todas as crianças!

Pela educação pública, gratuita e de qualidade para todos!

Pela superação do capitalismo!