A nossa moral e a deles: Fake News, Bolsonaro, as meninas venezuelanas e Janones

No dia do professor, uma entrevista de Bolsonaro viralizou. Nela, o atual presidente declara o seguinte:

“Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, no sábado, numa comunidade, e vi que eram parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na sua casa?’, entrei. Tinha umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. Aí eu te pergunto, menina bonitinha se arrumando sábado de manhã para quê? Para ganhar a vida. É isso que você quer para a sua filha?”

A insinuação sobre a prostituição das meninas é evidente, bem como a apologia de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, que aparece, no contexto da frase, em sua expressão: “pintou um clima”. Como pode “pintar um clima” entre o Sr. Jair Messias Bolsonaro e garotas menores de idade? Isso tem nome: pedofilia.

Neste domingo (16), após a repercussão do vídeo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede – AP) enviou uma petição ao STF para que ocorra a investigação do presidente. Ainda em entrevista à Folha de S. Paulo, afirmou que “a confissão do presidente Jair Bolsonaro pode ser enquadrada em diversos tipos penais”.

Bolsonaro se defendeu em uma live na madruga de domingo, mostrando que a questão atingiu duramente o seu “perfil” de conservador (ver aqui). Nela, o presidente novamente insinua que meninas se arrumando num sábado de manhã estariam se prostituindo e que o que ele fazia era denunciar a situação e pedir que não deixassem o Brasil se tornar Venezuela para as nossas filhas não terem que fugir do Brasil e passassem por esta situação.

Nós somos comunistas, marxistas. E temos uma moral: Bom é tudo o que une os trabalhadores e os explorados. E, sim, seria muito bom se pudéssemos enganar os inimigos para vencer uma disputa. Mas, jamais, podemos enganar o nosso lado. E quando estamos numa disputa eleitoral, nós queremos falar para os jovens, para os trabalhadores, para os explorados de todas as formas para ajudá-los a compreender a verdade da exploração capitalista e os horrores que ele produz, inclusive uma figura nefasta como o atual presidente.

A fala de Bolsonaro na entrevista de sábado (15) é repugnante. E não precisamos de adjetivos para deixar qualquer um que assista enojado. Mas, pior que isso, ele está contribuindo para destruir o trabalho paciente (ainda que socialmente não resolva o problema) e cuidadoso que faz uma organização social de apoio aos refugiados:

“Esse dia foi uma ação que acontecia na casa. Uma brasileira que fazia curso de estética vinha até aqui para fazer a prática do que estava aprendendo, de corte de cabelo, design de sobrancelha. Então, nós reuníamos um grupo de mulheres e era isso o que acontecia naquele dia” (UOL, 16/10)

Ainda de acordo com a mulher, havia adolescentes na casa naquele dia, entre elas, sua filha e sua sobrinha.

Comentando o caso, uma amiga minha que costuma fazer trabalho social, me disse que “é muito duro a pessoa manter uma ação social. Sempre existem os problemas, claro, e eles existem mesmo. Mas os problemas do dia a dia o pessoal supera. Agora, calúnia acaba com um trabalho. Esse tipo de calúnia fecha a porta de uma instituição. Muito triste tudo isso”.

Sim, Bolsonaro é algo que nasce da podridão capitalista e esta música do grupo Francisco, el hombre mostra bem o que ele representa:

A reação de jovens, das mulheres, de todo trabalhador frente a isso tem que ser uma só: “Fora Bolsonaro, vamos votar Lula para acabar com isso”. Nós, da Esquerda Marxista agregamos: Bolsonaro não nasceu do ar, ele é produto do capitalismo, da exaustão de um sistema econômico que não consegue mais se sustentar e deixa escapar lama e podridão por todos os lados.

Queremos o fim do governo Bolsonaro, lutamos por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais, lutamos pelo socialismo internacional.

Janones e as Fake News

Neste segundo turno o método Janones, de combater fogo com fogo, de utilizar as redes sociais como o outro lado usa, espalhou-se. Nós compartilhamos da raiva de milhares de mulheres, de ativistas, que estão postando “Bolsonaro pedófilo”. Mas, para os marxistas, a raiva tem que ser expressa de forma mais racional.

A defesa de Bolsonaro no domingo de manhã fala o óbvio: que ele divulgou em live e, portanto, não tinha nada a esconder. Mas o que ele não explica, porque não tem explicação possível, é porque ele insinuou (o personagem é inteligente o suficiente para saber que uma acusação direta poderia colocá-lo em maus lençóis) que havia prostituição infantil.

Mais ainda, ao deixar destilar a raiva, esquece-se o central: Bolsonaro provavelmente confessou um crime. Ao insinuar que havia prostituição infantil e não acionar o Conselho Tutelar, ele pode ter cometido um ato criminoso. Um cidadão comum, se pensasse isso, seria moralmente reprovável. O Presidente da República, que tem em sua obrigação cumprir e fazer cumprir a lei, ao não fazer a parte de “fazer cumprir a lei” não cumpriu a sua função. Isso deve ser denunciado amplamente, além de ele ter admitido que “pintou um clima” entre ele e as menores de idade.

Ao mesmo tempo, o método que tem utilizado alguns setores de oposição ao governo deve ser questionado. Vemos inclusive informações mentirosas que Bolsonaro teria chamado um vereador no Rio que foi cassado por atos pedófilos para participar da live em sua defesa. Ele não fez isso. Divulgar tal mentira não ajuda os trabalhadores. A verdade é a melhor forma de denunciar o cidadão é fazer a denúncia política.

Aliás, toda esta campanha à la Janone serve para varrer para baixo do tapete o que os trabalhadores precisam – que se pare de pagar a dívida, que se invista em saúde e educação, que tenhamos escolas e universidade para todos, que se diminua a jornada de trabalho para ter emprego para todos, que se revoguem as reformas de previdência, trabalhista e administrativa, que as privatizações sejam anuladas, que aumente o salário mínimo e se reajustem todos os salários.

Sim, este é o combate que os trabalhadores vão continuar tendo que fazer depois das eleições. E é a sua situação econômica que leva a este combate. Claro está que é melhor e mais fácil continuar este combate com o principal inimigo, Bolsonaro, derrotado. Por isso a nossa posição:

  • Fora Bolsonaro, vote Lula 13!
  • Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
  • Viva o socialismo internacional!