Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas

A “nova onda” da Covid-19 no Brasil

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 09, de 25 de junho de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

Este número do jornal traz uma série de matérias sobre a situação da epidemia em algumas capitais e cidades do Brasil. O número de mortos já ultrapassou 50 mil e, no mundo, só está abaixo do número de mortos existentes nos EUA. A taxa de crescimento do número de contaminados e de mortes é uma das maiores, se não a maior do mundo.

As matérias sobre os estados e capitais mostram que, com a notável diferença que Bolsonaro é mais “direto” (para não falar uma palavra mais pejorativa), a política em todos os estados segue a mesma – abertura do comércio, funcionamento das indústrias, para manter a “economia girando”. Diante do crescimento de novos casos e mortes das últimas semanas, algumas prefeituras, como a de Florianópolis, anunciam medidas parciais de retorno a algumas restrições de circulação de pessoas, mas que procuram não impactar os interesses da burguesia.

Só que este “giro” da economia custa milhares de vidas, que são pagas pelo proletariado e não pela burguesia. Como disse o Presidente da XP investimentos, Guilherme Benchimol[i]:

“Acompanhando um pouco os nossos números, eu diria que o Brasil está bem. Nossas curvas não estão tão exponenciais ainda, a gente vem conseguindo achatar. Teremos uma fotografia mais clara nas próximas duas a três semanas. O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo”, disse Benchimol em transmissão ao vivo do jornal O Estado de S. Paulo.

Esta curta análise concentra tudo o que a burguesia pensa: para nós, o pior já passou, para os outros é deixar funcionar a “imunidade de rebanho” que, com o desemprego atual, sempre haverá operários para as fábricas, para dirigir ônibus, para os aplicativos de entrega, para servir mesas em restaurantes, vendedores em lojas, etc. E assim, segue a vida (ou, melhor dizendo, a vida e a morte dos proletários).

A promessa do SUS mostrou-se de uma falência absurda. Saúde pública para todos? Mas os postos de atendimento foram todos terceirizados, uma boa parte da rede é privada que também “atende o SUS”, os hospitais de campanha serviram para uma corrupção generalizada e a maioria não conseguiu ser instalada. A compra de respiradouros virou uma corrida para ver quem ganhava mais as custas do desespero de doentes e familiares, que viam seus parentes morrerem e os tais respiradouros nunca existiam.

Os contratos com as redes privadas nunca chegaram a existir, para “utilizar os leitos privados” e nunca se teve a mínima ideia de quantos leitos estavam disponíveis e que poderiam ser ocupados. A Sacro-Santa propriedade privada é mais respeitada que a vida, apesar do número de leitos privados ser comparável ao número de leitos nos hospitais públicos. E isto vai voltar a se tornar dramático com a nova aceleração da transmissão, depois da “reabertura” da economia.

Para não dizer que só falamos do geral, os jornais publicam no dia de hoje a notícia de que existe um excesso de testes não utilizados da rede pública do Estado de São Paulo, disponíveis gratuitamente para municípios, enquanto estes pagam fortunas para testes feitos nas redes privadas. Providências mínimas, que deveriam ser tomadas com este dado, como a quebra imediata desta cadeia de gastos inúteis que só serve para enriquecer donos de redes de saúde ou, mesmo que isto não fosse feito, a utilização desta capacidade de testes de São Paulo para estados do Norte, Centro-Oeste e Nordeste que não tem laboratórios de testagem nem são pensadas! Afinal, querer alguma racionalidade de um sistema em que a única racionalidade é a busca de lucros seria…absurda. Para combater com um mínimo de eficácia esta epidemia que ceifa mais de mil vidas por dia no Brasil, que já matou mais que a guerra do Paraguai, é necessário derrubar o Governo Bolsonaro e abrir caminho para o socialismo.

[i] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/05/brasil-esta-indo-bem-no-controle-do-coronavirus-e-pico-nas-classes-altas-ja-passou-diz-presidente-da-xp.shtml