A política da saúde e a luta das mulheres: o capitalismo lhes nega o direito de existir!

Estudos demonstram o alto índice de mortalidade materna associada ao coronavírus. De acordo com eles, o Brasil tem 77% das mortes de gestantes e puérperas por Covid-19 contabilizadas no mundo. Isso quer dizer que o Brasil foi o país onde mais mulheres grávidas e no pós-parto morreram vítimas da Covid-19 (mais do que a soma de todos os outros países!). Considerando a subnotificação, certamente este índice é muito maior, dado que apenas as gestantes que apresentam sintomas graves são testadas.

Como não há testagem em massa e testagem específica para esse segmento, o número de contaminações e mortes pode ser muito superior ao que vem sendo registrado e anunciado. Ou seja, são mais de 200 bebês que perderam suas mães, mais de 200 pais, mães, esposos ou esposas, familiares e amigos que tiveram suas vidas impactadas por este sistema podre que só visa o lucro!

A situação da saúde no Rio de Janeiro está caótica. Em meio à pandemia, já se viu quase de tudo: denúncias de corrupção pela compra de respiradores, profissionais da saúde demitidos, atraso no pagamento de salários e benefícios como vale-transporte, clínicas da família fechadas, trabalhadores sem acesso aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), inclusive em hospital de campanha, profissionais que adaptaram sacos plásticos como capote na ausência de EPI, entre outros absurdos que demonstram a falta de investimentos na saúde, desde a atenção básica à de alta complexidade.

Neste contexto, quem mais sofre é a classe trabalhadora que vive nos bairros proletários (as favelas), locais onde as ambulâncias dificilmente sobem. Além disso, o fato de 695 unidades de saúde estarem localizadas em áreas de risco afeta o direito de acesso à saúde, seja pelas operações policiais, seja pelas divisões territoriais entre facções. Isso impede que moradores de determinados bairros busquem atendimento em clínicas da saúde localizadas em bairros vizinhos, controlados por facção rival.

Além dos problemas mencionados, é recorrente que as unidades de saúde localizadas em territórios de violência urbana fechem parcial ou totalmente, que suas equipes sejam incompletas e altamente rotativas – dado o receio dos profissionais da saúde em aceitarem a lotação ou permanecerem trabalhando em tais condições. Isso prejudica o acompanhamento de pacientes e impacta também as gestantes, que necessitam das consultas periódicas do pré-natal. A fala a seguir, demonstra o uso de unidades de saúde pelo crime organizado:

“Escolas, creches e hospitais são invadidos e utilizados como esconderijo, guarda de drogas e armas, coação de professores, alunos, médicos, enfermeiros e pacientes, entre outras atrocidades praticadas pelo crime organizado”.

Isso evidencia a falência da política pública da saúde oferecida para a classe trabalhadora. Pessoas morrem porque as ambulâncias (em número insuficiente e em mau estado de conservação) chegam atrasadas ou nem chegam onde deveriam. Há também a superlotação nas unidades de saúde, UTIs sem vagas, salas de espera lotadas, mal ou não higienizadas, sem separação dos pacientes com suspeita de Covid-19, inclusive para as gestantes, que ficam expostas à contaminação.

Outro fator emblemático do descaso do Estado burguês com a saúde da classe trabalhadora e das gestantes é o fato de o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla — primeira unidade “dita” de referência para tratar Covid-19 — abrigar uma maternidade. Em meio a esse cenário, “comemorou-se” no dia 28 de maio o Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, mas não há nada a se comemorar, apenas lamentar e muito pelo que lutar.

Historicamente, são altos os índices de mortalidades materna e infantil no Brasil, e a pandemia agravou esses números, considerando-se também as condições da política pública de saúde brasileira. Além desses fatores, quando se volta o olhar para a política da saúde vê-se que há uma questão de gênero. As mulheres estão expostas a diversas formas de violência (psicológica, física, sexual, patrimonial e obstétrica). São constantes os ataques à sua integridade e à continuidade de suas vidas, seja dentro de casa, na rua ou em instituições destinadas aos seus cuidados, como a saúde.

No início da pandemia, foi dito que as grávidas não estavam no grupo de risco. Isso limitou o desenvolvimento de ações e políticas voltadas para garantir a vida das gestantes e de seus filhos. Hoje, o alto índice de mortes mostra o contrário. Concomitante a isso, temos a situação precária da saúde no Brasil, que recebe investimentos pífios: 4,21% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 foram destinados à saúde. Contudo, o pagamento de juros e amortizações da dívida abocanha a maior parte do PIB, 38,27%, enquanto brasileiros e brasileiras morrem aos montes por falta de investimentos básicos que poderiam garantir suas vidas. Ou seja, para o Estado brasileiro, repassar dinheiro para a burguesia é mais importante que garantir a nossa vida. Há uma escolha e um posicionamento claríssimos!

Dentre os problemas enfrentadas pelas gestantes estão o pré-natal de baixa qualidade, os longos meses para conseguir marcar uma consulta ou um exame. Além disso, existem as condições de vida precárias da classe trabalhadora, que não conta com a alimentação adequada para si, prejudicando o desenvolvimento da gravidez, e que vive em bairros sem acesso à água potável encanada, sem esgoto tratado, sem pavimentação, em habitações mal arejadas, pequenas e com quantidade de moradores além do que deveria suportar.

A questão da saúde das mulheres negras tem como agravante a dupla opressão a que são submetidas (gênero e cor), materializada no índice de mortes entre elas, que é maior em comparação a mulheres não negras. O racismo faz com que não sejam atendidas da forma adequada e tocadas da forma como que se deveria, dentre outras questões que sofrem pela cor da pele.

Essas barreiras que existem para o pleno acesso à saúde pública – cada vez mais sucateada – nos mostram o que a saúde significa para o capital: uma mercadoria e não direito; e o que a vida da classe trabalhadora significa para o sistema capitalista: algo descartável, pois se morre uma há mais outras para vender sua força de trabalho. A única linguagem que o sistema capitalista entende é a busca pelo lucro. Este Estado está a serviço da burguesia, não da classe trabalhadora, e as mortes das gestantes e puérperas mostram isso.

As mortes das gestantes e puérperas mostram também que as opressões de gênero e o racismo são pilares de sustentação do sistema capitalista e que, para enfrentar essas opressões na raiz, é necessário combater por uma sociedade sem classes. Por isso combatemos o sistema capitalista, organizando nossa luta hoje pela ampliação e defesa dos direitos das mulheres, pela construção do socialismo. E essa luta hoje envolve também a luta contra Bolsonaro, que está a serviço do capital e orquestra ataques aos direitos, à dignidade e à integridade das mulheres, ataques esses que podem custar a nossa vida.

Organize-se! Junte-se a nós. Faça parte de um Comitê de Ação pelo Fora Bolsonaro.

  • Lutamos por igualdade de direitos!
  • Lutamos pelo socialismo!
  • Abaixo o machismo!
  • Abaixo o racismo!
  • Abaixo o capitalismo!

Fontes:

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/07/14/brasil-tem-77percent-das-mortes-de-gestantes-e-puerperas-por-covid-19-registradas-no-mundo-diz-estudo.ghtml

https://oglobo.globo.com/sociedade/brasil-ja-teve-135-gravidas-mortas-por-covid-19-diz-ministerio-da-saude-24569310

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/08/05/quase-18-mil-escolas-e-695-unidades-de-saude-do-rj-estao-em-areas-dominadas-pelo-crime-organizado-diz-policia.ghtml

https://auditoriacidada.org.br/conteudo/grafico-do-orcamento-federal-2019-2/

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/07/30/mortes-por-covid-19-sao-o-dobro-entre-mulheres-gravidas-pretas-em-relacao-a-brancas-no-brasil-mostra-estudo.ghtml