As mobilizações no Chile e o distúrbios na Inglaterra são exemplos vivos.
A primavera Árabe
Mohamed Bouazizi é o nome do jovem tunisiano que ateou fogo em seu próprio corpo. Ele como muitos jovens na Tunísia era graduado e não tinha emprego. A solução que encontrou para sobreviver foi vender frutas e legumes, mas a polícia o deteve por não ter licença. Em um gesto de desespero ele ateou fogo em seu próprio corpo, morrendo algumas semanas depois.
Essa ação foi o início da primavera árabe que levou milhares de pessoas às ruas e praças da Tunísia derrubando o ditador Ben Ali. Mohamed Boazizi não foi o único a cometer suícidio, nem o principal motivo da revolução. Foram anos acumulando revoltas contra a corrupção, opressão, pobreza e injustiças até que explodiu com o suicídio do jovem.
A crise capitalista agravou as condições de vida das pessoas. Os povos árabes foram os primeiros a se mobilizar. Cansados da opressão do sistema capitalistas e das ditaduras eles desmostraram que as pessoas comuns, jovens e trabalhadores unidos, podem mudar suas vidas.
E ao demostrar que isso era possível, o povo árabe serviu de exemplo para o mundo todo. Espanha, França, Estados Unidos, Grécia, só para ficar em alguns exemplos, organizaram protestos inspirados pela revolução árabe. Como nos paises árabes, é a juventude que não consegue ver perspectivas em nossa sociedade e por isso normalmente a primeira a se mobilizar.
Estudantes Chilenos seguem o exemplo árabe
Lorena Mussa é uma estudante secundarista chilena expulsa de sua escola por convocar uma assembléia através do facebook para discutir a educação em seu país. Em entrevista ao coletivo Barricadas, ela dá a seguinte resposta sobre a relação das manifestações no Chile com as que ocorreram nos países árabes:
“Sem dúvida, há uma relação muito forte entre os atos chilenos e todas as mobilizações que estão acontecendo no mundo. Pessoalmente, acredito que é a indignação: indignação no caso dos países árabes, indignação na Espanha e indignação no Chile. Como disse um economista: o Chile é o único país que privilegia a liberdade de empresa sobre o direito à educação.”
O modelo da educação Chilena
No Chile entre os anos de 1970 e 1973 (governo Allende), o gasto público com a educação representava 8,9% do PIB e a financiava integralmente. No fim da ditadura militar essa porcentagem se reduziu para 3% e se encaminhava o setor para a privatização.
Em 1980, através de uma contra-reforma proposta pela ditadura, o Estado passou a financiar as escolas públicas e privadas, dando subsídio de acordo com o número de alunos. Sucessivamente permitiu a todos os estabelicimentos de ensino cobrar taxas dos alunos e receber investimentos privados sem perder o financiamento público.
Um estudo realizado em 2007 pelo Conselho Acessor de Educação Superior revelou que só 16% dos filhos das famílias operárias conseguem acesso ao ensino superior, enquanto que nas famílias mais ricas essa porcetagem é de 60%.
Isso ocorre devido ao preço das mensalidades. É preciso pagar para estudar no Chile. De cada 100 dólares pagos para se estudar na educação superior, 84 são pagos diretamente pelos estudantes e por suas famílias. Agora, que vivemos uma época de crise, os cortes são comuns e fica mais difícil arcar com os custos.
Em 2006, os estudantes chilenos foram as ruas em manifestações, que reuniram 1 milhão de estudantes. As manifestações ficaram conhecidas como revolta dos pinguins, devido uniforme dos estudantes secundaristas lembrar as cores dos pinguins.
Assim, como em 2006, em 2011 a luta dos estudantes no Chile é a luta pela educação pública gratuita e de qualidade contra o ensino pago.
A organização estudantil
As mobilizações no Chile começaram por estudantes e professores, com várias escolas e universidades ocupadas. As manifestações reuniram mais de 400 mil estudantes, onde aparece como grande aglutinadora a Confederação dos Estudantes do Chile (CECH).
As reivindicações dos manifestantes é o aumento do investimento público na educação, educação pública, gratuita e de qualidade para todos e pelo fim do PSU (prova de seleção universitária), algo semelhante ao nosso vestibular.
Vários atos criativos foram oragnizados. Em um deles os estudantes se vestiam de super heróis, em outro organizaram um beijaço, com vários casais de estudantesaos beijos com o objetivo de demonstrar o caráter pacífico das manifestações.
Mesmo assim, o governo de direita de Piñera autorizou a utilização do canhão de água contra os estudantes e probiu várias manifestação. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) demonstrou a preocupação com a força utilizada contra as mobilizações no Chile. Já foram presos mais de mil pessoas nos últimos dias.
Aliança operária-estudantil
A Central Única de Trabalhadores do Chile (CUT) adiantou sua greve geral que estava prevista para setembro para os dias 24 e 25 de agosto. Outros setores de trabalhadores tem se somado às manifestações dos estudantes. O caminho seguido pelos estudantes chilenos deve ser o da aliança operária-estudantil.
Devem reforçar as organização estudantis as centrais sindicais, formando uma unidade contra o governo Piñera.
Juventude inglesa e os distúrbios
Os distúrbios na terra da rainha se iniciaram após Mark Duggan ter sido morto pela polícia, resultado da operação Trident, que investiga crimes com arma de fogo nas comunidades caribenhas e africanas de Londres.
Segundo a polícia, ele haveria morrido em um tiroteio, mas as investigações mostram que só houve tiros por parte da polícia. Isso gerou uma grande revolta na população. Uma marcha foi liderada pela família de Mark até a delegacia para cobrar explicações da polícia.
A polícia não deu explicação nenhuma, além de deixar as pessoas esperando por horas. Isso revoltou ainda mais as pessoas, que iniciaram um tumulto. A morte de Mark foi deixada para segundo plano e as manifestações se tornaram resultado da frustação e raiva das pessoas que moram nas áreas pobres, com grande desemprego.
Rapidamente os tumultos se espalharam pela cidade. Jovens tomam as ruas, vandalizam e saqueiam as lojas. Nos confrontos com a polícia os jovens usam paus, pedras, garrafas, extintores e artefatos explosivos caseiros. A polícia não consegue reagir. O primeiro ministro Inglês chegou a cogitar a possibilidade de convocar o exército.
Qual o motivo dos distúrbios?
A classe dominante inglesa e seus representantes, sejam políticos ou jornalistas, não conseguem explicar nada.
Para eles tudo se resolve com os tribunais e a repressão. Culpam o rap e sua “apologia” ou o consumismo. Culpam tudo, menos o sistema capitalista. Todos são criminosos para eles. Sim, deve haver alguns criminosos, entre todos os manifestantes, mas a maioria tem outros motivos.
Para eles não é simples ver que um jovem, com emprego e uma vida digna, não precisaria saquear; que os cortes feitos por eles nos benefícios afetam diretamente a população mais carente!
Os marxistas concordam com o vandalismo e os saques?
Os marxistas não concordam com vandalismos e saques, mas não fazemos o discurso da burguesia. Para nós esse tipo de ação é inútil e não contribui para a mudança da sociedade. Ela serve muito mais para a burguesia, que a utiliza para condenar todo tipo de mobilização. Por outro lado muitas das lojas saqueadas, depredadas e incendiadas pertencem a pequenos comerciantes, que também sofrem com as políticas do governo, tanto quanto os trabalhadores.
A maioria desses jovens está sem perspectiva e todos os dias são bombardeados com a propaganda de um mundo que só uma minoria consegue ter. Sem acesso a essa vida e sem uma organização com programa que lhe dê uma perspectiva de ação, estes jovens acabam tomando atitudes de forma individual. Os distúrbios são produto de uma massa impotente.
É só o começo…
O sistema capitalista tem privatizado os lucros e estatizado as dívidas. O desemprego aumenta junto com o custa de vida, que deixa a situação mais difícil aos trabalhadores e jovens de todo o mundo. As mobilizações no Chile e os distúbios na Iglaterra são apenas o início do que está por vir.
Se as ditaduras árabes caíram diante da mobilização dos trabalhadores e jovens em reação à crise, não seria estranho que ocorresse o mesmo com governos que não atendem os trabalhadores e jovens em outras partes do mundo.