Foto: Roberto Parizotti/CUT

A Reforma da Previdência e a oposição de fachada da esquerda

Tira-se o bode da sala, ficam as traíras

Os pontos da Reforma da Previdência que ainda permanecem em discussão na Comissão Especial da Câmara, apresentados pelo parlamentar Samuel Moreira (PSDB) trazem algumas alterações em relação ao texto original no que toca a instituição de um sistema de capitalização, ao Benefício de Prestação Continuada, a aposentadoria rural e a inclusão dos Estados e Municípios na Reforma. Apesar de declarações como a do governador do Piauí Wellington Dias (PT) que comemora dizendo: “Tiramos o bode da sala. Agora, há condições de apoiarmos a reforma”, as mudanças nesses pontos estão longe de significar uma vitória para classe trabalhadora. Tratam-se apenas de modificações ilusórias, que dão tempo para os partidos traidores negociarem apoio.

Ao tratar da retirada dos estados e municípios do projeto, a contradição que tem se apresentado diz respeito ao posicionamento dos partidos de oposição, onde deputados e governadores não entram em consenso. Nas palavras do governador petista Rui Costa, da Bahia, o “desgaste do governo não interessa a ninguém” afirmando que para isso é preciso exercitar o diálogo entre os partidos. São feitos acordos para que a “oposição” não obstrua as votações em troca do direito a falar na comissão, o que acelera a votação conforme o desejo do governo.

Diante disso é estarrecedor que a direção da CUT venda a derrota da classe publicamente lançando uma nota cínica que considera o substitutivo apresentado na comissão especial como uma “vitória parcial”.

Entretanto, não devemos perder de vista que em grande medida esses falsos recuos no projeto da contrarreforma devem-se às manifestações dos dias 15 e 30 de maio e 14 de junho, que demonstraram o tamanho do descontentamento da juventude e da classe trabalhadora em relação a esse governo, colocando inclusive as direções contra a parede. A despeito disso, as mobilizações das centrais seguem a mesma toada dos últimos anos, deseducando os trabalhadores encorajando-os a ficarem em casa no dia da Greve Geral de 14 de junho, por exemplo.

Fazendo vistas grossas a demonstrações de força e organização dos trabalhadores como na gigantesca passeata em São Bernardo do Campo de 14 de junho, as orientações públicas mais recentes do presidente da CUT dizem que mobilizações devem ser feitas pelas redes sociais e com pressão sobre os deputados. Algum dirigente sério ainda tem alguma ilusão que pressão em deputados, abaixo assinados e greves de pijama vão garantir a permanência de direitos?

No entanto o que poderia se configurar numa “paralisia da CUT” na verdade cumpre o papel de desencorajar os trabalhadores a cruzarem os braços por tempo indeterminado e adia o que de fato poderia colocar o governo Bolsonaro e tudo o que ele representa no chão.