Foto: Etan Liam, Flickr

A repressão em Hong Kong e a essência do Partido Comunista Chinês

No dia 6 de maio de 2021 o governo chinês anunciou a condenação de Joshua Wong, um dos principais ativistas pelas liberdades democráticas em Hong Kong. Wong foi condenado a dez meses de prisão pela participação em uma manifestação não autorizada, sob o pretexto da pandemia da Covid-19. A atividade em que Wong participou, e que mobilizou milhares de jovens em vários pontos de Hong Kong em 2020, foi uma vigília realizada anualmente há trinta anos em memória dos mortos no massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989 e que se tornou um tabu na China continental. Hong Kong era o único lugar da China onde as vigílias ainda eram permitidas.

O histórico de ativismo político de Wong vai além deste episódio. Ele já se encontrava detido desde dezembro de 2020 por participar de protestos contra as leis de repressão em 2019 e das eleições primárias para o Conselho Legislativo de Hong Kong no ano passado. Ao declarar-se culpado pela participação na vigília, Wong recebeu esta condenação de maio. Além de Wong, outros ativistas também foram detidos.

O Protesto da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989, foi um levante de centenas de milhares de jovens descontentes com o governo tanto pela falta de liberdades democráticas quanto pela queda nas suas condições de vida. Este movimento que foi duramente reprimido, passando para a história como Massacre da Praça da Paz Celestial, contabilizando cerca de 7 mil mortos, foi o efeito da restauração capitalista iniciada por Mao Tsé-Tung já nos anos 1970, e acelerada pela fração da burocracia comandada por Deng Xiaoping nos anos 1980, seu sucessor.

Esses eventos, como a repressão atual às manifestações em Hong Kong e o Massacre em Pequim de 1989, são o melhor exemplo de como aquele Estado operário deformado desde a origem e degenerado em uma burocracia autoritária lida com as massas trabalhadoras em momentos de crise do capitalismo.

Portanto, não é sem motivo o recrudescimento da repressão às manifestações que reclamam a falta de democracia na China. O documento de perspectivas mundiais publicado pela Corrente Marxista Internacional (CMI) já alertava para a correlação entre a instabilidade no capitalismo chinês e o aumento da repressão. Naquele momento alertamos que a China passava, dialeticamente, do papel de força motriz do capitalismo que desempenhou no último período à parte do problema. A alta produtividade adquirida pelo estabelecimento da economia planificada lhe impôs a necessidade imperiosa de exportar grande parte de sua produção, uma vez que seu consumo interno não é capaz de absorvê-la sozinho. O que por sua vez lhe coloca em conflito com as grandes economias da Europa e com os EUA.

Analisando os impactos da pandemia sobre o regime chinês, os camaradas da CMI-Taiwan já sintetizaram o papel desempenhado pelo regime de Pequim:

“[…]o sistema capitalista, restaurado pelo próprio PCCh, exige que o Estado aplique um regime totalitário brutal para bloquear a resistência potencial da massiva classe trabalhadora da China e garantir a acumulação máxima e mais fluida possível de capital e lucros. O medo que o regime tem da classe trabalhadora o leva a negar continuamente aos trabalhadores os direitos democráticos mais elementares, como a liberdade de expressão, na tentativa de impedir o desenvolvimento da consciência e da solidariedade de classe. Portanto, além da repressão e da transferência da culpa, o regime do PCCh não possui as ferramentas de que seus colegas da classe dominante ocidental desfrutam. Estes últimos podem utilizar jogos políticos burgueses e líderes reformistas dos trabalhadores para difundir ou desviar a fermentação que ocorre em baixo”.

Neste mesmo artigo, os camaradas de Taiwan relatam a situação de Hong Kong diante da pandemia iniciada na China. Hong Kong era a única fronteira aberta com a China continental, o que fez daquela região um grande foco do vírus. Uma vez que os médicos de Hong Kong tiveram seu pedido de fechamento de fronteira negado – uma medida para conter o avanço do vírus – entraram em greve de uma semana no início de fevereiro de 2020. Mais de 4,5 mil profissionais da saúde pararam. Este caso, assim como os movimentos anti-extradição ocorridos em Hong Kong entre 2019 e 2020, são um reacender da chama da luta dos trabalhadores.

O que podemos esperar para o próximo período é a intensificação do que já vimos até o momento, como alertaram nossos camaradas de Taiwan:

“À medida que a crise econômica afeta a China, todo esse ressentimento acumulado, em algum momento, surgirá e aparecerá como uma luta de classes mais generalizada. Isso é tão inevitável quanto a noite segue o dia”.

A saída para os trabalhadores de Hong Kong e da China continental passa pela construção de uma ação socialista independente e internacionalista.

Referências:

Notícia sobre a condenação de Joshua Wong

O mundo no limite: a revolução iminente

Dinamite nas fundações: Alan Woods sobre a crise do capitalismo mundial

Sobre o impacto da pandemia na China e as condições de Hong Kong