A revolução mostra a cara na Europa e no Oriente. O STF ataca. O reformismo em crise. Avante em 2013!

Vai-se um ano marcado pela crise do capitalismo e pela resistência dos trabalhadores. Um novo ano se avizinha com a promessa de muitas lutas em defesa das conquistas, dos direitos e da vida da classe trabalhadora.

Os EUA estagnados, a Europa em recessão, a China não cresce mais como antes e todo o mundo segue apreensivo sobre o futuro da economia global nessa crise sem solução dentro do capitalismo, ou melhor, com uma única solução, um longo período de esmagamento das condições de vida dos trabalhadores.

A crise revela a enfermidade do sistema capitalista, milhões de trabalhadores estão sendo jogados no desemprego e na miséria. Para se ter uma ideia da gravidade de suas consequências, o aprofundamento da crise tem provocado aumento no número de suicídios. Na Grécia, já se contam 700 suicídios desde janeiro, número 33% maior do que no ano anterior. Torna-se também recorrente um fenômeno difícil de explicar, jovens que promovem assassinatos em massa em escolas para depois colocarem fim à própria vida, como o caso das 20 crianças assassinadas nos EUA por um jovem de 20 anos na última sexta-feira e, do outro lado do mundo, no mesmo dia, outras 16 crianças mortas numa escola na China por um jovem armado com uma faca. Que tipo de sociedade propicia a epidemia de tamanha monstruosidade?

O capitalismo mata o otimismo humano, pois o futuro que ele nos reserva é sombrio. Nem a maior potência imperialista sai ilesa, o presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, disse que os últimos dados “confirmam que o ritmo moderado de crescimento continua sendo insuficiente para gerar progressos importantes no combate ao desemprego”. O endividamento dos EUA passa dos 16 trilhões de dólares. Até o final do ano, democratas e republicanos devem fechar acordo para reduzir gastos e aumentar impostos, um acordo necessário para evitar o chamado “abismo fiscal”, o corte abrupto nos gastos públicos que provocaria a retirada de 600 bilhões de dólares da economia americana a partir do dia 2 de janeiro.

A crise de 2008 teve seu epicentro nos EUA e gerou abalos profundos na economia europeia. Através da política de austeridade, a crise na Europa vem consumindo empregos, escolas, proteção social, além de aumentar a pobreza, a desigualdade e a insegurança. Recentemente, o banco espanhol Santander anunciou a demissão de 5 mil funcionários em todo o mundo, provocando já 1280 demissões só no Brasil.

A China, por sua vez, desacelera frente a uma menor demanda internacional. A desaceleração da economia chinesa e os impactos que isso poderá causar no crescimento e na estabilidade econômica global influencia numerosas economias por todo o mundo, inclusive a brasileira.

O mundo e o Brasil

Não existe país independente da economia global. Muito menos o Brasil. A China tornou-se o maior parceiro comercial do Brasil, passando os Estados Unidos em 2009. Atualmente corresponde a quase um quinto das exportações brasileiras, com uma concentração particularmente pesada em commodities (matérias primas e produtos animais e vegetais não industrializados ou semi-industrializados). O impacto da China no crescimento do Brasil elevou-se drasticamente nos últimos anos.

Os dados sobre o crescimento do PIB divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentaram um crescimento no terceiro trimestre de apenas 0,6%, número bem abaixo do 1,2% esperado pelo governo. Segundo o IBGE, o Brasil teve o pior resultado entre os países do BRICs: China teve aumento de 7,4%, Índia de 5,3%, Rússia de 2,9%. A perspectiva para 2012 é também que o crescimento do PIB brasileiro seja vergonhoso, pouco superior a 1%.

A indústria, especialmente a de transformação (responsável por transformar a matéria-prima em bens de consumo ou em itens usados por outras indústrias), foi o setor com maior queda (0,9%) e contribuiu para que o PIB não registrasse crescimento nesse terceiro trimestre.

A expectativa de crescimento foi diminuindo ao longo do ano, apesar de uma série de medidas e estímulos ao consumo (crédito fácil), desonerações (redução do IPI) e queda dos juros, o que tornou a surpresa com o baixo crescimento ainda mais acentuado.

Este resultado foi suficiente para levantar a ira do mercado mundial. Os correspondentes da revista britânica The Economist declararam que o Brasil tem sido “complacente” com os custos de produção do país durante os anos em que apresentou alto crescimento. No entanto, os analistas afirmam que agora estes problemas precisam ser enfrentados, através de ‘reformas estruturais’, como a tributária e trabalhista, para que o país retome a trajetória de crescimento.

“O Brasil se deu ao luxo de ser muito caro. Enquanto havia um crescimento alto, como de 7,5% em 2010, eles se recusavam a aceitar lições de outras nações. Porém, além do crescimento ruim este ano, as previsões para 2013 também foram revisadas para baixo. O país está pior em comparação com a América Latina, por exemplo…” Em vez de interferir, afirma a publicação, o governo “deveria redobrar os esforços para cortar o ‘custo Brasil’ (…) e deixar o espírito animal do setor privado rugir”.

Os analistas do The Economist não ficaram nem um pouco constrangidos em sugerir a demissão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, devido ao fraco desempenho do crescimento do PIB brasileiro. Conselho que se “esqueceram” de dar aos governantes da Inglaterra e de toda a Europa, apesar das suas economias estarem afundando.

A bondade do governo brasileiro aos capitalistas parece não encontrar limites. Com o objetivo de salvar a economia das multinacionais e da indústria, o governo tomou medidas de redução de juros e redução das tarifas de energia, o que na realidade significa redução dos custos das indústrias a custa do dinheiro público usando como fachada a diminuição do custo de energia para os pobres, sendo que mesmo a redução da tarifa de energia residencial, sem critérios e limites, acaba beneficiando mais os “Malufs” donos de grandes mansões do que o povo. Essas propostas, por outro lado, têm provocado a ira de setores do mercado financeiro internacional atingidos negativamente pelas medidas.

A burguesia se prepara criminalizando a luta e as organizações dos trabalhadores

A classe dominante compreende o que está por vir e prepara o terreno para impor todas as medidas de arrocho e retirada de direitos diante do aprofundamento da crise. A onda de criminalização de greves, de ocupações de terras e fábricas, desnuda o caráter reacionário do judiciário. O chamado “julgamento do mensalão” foi mais um ponto dessa ofensiva. A imprensa de forma ridícula classificou-o como o “maior caso de corrupção da história” e como o “julgamento do século”. O Supremo Tribunal Federal mostrou todo seu ódio de classe nesse julgamento realizando condenações sem provas, fazendo-nos lembrar dos tribunais da inquisição da Idade Média.

Ao final do julgamento, a cereja no bolo, a decisão da cassação do mandato de parlamentares que foram considerados culpados no processo. Esses juízes, que não foram eleitos pelo povo, consideram-se no direito de retirar o mandato de parlamentares escolhidos pelo voto popular. É a completa inversão de qualquer concepção séria de democracia.

Anos de submissão da direção do PT aos interesses da burguesia tem levado à desmoralização e destruição do partido. Essa direção tem sido incapaz até mesmo de defender com ações firmes e sérias o próprio partido e os seus dirigentes. Tudo em nome do respeito às instituições. O grau de covardia chega a níveis alarmantes e quanto mais se curvam, mais a burguesia se sente fortalecida para atacar, partem agora para pegar Lula.

A luta segue

Mas a luta de classes segue. Na Europa, a resistência dos trabalhadores se expressa mesmo com suas direções tentando conter e desviar o combate, podemos afirmar que o espectro da revolução ronda a Europa. Nos EUA, a luta de jovens e trabalhadores tem dado seus sinais como há muito tempo não se via. No Egito, as massas que derrubaram o ditador Mubarak na Revolução Árabe, voltam às ruas e ocupam novamente a Praça Tahrir para impedir a concentração do poder nas mãos de um “novo faraó”, o presidente Mohamed Mursi da Irmandade Muçulmana.

Mesmo no Brasil, as coisas começam a se mover, 2012 foi marcado pela grande greve dos servidores. Diversas categorias realizaram greves e arrancaram conquistas. A burguesia arma seu ataque, mas, apesar da direção reformista, a classe trabalhadora brasileira tem sua força e experiência para impedir a ofensiva da classe inimiga.

Nós, da Esquerda Marxista, prosseguimos em campanha por um Encontro Nacional de Trabalhadores em Defesa do PT, da CUT, Contra a Criminalização do Movimento Operário e Popular para organizar a anulação de todas as condenações e processos contra militantes sindicais e populares em luta (veja nossa carta nesse link: https://marxismo.org.br/?q=node/287). Apresentamos essa proposta na última reunião do Diretório Nacional do PT e, diante da resistência de alguns dirigentes, propusemos prosseguir o debate até a próxima reunião da direção, declarando, ao mesmo tempo, que a Esquerda Marxista estaria desde já em campanha com essa posição no movimento operário e popular. Chamamos todos a apoiar essa iniciativa, pois entendemos ser vital para o futuro de nossa luta que a classe trabalhadora organize a resistência. Caso contrário, a burguesia seguirá cada vez mais com seus ataques, criminalizando dirigentes e organizações, mandando para a prisão qualquer liderança, desmoralizando o combate em defesa dos interesses da classe trabalhadora.

A luta segue e o ano de 2013 promete ser quente. Nesse contexto se realizará a Conferência Nacional da Esquerda Marxista no final de março, todos estão chamados a contribuir política e financeiramente para a realização de uma vitoriosa Conferência que nos fortaleça para seguirmos na construção de uma organização revolucionária com influência de massas, sobre as bases do marxismo, no Brasil e no mundo.

Desejamos aos nossos militantes e apoiadores boas festas nesse final de ano e que iniciemos 2013 com as energias renovadas para os combates que nos aguardam. Pois até mesmo os reformistas, como o ministro Gilberto Carvalho, tiveram que concluir: “Em 2013 o bicho vai pegar”.