Crise provoca desemprego em massa para buscar elevar a taxa de exploração do trabalho.
Para um correto acompanhamento do ciclo econômico global os dados da produtividade da força de trabalho na indústria reguladora do mercado mundial são tão fundamentais quanto os dados da produção que começamos a verificar no boletim anterior. São, junto com os dados do desemprego da força de trabalho, partes orgânicas da crucial dinâmica de auge (superprodução) e encerramento (crise) de um ciclo periódico de acumulação de capital.
No seu mais recente relatório “Produtividade e Custos – 3º trimestre/2008”, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos indica que a produtividade da força de trabalho na “indústria de bens duráveis” daquela economia de ponta do sistema caiu pesadamente no terceiro trimestre (julho-setembro) deste ano. Vejamos a coisa mais de perto.
EUA; indústria de bens duráveis: produtividade, produto e custo unitário do trabalho (variação % sobre o trimestre do ano anterior).
Na virada do 4º trimestre 2007 para o 1º trimestre 2008, todos os indicadores de produtividade alcançaram crescimento cíclico recorde. A Produção por Hora (ou “produtividade física”) atingiu em 2007 / IV a assombrosa taxa de 5.9%. A Produção atingiu 3.9%. Isto é muita exuberância para uma produção industrial nacional na ordem de três trilhões de dólares anuais.
E o Custo Unitário do Trabalho (ou produtividade valor, índice que representa grosseiramente uma forma do valor da força de trabalho, e conseqüentemente a taxa de mais-valia ou de exploração) atingiu o auge de (–)3.2% no 1º trimestre deste ano. Deve-se lembrar que a diminuição deste indicador representa aumento da produtividade do trabalho em termos de valor. E, ao contrário, quando ele se eleva, é sinal que está caindo a taxa de produtividade (ou de exploração da força de trabalho, ou, finalmente, da taxa de mais-valia).
As contradições em tempo real
Verifica-se pelos números acima que na virada de 2007 para 2008 o capital mundial atingiu o auge da fase de expansão, iniciada em 2003. Isso prova a tese clássica da economia política dos trabalhadores, que é como Marx denominava sua própria teoria, segundo a qual a crise capitalista não ocorre no ponto mais baixo do ciclo, depois de um longo declínio de produtividade (ou de “rendimentos decrescentes” da economia vulgar), como imagina a maioria dos “marxistas”, mas sim no ponto mais elevado da produção e das forças produtivas do trabalho.
As contradições explodem no ponto mais elevado da curva. A superprodução de capital está pronta para explodir em novo período de crise no seu ponto de exuberância máxima. Exatamente no ponto em que o gigantesco desenvolvimento das forças produtivas do trabalho acumulado no decorrer do ciclo se choca estrondosamente com as estreitas relações de produção capitalistas. E tudo cai, tudo começa a cair.
A explosão manifesta-se abruptamente. Como se pode verificar nos números da tabela acima, a partir do 2º trimestre deste ano iniciou-se rápida reversão cíclica, com desaceleração e queda acentuada nos mencionados indicadores de produtividade da indústria reguladora do mercado mundial.
Nos dois últimos trimestres de 2008 todos os indicadores de produtividade desabaram. A produção por hora caiu das absurdas taxas do ano anterior para 2.5 e 1.9%. A produção (valor agregado) deslizou para 0.2 e, finalmente, para (-)2.6%. E o custo unitário do trabalho elevou-se para catastróficos 3.1%. É exatamente essa elevação do valor da força de trabalho (e queda da taxa de exploração ou de mais-valia) que leva os capitalistas a brecar a produção, os investimentos e iniciar um massivo processo de desemprego da classe operária em todo o mundo.
É neste ponto do ciclo que nos encontramos. Em outubro e novembro a situação da indústria mundial se agravou ainda mais do que os números acima estão a indicar para meses anteriores. O processo de paralisação da produção e uma violentíssima onda de desemprego da classe operária desenvolvem-se com muita rapidez em todos os cantos do mundo. Os capitalistas precisam recompor o exército industrial de reserva para patamares de produtividade e exploração superiores ao que existiram até o final do recente período de superprodução do capital, que, como vimos, prolongou-se até o início de 2008.
* Este texto foi publicado no boletim Crítica Semanal da Economia.